A Casa Lapão, em Vila Real, surgiu de uma outra casa onde hoje se localiza a fábrica.
Imaginemos por um breve momento que, nas discussões teológicas que tiveram lugar ao longo de séculos, a Igreja tivesse considerado o açúcar como um alimento a ser banido na Quaresma. Cruzes, canhoto, que arrepio. Abandonemos de imediato esse angustiante pensamento e louvemos São Tomás de Aquino que partiu em sua defesa. O que a nossa doçaria teria perdido se os médicos, que o consideravam um veneno tanto mais perigoso quanto o seu sabor era agradável, tivessem levado a melhor nessa discussão.
Em cima, pastéis de santa Clara, esq em baixo, pitos, dta em baixo, cristas.
Teríamos, provavelmente, perdido os pitos de Santa Luzia, as cristas de galo e os pastéis de Santa Clara, produzidos e aperfeiçoados ao longo de séculos pelas mãos das clarissas de Vila Real e de Coimbra.
A boa notícia é que estes bolos ainda existem e estão à venda numa lindíssima pastelaria de Vila Real, a casa Lapão. Além destes bolos, não deixe de provar um dos melhores pudins de amêndoa que já comi, feito na clássica forma de trevo.
A título de curiosidade, aqui vai o respectivo receituário conventual, retirado de
Doçaria dos Conventos de Portugal, de Alfredo Saramago.
Pitos de Santa Luzia (convento de Vila Real)
Trouxinhas de massa pouco fina recheadas com doce de abóbora.
Faça uma massa com 125 g de farinha, água e sal suficiente para tender e 75 g de manteiga. Estenda bem a massa de maneira a formar uns quadrados. Deite no meio doce de abóbora e dobre as quatro pontas do quadrado de massa para o meio de forma a fazer uma pequena trouxa. Leve ao forno a cozer e polvilhe com açúcar.
As fantásticas, fabulosas e deliciosas cristas
Cristas ou pastéis de toucinho do céu
Para mim, são os melhores desta trilogia (esta agora lembrou-me uma mania recente dos nossos pasteleiros).
Faça uma massa com farinha, 1 ovo, água e muita manteiga, numa proporção de maneira a que a massa possa ficar muito estaladiça e isso só se consegue com muita manteiga. Terá de encontrar a consistência à medida que vai tendendo. Deixe repousar a massa durante 1 hora. Estenda a massa e com uma carretilha corte rodelas de massa par que no meio ponha recheio de toucinho do céu. Dobre a massa e volte a cortar com a carretilha arredondando a forma de pastel. Leve ao forno a cozer.
Acertar no ponto da massa não é fácil. A receita do toucinho do céu consta do mesmo livro.
Os pastéis de Santa Clara, do Convento de Coimbra.
Pastéis de Santa Clara
Um aviso: não tentem fazer isto em casa...Nem sequer lhes vou passar a receita, que também está no livro citado.
Só em Trás-os-Montes havia 3 conventos de Clarissas (Bragança, Vila Real e Vinhais Clarissas), mas esta ordem estava espalhada por todo o país. Esta receita de pastéis de Santa Clara pertence ao convento de Coimbra e a sua origem é visível no tipo de massa: a mesma dos pastéis de Tentúgal (Convento de Tentúgal), outra casa da mesma região. A massa destes doces é uma obra-prima que resulta de um único ingrediente, a farinha, combinada com água e com uma técnica fabulosa de estender a massa até á infinitude da finura. O recheio é de ovos-moles, a prova de que Deus é infinitamente bom.
Convento de Santa Clara em Vila Real.
Casa Lapão
Rua da Misericórdia 53/55, 5000-653 Vila Real
Tel: +351 259 324 146
Para terminar o admirável pudim de amêndoa
O pudim de amêndoa em forma de trevo.