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Conversas à Mesa

Fim-de-semana em redor de Montemor-o-Novo 2ª parte




Montemor-o-Novo visto do castelo
Montemor-o-Novo visto do castelo
Dia 2

De manhã, depois de um pequeno-almoço cuidado e nutricionalmente bem pensado à base dos produtos da região e bem disposto numa lindíssima mesa de madeira talhada em bruto começa o segundo dia.

A minha primeira proposta é uma visita à Herdade do Freixo do Meio, que abastece o restaurante com alguns produtos agrícolas e animais. Nesta quinta a vida é feita em comunidade, há uma escola para as crianças, refeitórios, etc. Tem uma série de animais estabulados e outros em liberdade, nomeadamente porcos alentejanos. Especialmente adequado para quem tem crianças. 

 

 

 

 


A herdade é uma espécie de comunidade que reune gente nova de vários países a trabalhar na agricultura.
Outra hipótese é visitar a cidade de Montemor-o-Novo. Comece pelo Rossio e passeie calmamente pelas ruas (R. Nova e antiga R. Direita). Veja as Igrejas (da Misericórdia, São Francisco e do Calvário) e suba ao castelo. Ande pelas muralhas porque a vista vale a pena, embora lá em cima tudo esteja um pouco abandonado.
 O castelo

Aconselho um almoço leve, à base das famosas empadas alentejanas de Montemor-o-Novo. As minhas favoritas são as do Pólo Norte. Duas ou três delas com uma salada constituem uma óptima refeição.

À tarde, convido-os a viajar até à pré-história. Os sítios são vários e todos muito interessantes.

 


 Foto: Nuno Veiga/Lusa

 

As Grutas do Escoural estão integradas num parque muito agradável e de grande beleza natural. Descobertas em 1963, têm os clássicos desenhos rupestres do Paleolítico muito bem conservados. A visita carece de marcação prévia (que pode fazer aqui antes de ir).  Se não quer ir às grutas, mas gostaria de regressar à Pré-história, tem duas opções. O cromeleque dos Almendres (N 38º 33’ 28 00’’ W 8º 03’ 41 00’’), um dos monumentos megalíticos mais importantes da Europa, composto por monólitos datados de 6000 a.C., alguns deles com mais de 3 m de altura. Garanto que ficará impressionado. Se lhe tomar o gosto, ande mais 1 km e visite também o menir dos Almendres. Antes de ir, leia informação aqui.

A outra opção, é visitar a Anta Grande do Zambujeiro (N 38º 32’ 20 83’’ W 08º 00’ 51 57’’), um monumento fúnebre neolítico de grandes dimensões muito perto de Valverde. Pena que o trabalho de protecção esteja tão mal feito. Todas estas atracções pré-históricas ficam muito perto de Montemor e umas das outras.

  

 

Anta Grande do Zambujeiro, monumento funerário. Felizmente ainda estou do lado de fora!

 


O tamanho das pedras é monumental. Mais uma vez, é pena que tudo esteja tão mal tratado.

 

Nessa noite pode jantar no Arado, mesmo em Montemor. Para abrir, mais umas empadinhas, estas de camarão e alho-francês. Os filetes de polvo com migas de tomate foram a minha belíssima opção, mas a carta é bastante vasta. É incompreensível que um restaurante em pleno Alentejo não ofereça uma única sobremesa típica da zona, mas sim o sempre execrável doce da casa e profiteroles. 

 

 

 

 

                                               

Se prefere uma refeição mais memorável, e se tiver ido visitar os cromeleques, jante em Évora, onde as opções são numerosas. Mas essas ficam para o próximo roteiro.

 

  No hotel propõem ainda outras alternativas mais radicais para o fim-de-semana, como passeios de balão ou saltos de pára-quedas (aeródromo de Évora). 

  

No regresso, é indispensável passar na padaria do Torrão, na estrada do Torrão para Alcácer. Costuma estar sempre aberta, mas o melhor é telefonar (265669159). O pão é feito em forno de lenha e dura imenso tempo. A meu conselho, não compre só um. Ao fazer esta estrada terá a mais-valia dos belíssimos campos de arroz.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

             

O forno a lenha 

 

 

 

Aproveite os feriados de Junho, enquanto os há, e siga o meu conselho, Vá até Montemor-o-Novo. Vai gostar.

 

 

 

 

 

 

Fim-de-semana em redor de Montemor-o-Novo 1ª parte

 

 

O hotel L'AND Vineyards, em Montemor-o-Novo (foto do site)

 

 

 

Hoje a minha proposta é alargada: um roteiro para passar 2 dias no Alentejo num belíssimo hotel integrado na natureza, comer bem, passear, comprar produtos da região e ainda mergulhar no passado.

 

  

Dia 1 

 

 

Rumemos então a Montemor-o-Novo, viagem que de Lisboa demora menos de 1 hora. Vindos da A6 há que sair para Montemor-o-Novo, na direcção do hotel L’AND Vineyards  (N 38º 38' 44" W 08º 14' 50"). Ver site do hotel.

 

  

 

O hotel bem integrado no meio da paisagem de vinhas

 

 

 

Muito bem integrado na paisagem, insere-se num espaço dedicado à vinha. Nos jardins que rodeiam os quartos há pequenos espaços-amostra das diversas variedades de vinha da região e na cave do hotel situa-se a adega que serve todo o complexo. Para relaxe total há ainda um spa de vinoterapia da Caudalie.

 

 

 

A "minha" sala e o "meu" tanque exterior
Foi considerado pela revista Travel & Leisure de Junho como um dos 50 melhores novos hotéis em todo o mundo. O espaço com decoração minimalista, mas muito calorosa, é à base de xisto e belíssimas madeiras. Os quartos não são quartos mas sim pequenos apartamentos com espaços exteriores próprios e que dão para uma lindíssima charca. O “meu” tinha grande sala com todas comodidades (nomeadamente duas coisas óptimas: máquina de café e wireless), casa de banho gigantesca, lareira exterior e um tanque no meio de um jardinzinho de papiros que podemos encher com água quente ou fria. 

 

 

 

 

A mesa do pequeno-almoço é deslumbrante

 

  

 

Produtos da região aligeirados por acompanhamentos vegetais. Experimentei as burras e o cachaço de porco de raça alentejana, ambas primorosamente estufados, sem recurso a vácuo. Os acompanhamentos do cachaço são os legumes miniatura e o das burras, a abóbora. Ambos aligeiram a tradição e completam pratos com muito sabor e profundas raízes tradicionais.

 

Para abrir

 

 

 

 

 O surpreendente gelado de betarraba com o respectivo crocante

 

    


 

            Degustação de doces conventuais

 

  

As sobremesas foram uma boa surpresa, sobretudo o mil folhas de requeijão e maçã verde com um fresquíssimo gelado de beterraba, cuja doçura natural e sabor a terra ganham muito na textura fria. Bem conseguida a degustação de doces conventuais com espuma de sericaia, gelado de arroz doce e folhinhas de poejo. O restaurante tem um menu de degustação e outro vegetariano e proporciona provas de vinho.

 

 

O observatório das estrelas sobre a cama

Ovos moles de Aveiro

Os motivos são de pintainhos, borreguinhos, coelhinhos e não apenas as tradicionais formas marinhas.

 

Perdoem-me a bem intencionada blasfémia, mas se as hóstias da Eucaristia tivessem recheio de ovos moles de Aveiro, a Igreja Católica não estaria decerto com falta de presenças na missa.

São um dos melhores doces feitos com ovos, talvez pela simplicidade absoluta da utilização de dois produtos apenas: gemas e açúcar, havendo quem lhes junte uma pitada de canela no fim. Não falando claro nas eventuais aldrabices que lhe introduzem farinha de arroz ou água da sua cozedura, para lhe aumentar o rendimento e a espessura textural. Segredos parece haver apenas dois: os ovos moles nunca se devem mexer em círculo, mas sempre em linhas direitas, de um lado para o outro, e a paciência deve ser em grande quantidade para não apressar o doce. Parece impossível como se pode chegar ao céu com tão pouco. 

 

 

Colocado em ponto de bola rija, o açúcar mistura-se já frio com as gemas batidas com uma faca. Voltam ao lume com cuidado e paciência.

 

Os ovos moles têm, claro origem conventual, das mãos contemplativas das Carmelitas que os criaram no século XIX. Não consigo decidir do que gosto mais, se de os comer às colherzinhas directamente da típica barriquinha pintada com os tradicionais motivos marinhos, se envolvidos nos moldes de hóstia. Já na eterna luta entre o chocolate e os doces de ovos, não tenho qualquer dúvida: para mim ganham sempre os doces de ovos. Há quem goste de os acompanhar com vinhos doces, como o Porto ou o Madeira, mas tenho para mim que a melhor companhia líquida é a simplicidade da água bem fresca, quase gelada.

 

 

Estes moldes vêm juntos em folhas de 12.

 

Antigamente, os moldes eram feitos pelos próprios fabricantes através da aplicação de formas sobre as folhas de hóstia; hoje esse trabalho é feito industrialmente e os desenho já não se limitam aos motivos marinhos a relembrar a ria e o mar, como podem ver nas fotografias. Está também em desuso envolver a hóstia em calda de açúcar, porque esta acaba por fazer sentir uma textura granulada na boca.

Estes que vos mostro são muito bons, dos melhores que tenho comido. Tenho pena, mas só lhes posso dizer que os comprei em Ílhavo. Se quiserem mais pormenores, só mais em privado.

 

 

 


A Rota das Estrelas no Vila Vita

Ofuscada com o brilho de 6 estrelas Michelin

 

Na cozinha do Ocean, havia bulício, mas do organizado. A brigada estava muito alargada, sobretudo a nível dos generais, que os havia em número de 4, a somarem 6 estrelas, das Michelin: os chefs Hans Neuner (da casa**), Dieter Koschina (Vila Joya, **), Benoît Sinthon e o pasteleiro Yves Michoux (Il Gallo D’Oro*) e ainda Ricardo Costa (The Yeatman*). 

 

 

Koschina aos comandos

 

 

Todos eles deitam mão a tudo, aos pratos próprios e aos alheios, que devem formar um conjunto harmónico previamente combinado em conjunto para mais este episódio da Rota das Estrelas, into the universe of fine dining and beyond. O que se preparava naquela cozinha era mais um dos sete jantares previstos para o ano corrente e que reúnem os chefs dos restaurantes portugueses com estrelas Michelin.

 

 

O meu fraco tempo de reacção não me permitiu apanhar o Casillas de frente.

 

os aperitivos, muito divertidos, estiveram a cargo de todos e acompanharam com um Blanc de Blancs, da Ruinart;

amuse-bouche de Koschina, com um Riesling Weingut am Nil, de 2011;

entrada, Hans Neuner, Fígado de ganso fumado, com Reserva especial branco 30 anos da casa Sta Eufémia;

carabineiro com molho de sépia de Benoît Sinthon com um Branco de 2011 da Herdade dos Grous;

Ovo a 62º, uma recriação das ervilhas com ovos de Ricardo Costa (Reserva Magnum de 2008 da Herdade dos Grous);

a carne, um novilho Nebraska Hereford (raça bovina americana com mais de um século), pela mão anfitriã.

 

amuse de lingueirão

 

amuse de frango, com almôndega em primeiro plano e a pele ao fundo

 

foie de ganso fumado, Neuner

 

Dos amuse-bouche, da autoria de Koschina, saliento pelo sabor, um chip bem crocante de tapioca e tinta de sépia que fazia de berço a um magnífico camarão, e ainda um outro, com uma almôndega de frango e a respectiva pele crocante pendurada num artefacto metálico, muito na linha do Grant Achatz, do Alinea.

A destacar uma fabulosa entrada de Neuner que, partindo de um clássico dos clássicos, foie sobre brioche, lhe introduz um gelado de fragoline (uvas com sabor amorangado), que numa primeira fase nos surpreende com a sensação de boca gelada para logo de seguida intensificar o gosto do foie. 

Falta fez mais um prato de peixe, já que estamos em cima do mar e no Algarve.

 

carabineiro, Sinthon

 

ovo a 62º, Ricardo Costa

 

novilho, Neuner

 

sinfonia da pérola do Atlântico, Michoux

 

o chapéu já desconchavado revela o interior de maracujá

 

Estas iniciativas que incluem todos estes chefs são extremamente agradáveis e positivas, boas oportunidades de convívio, enriquecimento e troca de impressões. E de grande alegria para quem tem a oportunidade de estar sentado à mesa!  

 

 

o mar do Vila Vita