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Conversas à Mesa

Má experiência no Vilalisa

 

 

 

Gosto da comida da serra e da costa algarvias, dos caldos, das canjas, dos xeréns e das açordas. Dos peixes, dos bivalves, do polvo e da galinha. Enfim, por aí fora. Este ano cá vim mais uma vez para as férias no Algarve, que não troco por nenhumas outras. Praia e boas comidas ocupam os meus dias. Este ano, a praia tem estado óptima, mas as comidas pouco felizes.

Ontem fui jantar à Adega VilaLisa e saí desiludida. Este conhecido restaurante, situado no meio da Mexilhoeira, compõe-se de duas salas, profusamente decoradas com quadros do Sr. Vila, um dos proprietários, e mesas de bancos corridos. Tem ainda outra peculiariedade: não há carta, comendo-se de surpresa a ementa do dia.

Para abrir a refeição foram chegando alguns petiscos bem confeccionados no geral:

Estupeta de atum, muito tomate e quase nada do tunídeo

Ovos mexidos com tomate, bem

Morcela que afirmaram ser de Lagos, demasiado especiada

Batatas com molho frio (batata cozida com azeite, vinagre e muito alho)

Muxama em quantidade quase nula

Sardinhas albardadas, boas e o melhor que comi em todo o jantar.

A refeição teve 5 pratos e, no seu conjunto, foi algo desequilibrada, uma vez que 3 dos pratos eram líquidos, entre caldos, sopas e açordas, e dois não se podiam comer.

O primeiro foi a habitual canja, desta feita de conquilhas condutadas pelo arroz. O sabor do caldo pouco rico e as conquilhas cheias de areia tornaram o prato não comestível.

De seguida, uma açorda de abrótea com amêijoas: um caldo ao qual as fatias finas de pão que se afogam no fundo dão o nome. Incomestível porque as amêijoas vinham também com areia, mas sobretudo porque a abrótea trazia cheiro já ácido e cor acinzentada. 

Veio então o polvo no forno com batatas e tomate, recorrente nesta casa, de bom sabor embora textura um pouco emborrachada. Comeu-se.

O pernil de porco, emblemático da casa, continua muito bem, saboroso, com a carne a separar-se dos ossos e a lascar. Bom molho tipo fricassé, mas com pouco sabor alimonado.

 

Para terminar, uma sopa de feijão feita na água de cozer um osso de presunto e com lasquinhas do mesmo. Uma boa sopa, embora para os nossos hábitos alimentares a sopa já não seja a tranca da barriga, e de caldosidades já tivessemos a nossa conta.

Para sobremesa, queijo picante fatiado com pão, e queijinhos de figo e amêndoa, com demasiado sabor a aguardente, medronheiro e café de saco.

 

Serviço completamente ineficaz. O pessoal não explica o que traz para a mesa, o que é fundamental quando não há ementa nem esta foi anunciada no princípio da refeição. Que pena um restaurante que já foi tão respeitado servir agora com tão pouca consideração pelo cliente.

Preço fixo com vinho da casa, 35 euros por pessoa.

 

Um dia cheio em Nova Iorque: Uptown

Andar bem calçado é essencial em Nova Iorque, sobretudo quando a temperatura às 4 da tarde era de 39ºC
Nova Iorque é uma cidade de cidades, que eu gosto de dividir em 3 zonas, completamente diferentes. Uptown, é a parte posh, onde as lojas são pequenas e os prédios chiques com o característico toldo sobre a porta da entrada e o porteiro encadernado e de chapéu. A qualidade do prédio pode ser avaliada pela farda do porteiro, que não nos deixa subir sem perguntar onde vamos e avisar para esse apartamento. Os restaurantes de uptown são, em grande maioria, do tipo bistrô, e os habitués até comem ao rol e pagam no fim do mês. O comércio é muito especial, como se pode ver por esta montra de uma loja de animais.
 
É verdade, são mesmo coleiras para cães posh que vivam Uptown

Lembro-me de ter ido duas ou três vezes a uma loja do Upper West Side (More and More) que praticamente só vendia enfeites para árvores de Natal, mas estava aberta todo o ano.  

A fatia do meio de Manhattan, a Midtown, é essencialmente a zona mais turística, onde ficam Times Square e as lojas dos tacky souvenirs que todos nós adoramos, os grandes armazéns, como o Macy’s, e onde é tão divertido passear na rua. Downtown é a fatia mais “alternativa” onde se situam Greenwhich Village, o Soho e Chinatown. Actualmente, a zona mais in é o Meatpacking District. Assim, a proposta que vos trouxe de lá consiste em dois roteiros/dois dias nova-iorquinos, um Uptown e outro Downtown.

 


 O vintage car descapotável de um dos clientes que estava a tomar pequeno-almoço no Nice Matin

 

 

O Nice Matin, no cruzamento da Amsterdam com a 79

Hoje vamos passear pela parte de cima de Nova Iorque, Uptown, cujo coração verde é o Central Park. O dia tem de começar muito cedo, para aproveitar a diferença dos fusos horários e permitir uma longa manhã cultural. O ideal é estar logo à abertura do Met (9h30) ou do Guggenheim (10h). Qualquer destes museus é muito grande, pelo que não é possível vê-los num só dia, muito menos numa manhã. O meu conselho é que não deve entrar sem saber exactamente qual ou quais as partes do museu irá visitar. ATT, os museus têm um Fast Track de entrada, muito útil para evitar as longas filas, para quem tem, por exemplo, o New York pass.

Antes de entrar no museu, há que tomar um bom pequeno-almoço. Eu gosto do Nice Matin, quando me apetece o clássico europeu. Costumo encomendar o cesto pequeno (4,5 dólares), que traz quatro fatias de diferentes pães, todos eles muito bons, e ainda manteiga e doce, mas os croissants também são boa opção. Desta vez tomei o pequeno-almoço com um bom amigo, o David Leite, autor do livro The New Portuguese Table e do fabuloso e premiado site Leite’s Culinaria.

 

 

Na boa companhia do David Leite, com a Barnes and Noble por trás

 

À mesa do Nice Matin

 

Ao almoço, nada de restaurantes com modernos flings, zings ou twists. Isso está mais que visto e, a menos que a coisa seja muito especial, são tirados a papel químico. A minha proposta é um almoço rápido e barato para poupar dinheiro e lugar no estômago para um bom jantar. Desta vez optei pelo Luke's, uma tasquinha originária do Maine, cuja pesca de lagosta é sustentável. 

 

A entrada para o Luke's, uma loja estreita e comprida com bancos altos 

 

 

 O tema é a pesca da lagosta, uma actividade sustentável no Maine

 

O ambiente é deste género, muito descontraído

 

No menu há chowders (industriais, não recomendo) e as famosas sanduíches ou rolls de lagosta, caranguejo e camarão. Há um combo destas três sanduíches, 2 pacotes de batatas e 2 bebidas que dá para duas pessoas e custa 38 dólares. A menos que sejam masoquistas, não escolham a root beer, uma bebida de cana de açúcar e especiarias que sabe a pá do lixo, prefiram a de limão e lima, bastante fresca, ou optem pela cerveja do Maine. O pão destas sanduíches é redondo, tipo hot dog, e barrado com uma manteiga de limão e especiarias que lhe dá um sabor muito especial. O marisco é fresquíssimo e suculento, embora um pouco falho de sal como é habitual nos States. A combinação vale a pena. 

 


 

 

 


 

 

 

Depois do almoço, não deixe de visitar o Zabar's, uma mercearia que tem todos os produtos étnicos e uma variedade incrível de queijos, azeitonas, azeites, pães e cafés. É uma espécie de Dean & DeLuca todo desarrumado, onde não se vai para olhar mas sim para comprar. Escolher um queijo, um café ou um azeite torna-se muito difícil para quem não sabe o que quer, tal é a variedade. Não deixe de visitar os utensílios e panelas de cobre do andar de cima. Também vale a pena pela clientela, do mais heterodoxo que pode haver. 

 

 

 

 

 

 

A secção dos cafés e chás

 Tudo é muito informal

 

 


 


 

 

Bom a seguir, uma espreitadela à livraria Barnes and Noble, que tem uma gigantesca secção de cozinha. Fiz várias aquisições, entre elas um livro muito interessante sobre animais de quinta: vacas, ovelhas, porcos. Chama-se The Ginger Pig.

 

E pronto, está na hora de pensarmos num bom jantar. Rume a Columbus Circle e delicie-se no Per Se, o restaurante nova-iorquino do Thomas Keller, com 3 estrelas Michelin e considerado um dos melhores do mundo. Veja a descrição do jantar que lá fiz, publicada no Público, mas que pode ler aqui mesmo no blog. Outra alternativa menos dispendiosa, mas também digna, é o Lincoln, no nº 145 da 65th Street West (o chef é o Jonathan Benno).

 

 

 

Não há dúvida de que foi um dia em cheio. E prepare-se para a próxima crónica, outro dia em cheio, desta vez Downtown

 

 

 

 

The Metropolitan Museum of Art

 

Fifth avenue com a 82nd street

 

 Abre às 9h 30. Fecha às segundas-feiras

 

 ATT: o New York Pass dá entrada gratuita e pelo canal Fast Track

 

http://www.metmuseum.org/

 

 

 

Guggenheim

 

Fifth avenue com a 89nd street

 

Abre às 10 h. Fecha à quinta-feira

 

http://www.guggenheim.org/

 

 

 

 

 

Nice Matin

 

201, 79nd street com a Amsterdam av.

 

 

 

Luke’s

 

Upper West Side

 

426 Amsterdam Avenue


 

Zabar’s

 

2245 Broadway, no cruzamento com a 80nd street

 

 

 

Barnes and Noble

 

82nd street com a Broadway

 

 

 

 


 

 

 

Fim-de-semana em Nova Iorque

Amanhã de manhã vou a caminho de Nova Iorque. Na minha bagagem, a ideia de experimentar a street food de Manhattan. Dois contras: ao fim-de-semana há poucos vendedores e a temperatura esperada para NY é de 39º C de máxima. Não sei se aguento andar na rua. Já levo alternativas mais civilizadas. Volto em breve para contar, viva espero eu. Até.

A Inês do Aleixo


 

Do lado de cá a pescada; do de lá o polvo; e no meio o arroz do mesmo

 

 

 

 

 Sempre gostei de ir ao Aleixo, mas sempre lá comi a mesma coisa: filetes de polvo ou de pescada e aletria. É um daqueles restaurantes onde nunca olhei para a carta. Ora soube há pouco tempo que, devido a uma dissidência, tinha aberto um novo restaurante, o Inês do Aleixo, muito perto do original, nas vizinhanças da estação tripeira da Campanhã. 

 

 

A rua do restaurante, muito perto da Campanhã

 

  A placa do restaurante alude inequivocamente ao cefalópode

 

 Como tinha de ir ao Porto e tinha duas refeições livres, escolhi dois restaurantes completamente diferentes para experimentar. Um deles foi o Inês do Aleixo e o outro o Yeatman, de que falarei a drede.

Vamos então à história do primeiro, tal como me foi contada pela própria Inês filha. O Aleixo pertenceu a um galego que resolveu passá-lo ao Sr. Ramiro Gonçalves, seu funcionário, por 100 contos de réis caso ele casasse com D. Maria Inês, uma de 3 filhas de um armazenista de vinhos a quem muito prezava. O casamento deu-se e daí resultaram dois filhos: Ramiro júnior e Inês júnior. Falecido o pai de família há cerca de 30 anos, o restaurante ficou nas mãos da restante família. Devido a desavenças, Ramiro filho abandonou o Aleixo, ao qual regressou recentemente depois de sua irmã ter saído para fundar sozinha (com o marido) uma nova unidade: o tal Inês do Aleixo.


  

 A Inês do Inês do Aleixo

 

 

 

Comecemos pelas comidas. De entrada, uns preciosos bolinhos de bacalhau miniatura com salada de feijão-verde. Gosto desta forma de designar o feijão-frade com cebola picada, parece torná-lo ainda mais saudável. E, logo de seguida, lá vieram eles filetes de polvo e de pescada, igualmente bons e carotes. As meias-doses custam respectivamente 14 e 15 euros e apenas trazem um filete de cada, aliás como acontecia na casa-mãe. O filete de pescada tem a mesma cremosidade que une o peixe muito fresco, sem sombra de pecado, à respectiva capa. O de polvo é tenro e saboroso e sem diferenças em relação ao seu progenitor. O arroz do mesmo cefalópode que o acompanhou estava um pouco seco e com pouca frescura, mas nada de muito grave.

 

 

 

 Aletria e pudim francês: vale a pena apostar na aletria

 

 

A aletria, muitíssimo bem. Ou seja, em matéria de comidas, ela por ela. Há sempre pratos do dia, como vitelas e cabrito. A lista é limitada: 3 pratos de peixe (um deles uma despropositada espetada de lulas e gambas) e 3 de carne, facto que me é completamente indiferente, visto lá ir só de quando em quando e sempre para comer o mesmo, conforme já referi. 

 

 

 

 A sala com a cozinha à vista

 

  

A nível de instalações, o Inês fica a perder. O espaço e as paredes do velho Aleixo são mais bonitas. Agora o que se passou foi muito calor, visto que não há ar condicionado e abafa-se, mesmo com o restaurante pouco cheio. Se decidir lá comer, opte pela sala de entrada, que é mais fresca e não tem o calor da cozinha que está à vista na segunda sala.

O que concluo então? Bom que é sempre mais uma possibilidade para comer filetes de polvo e de pescada e aletria. E quanto mais possibilidades, melhor. 

 

 

 


 Estávamos em pleno São Pedro

 

 

 

 

Restaurante Inês do Aleixo

R. de Miraflor 20

4300-332 Campanhã

Porto

Tel. 225106988

 


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