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Conversas à Mesa

Gulodices 1: terapia pelas pipocas

Diz a Garrett, uma casa que vende pipocas de luxo, que tem a cura para os summertime blues, que a gente cá chama de neura. O saco exterior de papel em que são vendidas tem escrito de um lado "Summetime Blues" e do outro "The Cure", a cura. 
Eu não podia estar mais de acordo. Uma tarde de cinema em casa, a ver comédias românticas, a chorar e a comer pipocas é extremamente terapêutica. O que me atrai nestas pipocas é que reunem os dois sabores mais básicos, doce e salgado, um pouco como a manteiga de amendoim, daí serem uma das melhores confort food. têm ainda a vantagem de não ser precisoo optar entre pipocas doces e salgadas, são o 2 em 1. 
As pipocas da Garrett têm outra coisa extraordinária: não deixam nenhum restolho na boca, nada daquelas casquinhas odiosas que todo o nosso milho de pipoca deixa. Ao fim de comermos uma duzia temos a boca cheia de casquinhas irritantes. Com as da Garrett nem um restolhinho fica. parece mentira.
Nunca vou a Nova Iorque que não compre um saco delas. A minha opção é uma mistura das normais com as de caramelo e de frutos secos (caju e macadâmias), já que não aprecio muito as de queijo. A minha ambição era comprar um balde delas, de 6 galões de capacidade (não faço ideia quanto são seis galões, mas os baldes maiores são gigantescos). 
A Garrett nasceu em Chicago, em 1949, mas já existe em Nova Iorque, Las Vegas e até no Extremo Oriente e no Médio Oriente. Recomendo. Se não quiser estar na fila, encomende On line e depois é só apanhar (http://www.garrettpopcorn.com). 
PS: estas foram-me trazidas hoje e compradas ontem. Aguentam-se perfeitamente. 


Morada em Nova Iorque

1 Penn Plaza
242 West 34th Street
New York, NY 10119

Cenas 3: Espetadas de mexilhão com caju e tinta de choco

 

As cenas de hoje são muito veranis: espetadas de mexilhão e pimento assado que podem ser servidas simples, como entrada, ou com um arroz selvagem da Cigala. Ou, claro, como a sua inspiração lhe aprouver.

Usei os mexilhões espanhóis por serem os maiores e mais bonitos que encontrei à venda. Experimentei os do Minipreço e do Lidl, mas têm uma desvantagem: não são sempre iguais. Às vezes  são muito bons, outras menos. Comprei os mexilhões e a tinta de choco no Apolónia, no Algarve, mas há sempre o indispensável El Corte Inglés. 

A tinta de choco pode ser usada em muitos pratos, nomedamente de moluscos, e tem sabor intenso.


 

7 minutos

 

 

 

Para 2 pessoas

 

 

 

Ingredientes

 

1 lata de mexilhão de escabeche (tem cerca de 12 unidades)

 

1 frasco de pimentos assados

 

1 frasco de tinta de choco

 

uma mão-cheia de castanhas-de-caju

 

1 embalagem de arroz selvagem cigala cozido

 

palitos para espetadas

 

 


 

 

 

 

 

Maneira de fazer

1 Retire 1 colherada de tinta de choco para uma tigelinha e mexa.

2 Abra a lata dos mexilhões e escorra o molho para uma tigelinha. Reserve.

3 Abra o frasco do pimento e corte ovais com a forma e tamanho dos mexilhões (2 ou 3 para cada espetinho).

4 Triture o caju. Eu usei a máquina de moer café, mas pode utilizar o 123, por exemplo.

5 Aqueça o arroz durante 1 minuto, conforme as indicações da embalagem.

6 Passe 4 mexilhões na tinta de choco e otros 4 no caju. Enfie alternadamente nos espetinhos 1 mexilhão com caju, o pimento, 1 mexilhão com tinta, 1 pimento, 1 mexilhão simples e termine com 1 pimento.

7 Coloque no prato, regue com o molho e sirva com o arroz.

 

 

 

 


Bandeira amarela no Mariana de Afife

Praia da Gelfa
É notável a alegria e determinação das crianças nos cortejos das festas da Senhora da Agonia

Estando em Viana do Castelo para as festas da Senhora da Agonia com amigas vianenses, e beneficiando de um tempo agradavelmente suave para Agosto, resolvi dar uma folga à minha dose de bombos, cabeçudos e trajes de lavradeira, e sair do percurso Avenida - Praça - Jardim, para respirar umas golfadas de ar atlântico. Como me encontrava instalada na casa Melo Alvim, com uma situação ideal para quem quer ficar no centro das festas (mesmo no topo da Avenida), há 3 dias que nem pegava no carro, mas estava na hora de sair do barulho e da trepidação.



 

A vista da varanda do hotel Flor de Sal, mesmo em cima do mar



 

Mais uma vista do Flor de Sal



 

Com ganas oceânicas, resolvi sair para dar um passeio pelas praias ao norte de Viana, sempre pela costa. Gostei especialmente da praia de Gelfos, no meio do pinhal. Mas foi em Afife que parei para provar aquele que já vem sendo célebre e que há muito me recomendavam, o robalo cozido em algas do restaurante Mariana. As minhas referências mais recentes deste tipo de prato (Bertílio Gomes e José Avillez) eram difíceis de bater, mas o facto do afifense ser um prato "zero quilómetros", com o robalo a ser pescado naquelas águas frias e as algas apanhadas nas praias, dava-lhe fortes possibilidades de se alinhar no pódio para uma medalha. 




 

Praia da Gelfa




O ex-sanatório da praia da Gelfa era fabuloso para um hotel...



 

Os sargaceiros no Museu do Traje em Viana. Vale a pena visitar.


 

 

O caminho que fiz metendo por todas as estradinhas que tivessem praias na ponta trouxe-me o mood certo para o robalo. Vi pescadores à linha nas rochas e sargaceiros a juntarem as algas em montículos, para secarem. Deu-me também para reflectir sobre as características atlânticas da nossa alimentação. Fora do Alentejo, Algarve e alguma parte da Estremadura, a nossa alimentação tem características profundamente atlânticas, sendo dominada pelo peixe da costa, de águas frias e profundas plataformas continentais. Na costa norte, em redor de Viana do Castelo, as hortas, sobretudo de brássicas, são plantadas nas masseiras, covas feitas na areia das dunas adubadas com caranguejos, o pilado, e algas, que lhes emprestam sabor muito especial. A carne, principalmente de vaca, e os lacticínios são uma herança celta à qual o nosso povo juntou uma nítida preferência pelo azeite e pela banha em detrimento da manteiga.



 

As mesas do Mariana



As cataplanas em lugar de destaque sobre a montra do peixe



 

Quando cheguei ao Mariana e me sentei à espera do robalo cozido em algas para 5 pessoas que tinha encomendado de véspera (manobra essencial) tinha alguma expectativa. Fui-me entretendo com a observação do restaurante.  De tamanho razoável,  espalha-se por várias salas, sendo bastante fechado de luz e vistas. A clientela senta-se em bancos corridos, felizmente com apoio dorsal. A decoração é a trivial, com cortinas compridas estampada a galos de Barcelos, tectos com falso travejamento de madeira e, vejam lá, vários conjuntos de cataplanas. Aproveito já para falar no serviço que, com casa supercheia, foi eficaz, cumprindo os mínimos de simpatia. Para fazer cama, e visto que não havia entradas, pediu-se uma sopa de legumes, apresentada em terrina e concha. Belíssima sopa com guarnição de vários legumes, sobretudo alho-francês. 

E finalmente lá veio a ansiada travessa com um lindo e grande exemplar de robalo rodeado a bombordo de bela batata cozida e a estibordo de saboroso feijão verde finamente cortado. Qual não é o meu espanto quando vejo o bicho golpeado a intervalos regulares e outras tantas meias rodelas de limão enfiadas nas ranhuras. Eu que o tinha imaginado num leito de bodelha, a rescender a iodo, ou rodeada pelo sargaço, fiquei confusa, mas não me deixei derrotar. Como me tinha calhado fazer as honras, fui tentando cheirá-lo disfarçadamente, cheirava bem, mas nada dos esperados aromas iodados. Chegada a hora da primeira garfada, o robalo estava fresquíssimo, sabor irrepreensível, grau de cozedura acertado, mas nada daquela sensação "José Bento dos Santos" de o oceano Atlântico a entrar pela nossa boca dentro com uma explosão iodada.


 

O robalo



 

Caso me tivesse esquecido da história das algas, teria saído satisfeita por ter comido um bom robalo. Naquele dia, como a casa estava muito cheia, não achei oportuno esclarecer o assunto, mas no dia seguinte falei com o simpatiquíssimo Sr. Aires, proprietário e cozinheiro, a quem agradeço a atenção de me ter contado toda esta história, que vos passo tal qual. O Mariana, originalmente uma pequena barraca, foi baptizado com o nome da mãe deste senhor, ainda hoje viva, e tinha como especialidade o bacalhau. Há cerca de 30 anos, quando o Sr. Aires resolveu tomar conta do restaurante, aumentou-o e mudou de estratégia, esquecendo o bacalhau e passando a servir o peixe da costa. A sua aposta era, como ainda hoje, na frescura. Servia então o peixe envolvido em bodelha, numa cozedura lenta no vapor nesta alga muito iodada. Porém, como este prato demora muito a fazer, e no Verão há muito movimento, optou por outra confecção: faz um caldo de sargaços, em que, depois deste coado, coze o peixe. Foi este o procedimento sofrido pelo robalo que eu comi. Segundo me disse o Sr. Aires, este sabor das algas é mais intenso em peixes com peso superior a 3 kg, uma vez que estes suportam um tempo de cozedura mais prolongado. O peixe cozido na bodelha, confecção muito morosa, ainda o faz no Inverno, quando há menos clientela e mais vagar, embora seja sempre necessário encomendar. Ficaram esclarecidos? Pelos vistos este restaurante é de bandeira amarela: tem de se ir com cuidado. Com espírito de bandeira amarela tenciono voltar lá no Inverno, para o robalo cozido na bodelha.


 

Os cuidados desenhos de canela 


 

A sobremesa foi um bom arroz doce com poucas gemas reunindo as três condições que me agradam: cremosidade, sem doçura em excesso e o arroz em textura que ainda se faz sentir ao dente. É assim que eu gosto. Belos motivos de canelografia (desenhos e escrita com canela).

 

 

Mariana

 

Estrada Pedro Homem de Mello nº 42

 

4900-012 Afife

 

 

Telefone 258981327

 

 

 

Sopa de legumes 1,90 euros

 

Robalo para 5 pessoas em quantidade suficiente para 6 - 110 euros

 

Os pratos de carne, grelhados ou fritos, rondavam os 19 euros (bifes e costeletas)

 

Por encomenda

 

Partilhada de marisco

 

Caldeirada

 

Peixe ao sal

 

Galo com cogumelos e natas (coq au vin)

 

Lampreia de Janeiro a Março

  

Aconselhável reservar. Fica a 15 minutos de Viana do Castelo


 

No Monte da Eira, estamos sempre à beira (Algarve)

 

A varanda

O Monte da Eira tem uma situação alcandorada numa das saídas de Loulé. Depois de se passar o Paixanito, agora fechado para dar lugar ao mega-restaurante e descaracterizado Paixa, em Vale de Lobo, chega-se a uma aldeia com o evocativo nome de Clareanes. Foi lá que jantei anteontem.

Casa muito agradável, com muitos lugares para os carros, agradáveis ambientes interiores e um bom pátio com vista para a serra. Ficámos fora, que a noite estava muito agradável para o  casaquinho de malha indissociável das boas noites algarvias sem vento. Convém levar repelente de melgas, porque costuma haver sempre destes incómodos voadores. Dentro há duas agradáveis casas de jantar.


Uma das casas de jantar interiores 



Fomos saudados e sentados pelo dono, que apenas voltámos a ver quase no fim da refeição. A casa estava completamente cheia (só servem jantares no Verão e convém reservar) e ele andava lá por dentro, pelo que fomos servidos por 2 senhoras: uma russa, tipo general Dourakine, da Condessa de Ségur, ou seja, rude mas bondosa, e uma algarvia. Apesar da simpatia natural das duas senhoras, o serviço é bastante fraco, com empilhamento de pratos à mesa e ausência de informação, por exemplo em relação a vinhos ou aos acompanhamentos. Ora aqui se começo a explicar o título: o Monte da Eira está à beira de ter um serviço não só simpático como eficiente, essencial neste tipo de restaurante regional. Mas fica à beira, por falta de um pequeno passo apenas, que, bem dirigidas, as duas senhoras seriam capazes de dar.


As ervilhas com ovos

 A canja de amêijoas

 

Passemos agora às comidinhas. Para começar, peixinhos da horta, que reuniram as três coisas fundamentais: bom ponto de cozedura do feijão-verde, bom polme e fritura seca. Depois, ervilhas com ovos escalfados, servidas em tachinho. Ervilha boa, embora já não fosse de época, e ovo um pouco cozido demais para o meu gosto pessoal. Provei ainda a canja de amêijoas, onde nadava bom material marinho. Em seguida veio o coelho na caçarola com ameixas secas e cebolinhas, o melhor prato do jantar. Talvez fosse o estufado ou então a presença das ameixas secas, mas trouxe até mim uma evocação berbere. 


Coelho na caçarola com cebolinhas e ameixas


As bochechas


 

As bochechas de porco estavam como deve ser, embora, tal como o coelho, um pouco avinhadas, dando ideia que a evaporação do álcool não tivesse sido completada.  E agora lá vem o tal passo que era preciso dar para que o Monte da Eira deixasse de estar à beira de ter uma cozinha regional de referência: os acompanhamentos. Servir o coelho e as bochechas com arroz branco e com arroz selvagem é pobre, muito pobre. Há que divulgar os produtos algarvios, como a batata-doce de Aljezur, que tão bem casam com os pratos de inspiração local. 



 

A mousse de alfarroba



PS: peço desculpa pela fraca qualidade das fotos.

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