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Conversas à Mesa

CURIOSIDADES ANGOLANAS

A Sara regressou a semana passada de uma viagem a Angola. Uma viagem que eu teria adorado fazer com ela. Uma viagem que durou três semanas e que permitiu correr quase todo o país de autocarro. A Sara é minha amiga de infância, estudámos sempre juntas até à altura em que ela foi para a faculdade de Medicina e eu para Filosofia. A ambição dela, médica numa grande clínica da linha do Estoril, é voltar para Angola, para a sandalete eterna, para os cheiros e os hábitos da nossa infância. Não há angolano que não tenha essa nostalgia, por muito calcada que esteja no peito. 
A viagem correu muito bem, já há muitos equipamentos hoteleiros e turísticos em todo o lado. 
Estivemos a ver juntas as fotografias da viagem e não resisti a deixar-vos esta meia dúzia delas, todas relacionadas com comida. São para os angolanos matarem saudades. E mostram que as nossas comidas ficaram lá bem presentes. Quem sabe a cozinha não é mais eficaz a fazer e amanter as pontes entre os povos que a política...
A primeira foto, das bolas de berlim, é do Lubango (antiga Sá da Bandeira)
Menu bem português em restaurante no Chongoroi (Planalto central)
Quitetas na Barra do Cuanza (vejam o tamanho delas)
Ostras grelhadas (ideia genial a de pôr o grelhador no meio da mesa)
Pocilga do Chico no Escola de Regentes Agrícolas do Tchinguiro




Galinhas-d'angola ou fracas
Street food na Tundavala

O SOLAR BRAGANÇANO

É sempre um prazer vir a Bragança, e não há vinda a Bragança sem Solar Bragançano. Quando subo a escada de pedra já vou a pensar na minha escolha. Quando entro na sala de visitas, onde o casal Desidério e Ana Maria nos acolhem como em casa, já tomei a minha decisão. Aqui volta-se para não ser surpreendido, regressa-se para voltar a comer o que já conhecemos e gostamos, num restaurante com mais de duas décadas de existência. Regressa-se para a comida de pote, tão esquecida na nossa cozinha quanto o forno a lenha. Num edifício muito antigo, diz-se que do século XVIII, o Solar desdobra-se pela sala de entrada, recheada de bons livros para entreter eventuais tempos de espera enquanto se saboreia um Porto. Num dos cantos, arruma-se o bar, do lado oposto entra-se para as duas salas de jantar e para um jardim encantado, recoberto de vegetação, ideal para as refeições primaveris. Da cuidada decoração ressaltam os imponentes louceiros enriquecidos com pratas e cristais, os lustres, as mesas de apoio. As mesas estão postas com toalhas alvas e estaladiças de goma, com boas loiças e faqueiros, copos faiscantes, jarros de cristal e prata. Ana Maria ora está na cozinha, ora atravessa as salas com presença levíssima enquanto o marido, homem de figura imponente, se faz leve de pés, para não fazer ranger os soalhos e perturbar quem come. Ambos com uma perfeita noção do que é serviço e inexcedível cortesia. Desta vez, para começar, uma série de acepipes todos eles muito bons. Destaco dois. Gomos finos de maçã com queijo Cabrales, da vizinha Astúrias, e umas deliciosas bolinhas resultantes do cozido de casulas (as vagens de feijão secas, depois demolhadas) e butelo (um grande e delicioso enchido à base dos ossinhos da suã, ou espinhaço, do porco com algumas carnes), seguidamente fritas.

 

 

 

 

 

Depois a caça cozinhada em potes de ferro, cozendo lentamente na lareira da cozinha. É o tempo que se entranha nas fibras da carne, procedendo à alquimia das texturas e dos sabores. A perdiz combina com a doçura das uvas e com a acidez dos abrunhos e acompanha com um ninho de batata palha onde não falta o pormenor do ovinho a "chocar". O veado ladeia com batata assada, couves e alguns frutos ácidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À sobremesa nunca falho a perfeição da sopa de cerejas, a leveza e a frescura no equilíbrio entre o doce e o ácido. Experimentei também o pudim de ovos, de textura notável.

 

 

 

 

 

 

Neste nosso querido Portugal deseja-se a modernidade, ela é essencial na cozinha, mas não à custa de esquecermos a nossa história. E o que importa não são as receitas, o que importa são os produtos que se usam e a maneira como os cozinhamos. No Solar, o pote é indispensável e o fogo está sempre presente. À saída penso já no que vou comer da próxima vez, esperando que nada mude e que não haja surpresas. Por acaso, voltarei muito em breve.

 

 

 

 

A cozinha do Solar Bragançano

 

 

O Solar Bragançano

 

Praça da Sé 34 Bragança

Telef 273323875

No Inverno encerra às Segundas, de Verão não encerra

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