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É sempre um prazer vir a Bragança, e não há vinda a Bragança sem Solar Bragançano. Quando subo a escada de pedra já vou a pensar na minha escolha. Quando entro na sala de visitas, onde o casal Desidério e Ana Maria nos acolhem como em casa, já tomei a minha decisão. Aqui volta-se para não ser surpreendido, regressa-se para voltar a comer o que já conhecemos e gostamos, num restaurante com mais de duas décadas de existência. Regressa-se para a comida de pote, tão esquecida na nossa cozinha quanto o forno a lenha. Num edifício muito antigo, diz-se que do século XVIII, o Solar desdobra-se pela sala de entrada, recheada de bons livros para entreter eventuais tempos de espera enquanto se saboreia um Porto. Num dos cantos, arruma-se o bar, do lado oposto entra-se para as duas salas de jantar e para um jardim encantado, recoberto de vegetação, ideal para as refeições primaveris. Da cuidada decoração ressaltam os imponentes louceiros enriquecidos com pratas e cristais, os lustres, as mesas de apoio. As mesas estão postas com toalhas alvas e estaladiças de goma, com boas loiças e faqueiros, copos faiscantes, jarros de cristal e prata. Ana Maria ora está na cozinha, ora atravessa as salas com presença levíssima enquanto o marido, homem de figura imponente, se faz leve de pés, para não fazer ranger os soalhos e perturbar quem come. Ambos com uma perfeita noção do que é serviço e inexcedível cortesia. Desta vez, para começar, uma série de acepipes todos eles muito bons. Destaco dois. Gomos finos de maçã com queijo Cabrales, da vizinha Astúrias, e umas deliciosas bolinhas resultantes do cozido de casulas (as vagens de feijão secas, depois demolhadas) e butelo (um grande e delicioso enchido à base dos ossinhos da suã, ou espinhaço, do porco com algumas carnes), seguidamente fritas.
Depois a caça cozinhada em potes de ferro, cozendo lentamente na lareira da cozinha. É o tempo que se entranha nas fibras da carne, procedendo à alquimia das texturas e dos sabores. A perdiz combina com a doçura das uvas e com a acidez dos abrunhos e acompanha com um ninho de batata palha onde não falta o pormenor do ovinho a "chocar". O veado ladeia com batata assada, couves e alguns frutos ácidos.
À sobremesa nunca falho a perfeição da sopa de cerejas, a leveza e a frescura no equilíbrio entre o doce e o ácido. Experimentei também o pudim de ovos, de textura notável.
Neste nosso querido Portugal deseja-se a modernidade, ela é essencial na cozinha, mas não à custa de esquecermos a nossa história. E o que importa não são as receitas, o que importa são os produtos que se usam e a maneira como os cozinhamos. No Solar, o pote é indispensável e o fogo está sempre presente. À saída penso já no que vou comer da próxima vez, esperando que nada mude e que não haja surpresas. Por acaso, voltarei muito em breve.
A cozinha do Solar Bragançano
O Solar Bragançano
Praça da Sé 34 Bragança
Telef 273323875
No Inverno encerra às Segundas, de Verão não encerra