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Conversas à Mesa

ESPANHA EM PORTUGAL

 

Os nossos irmãos espanhóis estão a levar a cabo uma acção de promoção conjunta da moda e da cozinha. trouxeram a Portugal, inserido num tour global, o chef David Muñoz, Agatha Ruiz de Prada e outras marcas, nomeadamente a Loewe.

Casamento curioso e que faz todo o sentido, esta da moda e da cozinha. Em ambos, há uma zona de alta (cozinha e costura) e outra mainstream, a do prêt à porter ou prêt à manger.

A alta cozinha é cada vez mais uma área de criadores e tendências. O restaurante Diverxo, recentemente premiado com a terceira estrela Michelin (o único em Madrid), cria tendências. Com muita pena minha, não conheço o, mas fiquei com vontade de o visitar. Muñoz é uma figura, cultiva um estilo alternativo, crista no cabelo, brincos e piercings, ar rebelde. Um Arola em mais novo e menos curtido. No entanto, foram duas outras características dele que mais me impressionaram, características que partilha com a maioria dos cozinheiros espanhóis: a facilidade em se exprimir num discurso muito inteligente e a educação. Um exemplo para alguns dos nossos que ainda acham a arrogância é sinal de valor e que não é necessário saberem expressar as suas ideias (claro, também é preciso tê-las). Penso que esta mentalidade está a mudar.

 

 

 

 

 

O pretexto para reunir os meios de comunicação foi um pequeno showcooking de Muñoz e do nosso Avillez, um homenageando o país do outro. O português fez um gaspacho de cereja com cavala marinada e fumada e, como sempre, falou muito bem, afirmando que cada vez mais a sua cozinha caminha para uma simplicidade aparente, com muita técnica nos bastidores. Em conversa que tive com ele, perguntei-lhe o que podíamos aprender com os espanhóis. A resposta foi consistência. Quando o cliente vai comer a um restaurante tem de ter a garantia do melhor, esteja ou não o chef na cozinha. É sempre um orgulho vê-lo em público. O espanhol cozinhou um prato de bacalhau (samos).

 

 

 

 

 

O gaspacho de José Avillez

 Gostei do promenor de Muñoz ter usado um prato Vista Alegre. 

 

 

 

 

 

Muñoz aproveitou para colocar no seu prato as tais tendências actuais: o uso dos cítricos (por exemplo, o yuzu e a combava ou lima-kaffir), dos picantes (jalapeño) e das ervas (manjericão-tailandês) como forma de temperar, substituindo parte do sal. Juntou ainda ao bacalhau “o melhor molho mediterrâneo”: o interior da cabeça de um carabineiro. Para ele num prato todos os ingredientes “têm de tocar a mesma partitura”.

O Diverxo é um pequeno restaurante que não dá dinheiro a ganhar, mas permite o tal prét à porter da cozinha, pelo que Muñoz tem já um Streetxo (Plaza del Callao) e vai abrir mais. Coisas que a moda fez muito tempo antes da cozinha. Num mundo onde a concorrência é ferocíssima, é difícil um cozinheiro ou um restaurante distinguirem-se se não houver surpresa. Ele define a ementa do Diverxo como uma montanha-russa, que deixa o comensal sempre em suspenso, e acrescenta que actualmente a cozinha tem “mucho rock and roll”. Genial.

O 1º DE MAIO EM CASCAIS

 

 

 

 

 

A famosa jornada de luta dos trabalhadores teve origem numa greve em Chicago a 4 de Maio de 1886, tendo a data sido aprovada em 1889, na Segunda Internacional, já sem os anarco-sindicalistas.

Por todo o país se aproveita este feriado para celebrar as Maias, festas de origem pagã que evocam a renovação da vida e o fim do ciclo do Inverno. Os campos estão cobertos de giestas, flores que são aproveitadas para decorações de exteriores, de gado e de pessoas, trazendo à lembrança a padroeira  romana da fecundidade, a deusa Maia.

 

 

 

 

 

Em Lisboa havia o costume de se ir às hortas nesse dia. O povo de Cascais faz piqueniques na serra de Sintra, sendo que as gentes ligadas ao mar têm o costume de cozinhar uma grande e familiar caldeirada junto à praia do Guincho.

 

 

 

 

 

 

 

 

Este ano fui convidada pela Dona Aurora, que tem uma belíssima banca de peixe na praça de Cascais, onde costumo abastecer-me, para partilhar a sua caldeirada. Faz-se a festa com música e danças, e nada destas tradições pode a troika roubar-nos. Aqui ficam as fotos. Acerca de caldeiradas e respectiva receita, ver aqui no blog.

 

 

 

 

 

 

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