Ó MARIA IMPRIME-ME AÍ UM BITOQUE
Em 2050 seremos 10 mil milhões de boquinhas a alimentar em todo o mundo. O stock de peixe está sobreexplorado, com algumas espécies praticamente extintas. As áreas cultiváveis em todo o mundo estão quase esgotadas, pouco há de novo para desbravar. Grande parte dos cereais produzidos vão para rações destinadas, por exemplo, ao gado vacum, um dos maior poluidores do mundo. 1,5 bilhões de vacas produzem mais CO2 que todos os meios de transporte juntos. Por outro lado, a agricultura seca os rios e as reservas subterrâneas, já de si muito ameaçadas.
Não há dúvida que vamos ter de nos virar para outro lado. Em estudo está a utilização das algas e dos insectos, mas a grande ajuda virá certamente dos laboratórios onde já se fabrica carne que não é carne nem é carne. Isto é, não provém dos animais em si, mas do desenvolvimento das células estaminais em gigantescos tubos de ensaio.
Uma grande ajuda para encararmos com mais naturalidade e ligeireza esta futura comida química chegou-nos através dos chefs da alta cozinha molecular. Ferran Adrià e uma estirpe de espanhóis, franceses e norte-americanos investigaram as transformações químicas que se dão na cozinha, não apenas para as compreenderem mas também para as aplicarem em novas criações. A cozinha da cozinha molecular é quase um laboratório, de onde vieram grande parte dos aparelhos mais em voga.
No livro “ La Cuisine note à note”, de 2012, Hervé This defende uma cozinha feita de origem por compostos químicos, como etanol, aminoácidos, lípidos, etc. Ou seja, os cozinheiros deixariam de trabalhar os produtos compostos, por exemplo, a carne, e passariam a trabalhar proteínas, lípidos, água, manipulando também o valor nutricional do produto final. As possibilidades são infinitas e ditas assim parecem bem mais atraentes do que o soylent green. Coisas parecidas faz já a indústria alimentar e nós não sabemos a missa a metade. Provavelmente qualquer coisa semelhante já existe nas salsichas, lasanhas e hambúrgueres, sem obrigação de a empresa o anunciar em rótulo.
Se juntarmos tudo isto o grande desenvolvimento actual das “impressoras” 3D podermos dizer muito em breve a frase que serviu de título a este post “Ó Maria, imprime-me aí um bitoque, que tou cheiodafome”.