Ontem arrancou mais uma vez o Festival das Casulas e do Butelo com o habitual jantar preparado pela transmontana Justa Nobre, no restaurante Nobre do Campo Pequeno. Os anfitriões são os autarcas da Câmara de Bragança que vêm até Lisboa receber os convidados: transmontanos, jornalistas, bloggers e gente ligada à cozinha.
Há quatro anos atrás, quando andava eu no terreno em preparação do livro Sabores do Ar e do Fogo, o butelo era inexistente fora da transmontaneidade. Hoje, graças a uma campanha levada a cabo pela autarquia, fala-se dele em todo o país. Nada se promove sem um esforço prolongado. Veja-se o caso da cataplana, que foi alvo de uma campanha intensa ao longo de dois ou três anos, infelizmente abandonada antes de dar os frutos completos. É necessário sabermos atempadamente o que pretendemos fazer com as campanhas. A cataplana tem tudo o que é preciso para se tornar um prato nacional, mas todo o investimento que se fez acaba por se perder se as campanhas terminarem abruptamente.
Louvo, por isso, a autarquia brigantina pela persistência na divulgação do butelo. O esforço tem sido continuado e coerente e está a dar resultados.
Duas senhoras de quem muito gosto (Maria João Almeida e Alexandra Prado Coelho)
Dois senhores de quem gosto muito (Pedro Cruz Gomes e Miguel Ribeiro)
O butelo é um produto completamente legítimo, isto é, faz-se hoje apenas artesanalmente e de uma forma muito semelhante ao que sempre se fez. Hoje, está a tornar-se um produto identificável, legível. Não é, porém, um produto único. É um enchido que se faz também na Galiza (Valdeorras e Lugo) e é muito popular em Leão (botillo do Bierzo), havendo ainda em Espanha enchidos semelhantes como as androllas galegas e leonesas e os pigureiros.
Portanto, a única pergunta que me fica é a seguinte: será que o butelo e as casulas são realmente o prato regional pelo qual Bragança quer ser lembrada e que irá atrair o turismo gastronómico?
O jantar da Justa Nobre
O jantar de lançamento pela mão da Justa Nobre começou com uma magnífica sopa de castanhas com repolgas e presunto crocante. Combinação muito feliz, sabores característicos que se combinavam sem se anularem. Espero que a Justa a ponha na ementa de inverno dos restaurantes, quer do Nobre Lisboa quer do Estoril.
O prato principal, o butelo com casulas, vinha acompanhado como é tradicional por diversas outras carnes. Como cada porco só dá dois butelos porque só tem um estômago e uma bexiga, os seus invólucros, era costume avultá-lo com outras carnes, como chouriça, entrecosto e sobretudo carnes salgadas, como orelheira e pé.
Para terminar, uma boa rabanada, a lembrar-nos que bem podíamos fazer mais vezes este doce que costumamos confinar ao Natal.
Para quem quiser fazer em casa este prato, contacte a Origem Transmontana (Luís Portugal). Em Cascais, o supermercado VIP vende produtos da Origem. A receita para o cozinhar está aqui no blog e é da Justa Nobre:
http://conversasamesa.blogs.sapo.pt/13925.html
Informação da autarquia sobre o
Festival do Butelo e das Casulas 2015
Bragança é, de 20 a 22 de fevereiro, destino obrigatório para os amantes da boa gastronomia e dos sabores únicos da cozinha tradicional transmontana.
O Festival do Butelo e das Casulas, de 20 a 22 de fevereiro, serve de pretexto para uma visita mais demorada a Bragança, onde os saberes e sabores ancestrais e intocáveis de uma gastronomia o farão querer regressar vezes sem conta.
Não vai, certamente, querer ir embora sem provar o bom fumeiro, acompanhado do pão caseiro e vinho transmontanos, seguido do butelo com casulas, bem regado com o azeite da terra. No final, perca-se com uma sobremesa bem tradicional.
Aproveite que o dia ainda vai a meio e, caminhando, vá até à tenda na Praça da sé, em pleno centro histórico, onde o esperam 18 expositores com butelo e casulas e produtos da terra. Se gostou do seu almoço, porque não levar para casa os produtos de Bragança e confecioná-los? Surpreenda amigos e família com um manjar dos deuses.
Já que está na zona histórica de Bragança, deixe-se levar pelos sons dos gaiteiros e dos Caretos que, durante os três dias do Festival do Butelo e das Casulas, irão animar as ruas da nona cidade mais antiga do País, e visite os monumentos e equipamentos culturais que fazem de Bragança uma das mais marcantes viagens da sua vida.
A “um passo” da Praça da Sé, encontra o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, onde o esperam magníficas exposições, de António Dacosta e de Graça Morais, perfeitamente integradas num edifício, da autoria do arquiteto Souto de Moura, e cujo projeto foi já distinguido a nível nacional e internacional. Siga rua abaixo e, uns metros à frente, está no Centro de Fotografia Georges Dussaud. Entre, aproveite o silêncio, e viaje através do trabalho do fotógrafo francês. Continue, sempre em direção ao Castelo, e não deixe de visitar o Museu Abade de Baçal, que integra a Rede Portuguesa de Museus.
Já que almoçou bem, suba a encosta e entre na Cidadela do Castelo de Bragança. É aqui que começa a segunda fase da sua viagem: uma viagem pelo tempo. Perca-se nas ruelas, onde continua bem presente o espírito de camaradagem e boa vizinhança. Visite o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, onde conhece de perto os trajes e máscaras dos Caretos portugueses e espanhóis.
Entre, depois, no mais belo Castelo de Portugal: o Castelo de Bragança, e passeie pelas salas, que acolhem o Museu Militar, o segundo do género mais visitado em todo o País. Não deixe de subir ao topo da Torre de Menagem, onde pode apreciar a bela vista e comprovar que, mesmo vista de cima, Bragança é uma cidade inesquecível.
E já que está na Cidadela, não pode ir embora sem visitar a Domus Municipalis, um exemplar único em toda a Península Ibérica, e a Igreja Santa maria do Sardão. Termine o seu passeio percorrendo as muralhas.
Bragança é isto, mas muito mais. E só com uma visita pode comprovar.
Para ir abrindo o apetite, a Semana Gastronómica do Butelo e das Casulas arranca já no dia 13 de fevereiro, nos 28 restaurantes aderentes, onde os paladares transmontanos serão os verdadeiros protagonistas deste verdadeiro festival de sabores.
Bragança, 2 de fevereiro de 2015