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Conversas à Mesa

A COMIDA QUE MATA A MESA

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Nas Simposíacas, Plutarco analisa o banquete, como antes já o havia feito Platão. Nascido no século I d.C., este filósofo grego que se tornou romano afirma que o banquete não tem lugar para dar prazer ao corpo, mas sim ao espírito. Depois de o estômago satisfeito com a comida, chega a altura do verdadeiro banquete, o do espírito, que tem lugar entre o vinho e as conversas. Quando o corpo está alimentado, pode falar a alma. Interroga-se Plutarco sobre quais serão os temas mais adequados a essas conversas: «Qual das mãos de Afrodite feriu Diómedes», «Quais são os gracejos permitidos?», «Podem discutir-se questões filosóficas?» e «políticas?». Faltaram-lhe duas das mais candentes perguntas: «Será lícito falar constantemente de comida à mesa?» e «Será educado tirar fotografias à comida?».

Nós portugueses que nos orgulhamos da nossa cozinha mediterrânica actualmente definida também, ou sobretudo, pela convivialidade, de que falamos à mesa?

Falamos demais em comida. Comemos e falamos do que já comemos, do que estamos a comer e do que vamos comer amanhã e depois. À mesa, a comida pertence ao reino do corpo e do espírito, tudo avassala.

 

Tão importante se torna a comida que não há comensal que se preze que não tire fotografias ao que está a comer. Receio até que as redes sociais já tenham mais fotos de pratos do que de cãezinhos e gatinhos. Não há programa de televisão, seja ele de automobilismo, de arquitectura ou de história, que não fale em comida e não ilustre a provocação descarada da food porn. Ainda não chega? Será que a comida tem mesmo de matar a mesa?

Bom Ano, com boas comidas e boas conversas.