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Conversas à Mesa

NOVOS ACTOS ANTIPATRIÓTICOS

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Hoje foi dia de fazer mais actos antipatrióticos, que é para isso que vim até ao Algarve. Depois de grandes banhos com água do mar tão boa que era impossível abandonar, de sol e brisa na praia do lado português, chegou a hora de cumprir a missão e rumar a Espanha.

Esta coisa custa-me sempre. Ainda hoje sinto os terrores e os suores frios que me acometiam ainda criança quando saia do barco em Vila Real de Santo António tentando esconder o saquitelo com os caramelos e as alpergatas de corda. Hoje, quando, distraída, quase passo a fronteira a meio da ponte sem dar por isso, sobrevem-me um ataque de pânico. Sinto-me em falta e é a falta dos terrores das alpergatas que me aterroriza.

O primeiro acto antipatriótico (que me desculpe o governo) foi logo na bomba da gasolina, onde em cada depósito se poupam vinte euros.

 

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Depois são as compras e as refeições com o IVA mais baratinho. Hoje petisquei em Ayamonte, umas ovas de choco (boas, bem temperadas, mas congeladas, claro), uma boa salada de tomate e uns calamares fritos na perfeição, apenas aconchegados numa finíssima camada de polme.

 

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Amanhã a attitude é totalmente patriótica, com um jantar na Noélia. A fasquia está alta.

 

ACTOS ANTIPATRIÓTICOS NO ALGARVE

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Chegada ao Agarve para uma curta estadia, além de outros actos antipatrióticos, também fui fazer compras a Espanha com um IVA e preços mais baixos do que os nossos. No supermercado, defronto-me com este produto e, de imediato, achei que devia fazer uma detox, coisa moderna. Aquela imagem que usam da pessoa a ver-se «livre do lixo acumulado» é terrivelmente atraente. Faz-me até pensar em algum lixo psicológico, não que eu felizmente tenha muito, porque tenho fraca memória e esqueço com extrema facilidade. E aquele pequeno frasco de fruta e legumes ia fazer-me um bem incalculável.

Hoje tomei-o antes do mata-bicho. Não é desagradável, tirando o imperialismo do aipo que empresta aquele sabor a sopa a tudo em que toca. Após uma embalagem desintoxicante, o meu estado de espírito está desintoxicado e pronto a mergulhar nas águas oceânicas. O que é preciso é ter fé.

 

 

JANTAR NO CINEMA

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A última vez que lá estive dentro foi há muitos muitos anos, para ver um filme cantado com a Madalena Iglésias e o António Calvário, O Sarilho de Fraldas, após uma dura negociação com a minha mãe, pouco entusiasta deste tipo de histórias. Pouco depois, este cinema encerrava as suas portas. Após o 25/4 sobreviveu à base dos filmes pornográficos, tal como o seu vizinho da frente, o Politeama. Estou a falar-vos do Odeon, uma sala de cinema que inaugurou na década de 20, quando a zona da baixa lisboeta em torno dos Restauradores brilhava com as luzes de vários clubes nocturnos, como o Negresco, o Maxim’s ou o Majestic.

 

 

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O Odeon era famoso pela sua galeria metálica envidraçada, pelo lindíssimo tecto em madeira exótica e pelo frontão de palco Art Déco. Célebre era também o enorme lustre que pendia desse tecto de pau-brasil, infelizmente roubado e desaparecido. De início lá passavam grandes filmes, dirigidos por Eisnstein, Ford ou Cukor, mas a grande fama do Odeon fez-se à custa de filmes portugueses, espanhóis e mexicanos, Joselito, Polegarcito, Marisol e Cantinflas.

Propriedade de diversos sócios, o Odeon esteve à venda durante muitos anos e teve vários projectos não concretizados, até que recentemente foi comprado por uma empresa que o transformará em seis apartamentos, um restaurante de topo (cujo tecto será o tal em madeira exótica) e um bistrot (no palco).

Foi neste cenário completamente delabré que teve lugar mais um jantar Silver Spoon, uma empresa dinamarquesa dirigida pela adorável Tiffany que tem o maior faro para descobrir sítios improváveis como, por exemplo, estações de metro ou prédios abandonados, para local de jantares temáticos. Cada um destes locais é meticulosamente preparado, para que tenha as condições de higiene e segurança indispensáveis, mas sem perder o desconcertante ar de abandono. Cada refeição tem um tema; o deste último foi a moda “Dirty Model Edition”, que explora o lado mais negro da moda.

 

 

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Os aperitivos foram servidos no passeio fronteiro ao cinema – cocktails e espetadas de camarão espetadas numa das portas da rua. Depois, entrámos, todas as cerca de 70 pessoas, para nos sentarmos nas duas compridas mesas alinhadas na antiga plateia. Todo o cinema está decorado com belíssimos vestidos dos Storytaylors, que contribuem para tornar um deslumbre o estado de decadência da sala. No palco, estão já as equipas de cozinheiros a trabalharem, lideradas por Pascal Meynard, do Ritz, e por Adrien Norwood, um californiano atualmente a trabalhar na Dinamarca.

Na entrada, está em destaque o bar e os seus barmen, que terá uma importância crucial ao longo de todo o jantar, com os spirits a dominarem sobre o vinho (destaco o branco da Herdade do Cebolal, um alentejano de 1998, doce no nariz e seco na boca). Os barmen harmonizaram todo o meu jantar com fantásticos cocktails não alcólicos à base de fruta.

Louvo também a boa dimensão do jantar, com 4 pratos e uma sobremesa. Mais do que isto, começa a tornar-se entediante. Louvo ainda o belíssimo trabalho do chef de mesa e escanção.

 

Ementa

 

 

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O prato em vidro reflecte o magnífico tecto de pau-brasil. Atum salgado com limão e vodka e atum albacora (o único de carne branca) com azeitonas e alcaparras fritas e queijo-creme

 

 

 

 

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Ostra, yuzu, alga nori e gengibre (com champanhe Perrier-Jouet, grand brut)

 

 

 

 

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Bife tártaro com sementes de girassol, maçã, alcachofra-de-jerusalém e maionese de alho queimado. Um prato fantástico, para mim de longe o melhor, apelidado de Skinny Bitch.

 

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Beterraba de três maneiras (assada, fresca e em redução), franguinho, kumquat, bagas, aipo, aipo-rábano, óleo de pinhão e molho de pimenta, o Dirty Terry (vejam na net o que quer dizer). Havia ainda uma espécie de árvore com folhas de beterraba desidratadas e umas deliciosas folhas de molho de cogumelos picante desidratado.

 

 

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Sorvete e creme de mirtilos, pimenta, manjericão e coco (com um verdelho da madeira, Cossart Gordon, 5 anos).

 

 

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Adrien Norwood e Pascal Meynard, os chefs responsáveis pelo jantar 

 

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Tiffany e Armando Ribeiro 

 

 

Esperam-se mais jantares no Porto. Sigam o FB da Silver Spoon e, se puderem, não percam esta experiência.

 

 

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