O ATLÂNTICO DE JORGE FERNANDES
Fui lá almoçar a semana passada. Cheguei à 1 hora e saí de lá eram quase 5, porque estava uma tarde incrível, o local é especial e a comida do meu completo agrado. Voltei lá esta semana, para experimentar mais pratos e sai de lá com o mesmo agrado. Estou a falar daquele que, neste momento e por um feliz conjunto de circunstâncias, passou a ser um dos meus restaurantes preferidos em Cascais, mais propriamente no Monte Estoril, o Atlântico.
Situado numa pequena vivenda, pertence ao complexo do Intercontinental, que inclui o hotel e vários apartamentos, ocupando desde o ano passado o lugar do destruído Atlântico. O local está recheado de história, mas esta passa ao lado da maioria dos que ali gozam o nosso sol e a nossa comida.
Neste mesmo local, nascia em fins do século XIX , um palacete mandado edificar por Francisco Barahona Fragoso, advogado alentejano. Depois de passar por várias mãos, nomeadamente as do riquíssimo e santomense visconde de Malanza, cuja fortuna se fez no cacau. Na década de 30, aqui nasceu o Hotel Atlântico pela mão de um casal de holandeses que, por razões económicas acabaram por ter de o vender em 1939, que o ampliou. Durante a Segunda Guerra, era frequentado sobretudo por espiões alemães, mas também por judeus e ingleses, enquanto no vizinho hotel Palácio, as conspirações estavam mais a cargo dos Aliados.Ainda durante a Guerra, mais precisamente em 1941, sofreu grandes obras de ampliação.
Chalet Barahona
A bandeira nazi no já Hotel Atlântico no pricipio da década de 40
O projecto de 1941
Em 2007, encerrou e foi abatido, tendo dado lugar a uma construção completamente nova quase toda em vidro, reflectindo o oceano que lhe dá o nome. Inclui três andares de hotel (Intercontinental) e os restantes de luxuosos apartamentos. No jardim, encontra-se uma piscina de dimensões mais reduzidas do que a anterior, mas também de água salgada.
Mas falemos do restaurante, de seu nome Atlântico, chefiado por Jorge Fernandes, com quem falei no fim da primeira refeição. A ideia deste chef era criar naquele uma alternativa aos restaurantes de peixe grelhado que pululam na zona ribeirinha de Cascais. Há, efectivamente, mais peixe para além do grelhado na nossa cozinha tradicional assim como em outras cozinhas que também passam pela ementa criada por este chef para aquele restaurante de localização tão especial. Por outro lado, estando o restaurante situado num hotel, havia que satisfazer vários gostos com risottos, massas e saladas. Contudo, a carta é esmagadoramente de peixe, apenas com 3 pratos cárneos: um prego de lombo em bolo de caco, um entrecôte e um magret de pato. Tudo o resto é peixe, cozinhado das mais diferentes formas. Da cavala, ao bacalhau, passando pela garoupa, peixe galo e atum, do tártaro ao ceviche, e ao carpaccio, sem esquecer os portuguesíssimos peixinhos da horta, a petinga frita e a salada de polvo. Nas entradas mais contemporâneas alternam camarões em massa kadaiff com tempura de choco e gyosas de camarão.
A ementa permite também petiscar e partilhar devido a uma enorme lista de pequenos pratos. Ao almoço, há ainda a opção do menu executivo com bebida por 25 euros (dias de semana), um bom preço para a oferta. Há ainda pratos especiais para crianças, onde se inclui uma sopa de legumes).
Menu executivo
A merecer também referência, a belíssima e confortável decoração marítima à base de azuis, brancos e verdes. Sempre que o vento permita, não deixe de optar pela varanda.
Jorge Fernandes trabalhou vários anos com o chef António Bóia no hotel Ritz e no Praia Caffé. Faz parte das equipas olímpicas de cozinha. Os meus parabéns por ter construído uma ementa equilibrada a pensar nos clientes, com cozinha e produtos portugueses e com criatividade.
Manteigas, pâté de atum e queijo em azeite
Tártaro de cavala com tomate
Tataki de atum com puré de batata-doce, pak choi miniatura e pastelinho frito de atum
Parfait de coco com ananás e sorbet de rum
Brownie com frutos vermelhos
Salada César de camarão (16 euros)
Salada de queijo de cabra (12 euros)