Nunca tinha experimentado uma francesinha e, confesso, nada nela me atraía. Não é uma sandes, porque não é adequada para comer à mão, dado a envolvência viscosa e a incontornável presença do molho, será antes um prato, uma vez que se come de faca e garfo. O seu antepassado poderá ter sido o croque madame (o que tem o ovo estrelado), no qual se terá inspirado um tal Sr. Daniel Silva, emigrado em França nos anos 50. Regressado à terra, foi trabalhar no restaurante Regaleira, onde começou a fazer a francesinha. Para lhe dar um ar ainda mais portuense e para a tornar diferente, juntaram-lhe um molho mais ou menos picante.
A francesinha tornou-se um fenómeno de popularidade da fast food portuense, sendo assim que deve ser encarada. Uma espécie de hamburguer tripeiro. Será completamente deslocado eleger a francesinha como um ex-libris da cozinha do Porto, que inclui pratos riquíssimos e sem qualquer tipo de comparação com ela.
Analisemos então a francesinha enquanto fast food. Para começar não é propriamente barata, situando-se as melhorzinhas entre os 8 e os 12 euros. A sua composição é, por definção, à base de produtos de pouca qualidade. O pão é básico: fatias de pão de forma, industrial na maioria das vezes. Depois há a secção das carnes: fiambre (muitas vezes fiambrino, um aglomerado de restos de carnes e gorduras) mortadela, salsicha e carne assada fatiada ou, nas de melhores famílias, um bifinho da vazia ou do lombo. A enclausurar este gangue de delícias, faz-se uma gaiola de fatias de queijo flamengo e leva-se ao forno a derreter. Como opção, pode ainda juntar-se a este arraial de carnunças um ovo estrelado. Isto é mais ou menos igual em todo o lado, o que difere é o tipo de molho, mais ou menos gorduroso, tomatoso e picante.
Pois foi na minha recente ida ao Porto que uns amigos me convenceram a provar uma francesinha. Segundo me disseram, uma das melhores do Porto, com o molho mais equilibrado. As minhas impressões? Acho que pode ser melhorada se forem usados produtos de mais qualidade. Um bom pão, com alguma textura que ofereça resistência ao dente, um bom queijo que derreta bem de modo a que saia do forno bem tostado com aquelas belas bolhas castanhas, o ovo mal passado lá em cima, enquanto cá em baixo se podia melhorar a qualidade das carnes, que nunca o fiambrino ou a mortadela. Deixem-me dizer-lhes que a francesinha não ficaria mal vista num dos programas do Guy Fieri. Só lhe falta o açúcar mascavado. Para já, é um bom e original exemplo do fast food portuense, sendo bem compreensível a paixão que na Invicta desperta.
A minha primeira francesinha foi comida no LADO B, que também serve outros pratos, como estes deliciosos naquinhos de vitela com grelos e batata, e representa no Porto o Melhor Bolo de Chocolate do Mundo.