O CASCALENSE MARIA PIA
Funciona no local do antigo Marégrafo, no Clube Náutico de Cascais, por onde passaram gerações e gerações de miúdos da zona para aprenderem a velejar. Chamaram-lhe Seafood Lounge e ainda assim tem tudo para ser um êxito: a localização (no centro de Cascais), a vista (deslumbrante da baía), a decoração (despretensiosa e colorida, com uma linda da imagem do quadro de 1862 da rainha Maria Pia, princesa italiana casada com o nosso D. Luís) e o chef (Pedro Mendes, interessado pelos produtos portugueses e com talento para os sabores e temperos).
Mas, no fim das duas refeições que lá fiz, saí um pouco desiludida. A principal razão prende-se com a escassez de proteína na maioria dos pratos que experimentei (foram quatro).
Foi o caso do prato de «camarão tigre panado com sésamo, salada de algas, gengibre e molho de soja», a 35 euros. Sobre umas folhas de salada, espalhavam-se estilhaços de um camarão tigre. Estranhamente, a casca da cabeça e da cauda estavam panadas: o aparelho (o nome que em cozinha se dá, neste caso, às sementes de sésamo que servem para panar) estava do lado de fora da casca e do lado de dentro não havia nada para comer. Como se vê na foto, num prato de 35 euros, comestíveis eram apenas quatro pequenos anéis de 2 cm de diâmetro e 2 cm de espessura e uma pequena arte da cauda. E era tudo.
Experimentei também a açorda negra de marisco com choco frito (15 euros). A açorda muito saborosa, salgada da tinta de choco, com alguns camarões, mas o choco muito escasso, apenas o corpito de um exemplar pequeno, de boa qualidade e bem frito.
Na segunda vez, o restaurante estava praticamente vazio. O chef estava à mesa com jornalistas a filmar um almoço para uma cadeia de TV. Os nossos pratos demoraram cinquenta minutos a chegar à mesa.
Desta vez, risoto de camarão (15 euros) e um arroz de lingueirão com filetes de robalo (15 euros para 1, 24 euros para 2).
O risotto tinha meia dúzia de camarões enrolados e cumpriu o que se podia esperar dele.
Quanto ao Arroz de lingueirão com filetes de robalo, das duas uma, ou o arroz era seco e feito com agulha ou era do tipo amalndro e feito com carolino. No caso do Maria Pia era do tipo malandro mas feito com agulha. Como este absorve pouca água, depois de comido o arroz, lá ficaram dois dedos de líquido no fundo do tachinho, sem qualquer função no prato.
Os filetes não eram filetes, mas sim goujons, tiras com 1 cm de largura de peixe, por sinal belíssimo e sem excessos de tempero. Acredito que, em função do demoníaco food cost, por 15 euros não se possa fornecer mais quantidade de robalo do que aquela, mas é insuficiente para um prato anunciado como «filetes de robalo».
No campo das sobremesas, experimentei uma saborosa e cremosa torta de laranja e «o coco e a lima». Neste último, o «crepe» de coco estava seco, quase não se conseguia rapar do prato.
No Maria Pia, a localização é desejável, a decoração agradável e colorida e a comida com sabor (há ali mão de um bom cozinheiro), mas há um problema com as quantidades de proteína do mar, o elemento principal de quase todos os pratos. qua
nto ao serviço, poderia ser um pouco mais cuidado. por exemplo, poder-se-ia evitar a garrafa de água em cima da mesa, para o cliente se ir servindo.