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Conversas à Mesa

OS VINHOS DO BARÃO NO TÁGIDE

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Os vinhos do Casal de Santa Maria tiveram origem num sonho do barão Bodo von Bruemmer, não um daqueles que tinha acordado, mas um que sobreveio pela calada, enquanto dormia profundamente devido a uma anestesia geral. O Barão, com a idade de 95 anos, sonhara que a sua próxima vocação era tornar-se viticultor. Menos de um mês depois já havia vinhas plantadas na sua propriedade da região de Colares.

Tive a sorte de estar com o Barão em dois jantares vínicos, já tinha ele mais de 100 anos. Contudo, a sua felicidade ao falar dos vinhos do Casal de Santa Maria permanecia bem visível no seu rosto. Faleceu o ano passado, após ter vivido em Portugal desde a década de 1960 e feito belíssimos vinhos na zona de Colares, a menos de 200 metros do mar.

O Tágide foi o hospedeiro de um jantar de homenagem ao Barão. Os vinhos foram, evidentemente, do Casal de Santa Maria e o jantar de degustação esteve a cargo do chef Gonçalo Costa, há alguns meses a trabalhar neste restaurante. O Tágide parece estar finalmente em boas mãos e ter encontrado o seu rumo após um percurso um pouco ziguezaguiante. Ainda bem, já que se trata de um restaurante com todas as condições para o sucesso absoluto, nomeadamente a fantástica vista sobre Lisboa.

A representar o Casal de Santa Maria esteve Nicholas von Bruemmer, neto do barão e novo proprietário, que se mudou da Suíça para Portugal a fim de continuar o sonho do avô. Toda a família adora viver em Portugal. Os meus parabéns por terem aceite o desafio desta região vínica tão especial.

 

 

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Nicholas von Bruemmer, neto do Barão e o novo rosto do Casal de Santa Maria

 

Os vinhos desta região de Colares, tão vizinha do mar, enfrentam muitas dificuldades, a que resistem galhardamente, nomeadamente a escavação de vários metros a que obrigam os solos de areia, até que seja encontrado o «fixe» argiloso. Há um século atrás, os homens escavavam sempre com um grande chapéu de abas curvas que lhes permitia ter uma bolsa de ar para respirarem quando a areia desabava e ficavam soterrados.

Posso dizer-vos que a minha harmonização favorita foi o Pinot Noir com o lombo, a beterraba e o mirtilo. Não sei porquê mas ando a gostar imenso desta casta de cor pouco profunda e cujos aromas a frutos vermelhos casaram muito bem com o prato de carne. O cantaril estava fantástico. Para a sobremesa ficou uma casta extraordinária, a Ramisco, já existente desde o século XIII. Um vinho com 10 anos, intenso mas com frescura suficiente para casar com a panna cotta e os seus frutos vermelhos.

 

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Carpaccio de vieiras com gel de laranja e molho de caviar

Sauvignon blanc 2016

 

 

 

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Terrina de carnes de caça e foie, vinagrete de romã e avelã

Merlot 2014

 

 

 

 

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Cantaril da nossa costa com batata confit e molho de coco e coentros

Chardonnay 2015

 

 

 

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Lombo de vitela sobre puré de beterraba e mirtilo com cogumelos de Outono

Pinot Noir 2014

 

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Pannacotta de tomilho com frutos silvestres e caramelo

Ramisco 2007

 

Para finalizar, um Colheita Tardia 2014

 

 

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Gonçalo Costa, chef do Tágide, apresentou uma magnífica refeição com produtos da época, leve e bem harmonizada com os vinhos do Casal de Santa Maria.

 

 

O Tágide abriu portas em 1950, como restaurante-boîte onde até Charles Aznavour cantou, mas a história deste restaurante fica para um outro post.

 

 

Tágide

O Tágide tem um menu de almoço a 18, 50 €.

Largo da Academia Nacional de Belas Artes, 18 

1200-005 Lisboa

 

VIRIATO NO PRATO: SERRA DA ESTRELA 2

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Tendo passado a noite no hotel H2O, resolvemos almoçar na localidade, Unhais das Serra, num curioso restaurante temático, Lenda Viriato, para o qual se pode ir a pé do hotel. Antes do almoço, um passeio pela bonita aldeia é de rigueur. Há várias lojas abertas ao fim-de-semana, com os lindíssimos e quentinhos produtos da região: mantas de lã, pantufas, luvas e chapéus, etc. Eu trouxe uma manta suave e de bonito padrão geométrico e botas-pantufas e luvas para a minha neta.

O restaurante segue o tema da luta dos lusitanos contra o invasor romano. Por muita simpatia que eu tenha pelos povos oprimidos, sempre torci pelos romanos e pala sua cultura contra a dos bárbaros. Porem, o meu coração está com Viriato, o primeiro herói a lutar pela nossa autonomia, numa história que inclui a traição (provavelmente, toda a lenda será de origem romana), devidamente punida. Enquanto comemos vamos vendo essa história contada nas paredes do restaurante através das boas reproduções das armas lusitanas, pelos trajes dos empregados de sala, vestidos de romanos ou de lusitanos e pela divertida encenação em que é contada a história de Viriato. A ementa completa a lenda através do uso de produtos locais, como os enchidos e os queijos, o cabrito, a caça, as trutas ou as papas de carolo, em pratos saborosos e fartos. Além de boa qualidade das carnes, saliente-se a variedade de bons acompanhamentos que as valorizam. Boa comida aliada a um ambiente leve e divertido, ideal para contar com orgulho a nossa história às crianças.

 

Convém telefonar a reservar

 

Lenda Viriato

http://lendaviriato.pt

R. de Santo Aleixo 16, 6215-698 Unhais da Serra

Tel:  275 971 252

 

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 Entra-se no restaurante através da reconstituição de uma casa dos lusitanos. Neste localfoi durante dezenas de anos o forno comunitário de Unhais da Serra.

 

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 Pasta de azeitona

 

 

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Uma belíssima broa e pão de centeio 

 

 

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Os folhados de alheira, o que menos recomendo: muita massa (pesada) e pouco recheio

 

 

 

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O cabrito, boa matéria prima, frescura e boa confecção 

 

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Acompanhamento de cogumelos

 

 

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Um refrescante acompanhamento de couve para a caça

 

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Veado estufado, muito bem temperado sem exageros vínicos e com a carne macia

 

 

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O javali, na linha do veado 

 

 

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As batatas eram deliciosas de qualidade 

 

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Pudim de abóbora: as sobremesas são louvavelmente tradicionaisIMG_6503.jpg

 Nas paredes também se conta a história dos lusitanos 

 

 

 

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e do púlpito também

 

FIM DE SEMANA NA SERRA DA ESTRELA 1

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É sempre agradável e surpreendente o nosso Portugal, que se me vai revelando em fins-de-semana. No último, reuniu-se um grupo de amigos para rumar à região covilhanense da serra da Estrela, ainda completamente careca de neve.

A primeira noite foi passada no surpreendente hotel H2O, situado em Unhais da Serra, num entorno de paisagens lindíssimas, ideal para hiking e passeios de bicicleta. Quando entramos, temos a sensação de estar num pequeno abrigo de montanha, apesar de o hotel ser enorme, rodeados que ficamos dos ícones e confortos serranos.

 

Antigamente faziam-se férias familiares nas termas, hoje vai-se para quaisquer Caraíbas, tomar banho em águas quentes e chocas. Estaria na altura de recuperarmos essa magnífica tradição de fazer termas, hoje eventualmente de inverno devido às novas condições hoteleiras. É para toda a família e faz bem à saúde, podendo ainda optar por uma determinada dieta

 

 

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O H2O gira em torno das termas e do spa, dotado de uma piscina de águas quentes, simultaneamente interior e exterior e enriquecida com inúmeros jorros e pontos de massagem. Dentro de umas caves artificiais que se elevam de um dos lados da piscina encontram-se os jacuzzis, banhos turcos, sauna, spa, etc. E logo ali, as termas, indicadas para ossos e aparelho respiratório.

 

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Liderado pelo chefe Hugo Araújo, o restaurante pode proporcionar-nos uma dieta de emagrecimento agradável ou uma moderna ementa de degustação. Claro que optei pela última… Gostei imenso do jantar, elaborado com produtos de qualidade, que o chef confecciona com mestria, deixando-os brilhar sozinhos ou adornados com lógica. São pratos com uma inteligente leveza, mas ao mesmo tempo reconfortantes para o inverno frio da Estrela.

 

 

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IMG_6432.jpgLavagante

 

 

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Tártaro de bacalhau  

 

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Bife de Angus com foie e tutano

 

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No próximo post, continuamos com o resto do fim-de-semana.

 

 

 

 

MESÓN CON PATRÓN

Já conheço o Méson Andaluz há dezenas de anos, desde o tempo em que estava instalado num primeiro andar de um centro comercial da Parede. Sempre com um denominador comum, a presença constante do patrão, o Sr. Ilídio, que não passam os anos por ele, e da qualidade. Pode dizer-se que hoje o Mesón tem um público diferente, os turistas que se sentam nas vizinhas escadinhas abaixo, à procura dos petiscos e das tapas, mas nem falta a presença do Sr. Ilídio nem a da qualidade.

O Méson ainda serve da mesma forma os antigos clientes, que vêm por exemplo, pelo clássico cordero lechal. Pena que a crescente vertente das tapas, sempre óptimas, tenha perdido a exposição no balcão, assim como se perderam os lugares no dito, pelas características físicas das novas instalações. São estas lindíssimas, destapados que foram os belos arcos de tijolo burro que constituem grande atracção estética. Da decoração típica do Mesón conservam-se certos detalhes andaluzes, como as grades de ferro forjado, e os típicos azulejos com dizeres e ditados.

 

A refeição iniciou-se da forma mais agradável, com um belíssimo presunto da casa Juan Pedro Domecq, oriundo de ibéricos criados durante grande parte do tempo no montado. Esta empresa está ligada a uma família de ganaderos e de vinho de Xerês. Muito saboroso, com sua a gordura intersticial, bem cortado, com uma boa razão de gordura externa e servido à temperatura certa. Bem acompanhado com os picos (tipo grissini) que competem.

 

Seguiram-se o fabuloso gaspacho andaluz com a sua anchova, os ovos rotos, as puntillitas com maionese de alho e o foie.

A fechar, o cordero lechal que se mantém lechal, a destacar-se do osso.

 

 

A parte líquida da refeição não foi menos dispiceinda, a cargo de dois vinhos resultantes do casamento entre uma filha de família alentejana proprietária de vinhedos velhos no Alentejo (Murteirinha) e um enólogo, Maria e André Herrera de Almeida. A marca dá pelo lindo nome de Duende e os vinhos são de edições muito limitadas.

 

Bebeu-se o B de Duende (branco de guarda, 100% Rabo de Ovelha, com um ano em carvalho e seis em garrafa) e o D de Duende (tinto, metade Cabernet Sauvignon e metade Syrah, 5 anos em barricas novas e 5 anos em garrafa). O conceito dos vinhos está ligado à fusão de castas nacionais com outras estrangeiras e resulta em vinhos extremamente gastronómicos, que valorizaram a refeição.

Depois de bastante tempo ausente, lembrou-me esta refeição de que tenho de vir mais vezes ao Méson Andaluz. 

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Já conheço o Méson Andaluz há dezenas de anos, desde o tempo em que estava instalado num primeiro andar de um centro comercial da Parede. Sempre com um denominador comum, a presença constante do patrão, o Sr. Ilídio, que não passam os anos por ele, e da qualidade. Pode dizer-se que hoje o Mesón tem um público diferente, os turistas que se sentam nas vizinhas escadinhas abaixo, à procura dos petiscos e das tapas.

Porém, o Méson ainda serve da mesma forma os antigos clientes, que vêm por exemplo, pelo clássico cordero lechal. Pena que a crescente vertente das tapas, sempre óptimas, tenha perdido a exposição no balcão, assim como se perderam os lugares no dito, pelas características físicas das novas instalações. São estas lindíssimas, destapados que foram os belos arcos de tijolo burro que constituem grande atracção estética. Da decoração antiga conservam-se certos detalhes andaluzes, como as grades de ferro forjado, e os típicos azulejos com dizeres e ditados.

 

 

 

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A refeição iniciou-se da forma mais agradável, com um belíssimo presunto da casa Juan Pedro Domecq, oriundo de ibéricos criados durante grande parte do tempo no montado. Esta empresa está ligada a uma família de ganaderos e de vinhos de Xerês. Muito saboroso, com sua a gordura intersticial, bem cortado, com uma boa razão de gordura externa e servido à temperatura certa. Bem acompanhado com os picos (tipo grissini) que competem.

 

Seguiram-se o fabuloso gaspacho andaluz com a típica anchova, os ovos rotos, as puntillitas com maionese de alho e o foie.

A fechar, o cordero lechal que se mantém lechal, a destacar-se do osso.

 

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A parte líquida da refeição não foi menos dispiceinda, a cargo de dois vinhos resultantes do casamento (literal) entre uma filha de família alentejana proprietária de vinhedos velhos no Alentejo (Murteirinha)e um enólogo, Maria e André Herrera de Almeida. A marca dá pelo lindo nome de Duende e os vinhos são de edições muito limitadas.

 

Bebeu-se o B de Duende (branco de guarda, 100% Rabo de Ovelha, com um ano em carvalho e seis em garrafa) e o D de Duende (tinto, metade Cabernet Sauvignon e metade Syrah, 5 anos em barricas novas e 5 anos em garrafa). O conceito dos vinhos está ligado à fusão de castas nacionais com outras estrangeiras e resulta em vinhos extremamente gastronómicos, que valorizaram a refeição.

 

Depois de bastante tempo ausente, lembrou-me esta refeição de que tenho de vir mais vezes.

 

 

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