Conheci pessoalmente a chef Luísa Fernandes há pouco tempo, mas há muito que a conhecia através das redes sociais.
A sua história é muito interessante: enfermeira de profissão, abriu simultaneamente um pequeno restaurante, o Tachos de S. Bento, mas nunca esqueceu o seu sonho de miúda, que era ir trabalhar para Nova Iorque. Com 50 anos emigrou para a capital estado-unidense. Começou por trabalhar nos inevitáveis restaurantes lusos de Newark, onde existe grande comunidade portuguesa. O que a catapultou para uma vida melhor, terá sido a sua vitória no concurso Chopped e o curso que fez na Cordon Bleu de Boston. Algum tempo depois, chega o prémio do seu esforço ao assumir a chefia do Robert, um conhecido restaurante nova-iorquino onde pode dar a conhecer alguns pratos da cozinha portuguesa a personalidades famosas, como o ex-presidente Obama.
Mas nunca esqueceu a sua terra e em 2017 resolveu regressar. Abriu um restaurante dedicado ao mar, o Peixe na Avenida. Fui conhecê-lo recentemente e gostei tanto que regressei logo de seguida para outra refeição.
Da primeira vez que lá jantei percebi de imediato que a Luisinha, como muita a gente a trata carinhosamente não pela sua estatura mas por ser gentil e carinhosa, dizia eu que a Luisinha tem muita mão para os temperos. Essa arte foi visível em dois pratos, um brasileiro, a moqueca baiana, com peixe do dia, camarão, leite de coco, óleo de palma e mandioca (17 euros) e o caril de Goa, com camarão, caranguejo e arroz de cardamomo (23 euros). Neste último a mistura do caril muito equilibrada e suave, adequada ao nosso paladar, estando o caranguejo desfiado. Nenhum destes pratos que se comem de talher devem trazer animais com casca, e o caril trazia um camarão grande com casca, maior do que os descascados e que estava um pouco mole, o que não faz sentido. Um pormenor. Quanto à moqueca, estava também bem temperada, sem excessos de óleo de palma e com um bom peixe. Para entrada, comi o atum braseado dos mares dos Açores, escabeche de uvas da herdade Vale da Rosa e cebola-roxa (11 euros), sendo a matéria-prima muito boa e provindo a acidez das uvas e não do atum, o que se torna muito agradável.
Da ementa constam ainda sushis, sashimis e ceviches e peixes do dia ao peso, grelhados, fritos ou no sal.
Porém, a grande surpresa surgiu na minha segunda ida ao restaurante, desta feitra a convite da chef para experimentar uma novidade: um cozido de peixe. Servido em duas grandes travessas para 4 pessoas, trazia dois tipos de peixe, robalo e garoupa, caras de bacalhau, atum, camarões, polvo. De legumes, os clássicos, todos fresquíssimos: couve, cenouras, batata, nabo, feijão, sendo o arroz de coentros. Enchidos, todos do mar, inspirados nos de Leonel Pereira, na temporada de 2016, e na sua morcela de tinta de choco e nas farinheiras de milho. Aqui encontramos uma excelente morcela de choco, arroz e tinta de choco, uma farinheira de camarão e um chouriço de polvo. Como vêm nas fotos tudo em aspecto original. Um prato que resulta magnífico de sabores e frescura, com maior levez do que o cozido de carne. Estará na carta todos os dias, ao almoço e ao jantar a partir de início de Março. Penso que em breve será um clássico. Uma dose fartíssima para duas pessoas custa 49 euros.
O restaurante tem um menu executivo com entrada, prato principal, sobremesa e bebida (que pode ser um copo de vinho) a 14 euros. A não perder ao almoço dos dias de semana.
Peixe na Avenida
Rua Conceição da Glória, 2-6, perpendicular à Avenida da Liberdade, Lisboa (muito perto do parque dos Restauradores).
Tel: 309765939