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Conversas à Mesa

UMA JÓIA NO ESTORIL

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Chama-se Tapearia, mas o nome é redutor. Além de se poder tapear, há também petiscos e pratos principais. Fica situado ao lado do mercado do vale de santa Rita, entre o Alto Estoril e S. João e é propriedade da Teresa e do José Cruz, ele na sala, ele na cozinha. É bonito, arejado e confortável, com as mesas bastante separadas, o que não costuma ser apanágio de muitos restaurantes deste tipo.

Pode comer-se em conta, por exemplo, se duas pessoas partilharem duas ou três entradas e um prato principal e ainda comerem sobremesa a conta pode rondar os 15 euros, com cerveja.

 

 

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 Entrecosto de porco

 

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 Salada de frango, parmesão e maçã

 

 

 

 

 

 

Já lá comi diversas vezes e aqui vos deixo várias sugestões de que gostei. O facto de a maioria dos pratos principais serem cozinhados no vácuo é uma mais-valia nesta casa, já que os temperos equilibrados se entranham nas carnes e nos peixes. Quem queira pode comprar as embalagens de vácuo dos pratos principais e levar para casa (aquecer no forno é o mais aconselhado quando se pretende corar). Neste restaurante tive duas grandes e boas surpresas: primeiro, a criatividade das tapas e dos petiscos, muito diferentes da chapa 1 com que nos confrontamos diariamente. Por exemplo, a Triologia de tapas e imperial traz-nos sempre exemplares criativos e custa 5 euros. No meu dia, consistiam em sardinha com pimento, foie mi-cuit e alheira com ovo de codorniz. Todos saborosos. Os gambas panadas com sweet chilli são sempre de pedir, mas também há um ovo a baixa temperatura com espargos verdes que lhes faz sombra.

 

IMG_8315.jpgTriologia 

 

 

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Bolinhas de alheira

 

 

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 Gambas com sweet chili

 

 

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Ovo a baixa temperatura  

 

 

Se estiver com desejos de saladas, a de frango com parmesão e maçã é uma boa e farta opção que já experimentei. Como pratos principais, os meus preferidos são o entrecosto e as bochechas de vaca, mas o de porco também é muito bem temperado. Os acompanhamentos são à parte e o preço varia entre 1,5 € (batata frita ou assada) e os 2,5€ (legumes assados ou esparregado). A batata frita é feita de raiz e traz um pouco de casca, que lhe dá um sabor mais intenso.

Deixe um bocadinho livre para o bolo de bolacha desconstruído (peça que o sirvam bem frio), é um tratado. A mousse de chocolate é fina e feita a preceito. Gostei menos da panna cotta com limão, mas não sou grande apreciadora do género.

 

 

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Bolo de bolacha desconstruído e panna cotta de limão 

 

 

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 Mousse de chocolate

 

O serviço é rápido e simpático.

Termino como comecei: chamar tapearia a este restaurante de carta tão variada é redutor. Há hoje o hábito de chamar tapas aos petiscos. Tapear é exactamente o mesmo que petiscar, pode ser um croquete, um prato de presunto ou uns ovos mexidos, algo com que se acompanha uma bebida, do género dos nossos tremoços, mas mais janota. Tapa vem de tapar, porque essas comiditas eram guardadas no balcão, à vista do cliente, e tapadas para protecção. Nós gostamos de servir os nossos petiscos com o pão à parte, e este hábito é bem mais saboroso. Quando os espanhóis servem as suas tapas em cima de fatias de pão, chamam-lhes montaditos. Vamos lá puxar pela cozinha portuguesa: tapas é espanhol, petiscos é português.

 

 

 

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Os pratos embalados e cozinhados em vácuo para levar para casa.

 

 

 

Tapearia 

Largo Amália Rodrigues Loja 3

2765-281 São João Do Estoril

Tel: 21 581 4546

https://www.facebook.com/Tapearia/

 

COISAS DO MICHELIN

Não conheço nenhum português que use o Guia Michelin para se orientar na escolha de um restaurante no nosso país, embora muitos sejam os que andam com o Boa Cama Boa Mesa na bolsa do assento do carro. Contudo, atribuímos uma importância nacionalista ao número de estrelas que nos atribuem cada ano, ressentimo-nos de partilhar o livrinho vermelho numa subalternidade aos espanhóis e José Quitério, em tempos em que éramos menos bafejados pelas estrelinhas, desprezou-o e apelidou-o de Miquelino. Hoje, depois de termos ganho o festival da Eurovisão no ano passado, podemos concentrar-nos nesta nova missão nacionalista, a das estrelas para Portugal.

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Em 2018, entre os 23 restaurates premiados com 28 estrelas, o Michelin não atribui qualquer uma a um restaurante de cozinha regional portuguesa. Estes só figuram no BIB gourmand, cujo critério é a relação preço/qualidade, e a selecção prima pela ausência de inúmeros bons restaurantes e pela presença de outros que, no meu entender, não deviam lá estar e que, na sua maioria, são desconhecidos do grande público, sendo o seu numero muito reduzido.

Não vislumbrava qualquer critério na escolha até que deparei com estas duas placas em plena rua do Alvito, frente ao restaurante A Varanda que é o seu autor. Infelizmente, não tive tempo de entrar e almoçar, mas confesso que fiquei cheia de curiosidade. Quem sabe algum de vós leitores conhece A Varanda…Esta casa terá constado do Bib em determinado ano que desconhecemos, e os seus proprietários sentem-se injustiçados por nunca nenhum jornalista ter reparado neles. É todo um enredo naqueles cartazes, com recados para a comunicação social. E sobretudo, com uma pérola: «O guia O Michelin» afinal «é na hotelaria o equivalente ao Guinness Book». Agora sim podemos imaginar que recordes terão batido A Varanda e os outros restaurantes que os inspectors do Michelin acharam dignos de constar do Bib Gourmand. Não admira que nenhum português ligue peva a este guia. Esperemos que os estrangeiros também não.

 

 

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