O NOVO BON BON
O Bon Bon é um contemporâneo clássico. Os produtos são de óptima qualidade e, por vocação, algarvios, a sua confecção passa pelo uso de algumas técnicas clássicas francesas (como fundos, demiglace, consommés, ou seja, a forma clássica de aproveitar as essências), os pratos seguem o ritmo da degustação (que nos permite provar quase uma carta inteira em pequenas quantidades, com reforço da palavra provar) e o conceito reside em pôr em relevo o bom produto o mais natural possível. No prato, dispõem-se alguns acompanhamentos em formas contemporâneas, como purés, esfericações ou espumas, mas sobretudo numa vertente muito pura.
O começo da refeição desiludiu-me um pouco. Uma série de amuse-bouche ou de entradas sucedeu-se sobre uma mesa vazia, apenas ocupada pelo copo. Embora todos eles viessem servidos, ou até anichados, em lindíssimas cerâmicas criadas pelo Studio Bongard, de Ferragudo, e fossem todos eles para comer à mão e em uma ou duas dentadas, o vazio da toalha creme incomodou-me. A começar, uma falsa noz com recheio de queijo de cabra e noz, servida no meio de verdadeiras, apresentou-se sedutora e tecnicamente perfeita, mas o sabor não fez jus ao aspecto. A salvar a noz, o crocante da capa. Depois, um pastel de bacalhau encimado por uma lasca de bacalhau, um nozinho de puré de coentros e pó de azeitona desidratada. O pastel tinha uma forma estranha, de douradinho (para apoiar a lasca), a textura errada, com demasiado bacalhau, e com um sabor estranho da fritura, não vi a utilidade da lasca, e o puré deveria ser de salsa, porque é salsa que levam os pastéis. Tudo sobre um bacalhau em cerâmica ao género bordallopinheiresco. Ao lado, sobre uma lata da mesma condição, duas tostas de milho e manjericão, coulis de pimento e sardinhas, de sabor autêntico, mas com as tostas moles. A partir daqui, a refeição arrancou e tudo correu bem a partir. A entrada seguinte mudou a página e agradou-me de sobremaneira. a cozinha está a cargo de Louis Anjos, sendo Ricardo Luz, o souschef.
O serviço é correcto e profissional, mas a sala estava pouco cheia e o ambiente tornou-se um pouco morto. um pormenor: quando a pessoa se levanta, não dobrem o guardanapo sem as luvas. O correcto é mesmo substituir por um novo.
Porque tinha de ir a conduzir, a minha refeição foi acompanhada por água, pelo que não tenho nada para vos dizer acerca do serviço de vinhos. O restaurante só serve três tipos de menu de degustação (4 pratos - 95 euros, 5 pratos - 115 euros, e 6 pratos, 125 euros, e não há serviço à la carte.
Aqui fica o registo com os comentários respectivos nas legendas.
A falsa noz com queijo de cabra
Os pastéis de bacalhau
A tosta de sardinha
E a refeição arranca com esta saborosa e interessante entrada: consommé de perdiz servido em copo de brandy com um minúsculo gelo de citrinos que se dissolvia através da acção do calor das nossas mãos. Acompanha um ninho de massa kataifi recheado com um creme de codorniz encimado pelo ovito desta avezinha.
Com a chegada dos pães e da broa feitos em casa com isco, o azeite e as manteigas (gostei especialemente da de cenoura, feita à base da salada de cenoura algarvia), a mesa alegrou-se e eu fiquei mais confortável com o prato do pão. Sempre com lindissimas cerâmicas.
Esfericação da água da ostra e coentros. Bem conseguida, com o sabor da ostra a prolongar-se no fim.
A gamba violeta da Ria Formosa. Vem-lhe o nome da lindíssima coloração dos seus corais, realmente fascinante. Os acompanhantes bem executados, mas um pouco vistos: o bolo esponjoso do microondas de salsa, pó texturado da gamba, puré de alho e espuma de lima.
Lavagante azul em medalhão e e tártaro, beterrabas, creme de tangerina e consommé de lavagante. Um prato perfeito de terra e mar, mas com uma beterraba muito suave e a acidez da tangerina. Um verdadeiro clássico com o lavagante em lugar de honra.
Um prato com uma história contada pelo chef Louis Anjos: o caldo tem duas origens, algarvia pelo uso dos peixes secos (polvo e litão) e oriental pelo dashi que usa alga kombu e peixe fumado (katsuobushi, flocos de bonito). A acompanhar o robalo, um mexilhão, cogumelos enoki, alface-do-mar e salicórnia. Se gostei imenso da ideia e da história, achei que o mar do robalo morria no fumado do caldo. Hoje em dia, há demasiados fumados e fermentados nos restaurantes portugueses. São influências nórdicas que não casam com as nossas raízes. deixem os fumados para os enchidos do norte.
Um magnifico prato de borrego, com a desejada e agradável acidez do puré de cenoura feito a partir da salada algarvia avinagrada, ervilha torta e pequeninas lascas de pão frito.
A terminar da melhor forma, uma ode à amêndoa do Algarve. Gelado de maçã verde e aipo, caviar de wasabi, uma base de puré de amêndoa, cubinhos de bolo de amêndoa e alfazema, duas bolas perfeitas e lindas de parfait de amêndoa com uma capa crocante (as minhas favoritas, não as vou esquecer), gelatina de moscatel roxo e falsos favos de mel de caramelo. Parabéns ao Raul Cachola.
As mignardises finais todas vestidas de alfarroba: bola de berlim, macaron e pastel.
BON BON
R. do Cabeço de Pias, 8400-525 Carvoeiro
Tel: 282 341 496
Fecha à terça e à quarta e abre também para almoços ao Sábado e ao Domingo.