BILHETES POSTAIS: A CAMINHO DO ORIENTE
Tendo chegado aos 60 anos sem qualquer desejo de fazer um cruzeiro, acabei por me estrear com destino aos paraísos a Leste. Ao longo desta viagem fui-lhe escrevendo bilhetes postais, curtos e fáceis de ler, para que o leitor pudesse viajar a meu lado. Nem sempre são muito convencionais ou têm imagens lindas, mas transmitem a minha forma de ver o mundo. Aqui vão ficando, dia após dia, dirigidos a si.
Querido Leitor
O meu cruzeiro, que iria fazer com um grupo de onze amigos, partia de Singapura. Foi um tormento lá chegar, na económica da Emirates, que até é bem jeitosa comparada com outras companhias. Tem um bom pitch entre os assentos, escolha de prato principal da refeição quente e duas horas de internet grátis. Primeiro percurso, oito horas até ao Dubai. Como foram feitas de dia, num gigantesco B777, nada de fechar o olho, mas consegui ver quase todos os filmes candidatos aos Óscares. Às duas da manhã, parecia um zombie no aeroporto do Dubai, à procura de uma daquelas gaiolas onde se pode fumar. Sem quase nenhuma extracção, teve a vantagem de nem precisar de acender o cigarro. Assim que lá entrei, fiquei servida de nicotina no pulmão, no cabelo e na roupa para o resto da viagem toda.
Mais oito horas de viagem em direcção a Singapura, no clássico dormir e acordar, desta vez no gigantesco A380, em cuja classe económica apenas se vislumbram as escadarias para o céu, sendo estas o acesso à primeira classe e aos aposentos particulares onde se pode tomar uma chuveirada, dormir numa cama verdadeira com lençóis e chegar fresco ao destino. Eu cheguei a Singapura com os olhos vermelhos, os pés inchados e o cabelo desgrenhado da electricidade estática. Mas também cheguei.
Despeço-me aqui e até ao próximo postal