Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Conversas à Mesa

OVOS HÁ MUITOS

IMG_4549.JPG

 

 

 

Este ano, são estes os meus ovos da Páscoa. Um de gansa, outro de pata, outro de perua preta, outro de galinha. Todos eles me foram oferecidos pela Rute, da BIOalentejanices e Companhia Lda. Um nome comprido para um projecto muito louvável: Há cerca de 4 anos, a Rute saiu do seu trabalho em Sousel e resolveu dedicar-se a uma courela de terra que encheu de amor, vegetais e animais. Mas deste projecto vou falar-vos num outro post.

Há anos que queria experimentar em simultâneo estes ovos de diversos animais para os poder comparar. Eram todos de boa origem, de animais que andam todo o dia, todos os dias, à solta no campo a comer.

Mal chegada a casa, fui logo fritar os ovos para os poder provar. Acompanhei-os com um paio alentejano e um pão da mesma origem, para molhar as gemas.

As cascas são todas de dureza e espessura diferentes, sendo o de gansa o mais difícil de partir. Todos estes ovos são mais ricos em gordura do que os de galinha e têm uma maior percentagem de gema versus clara. Não experimentei mas os ovos de pata têm grandes defensores para a pastelaria.

Em termos de cheiro, o ovo de pata pareceu-me o mais intenso, embora não se traduza em alterações de sabor.

Como estas aves são todas alimentadas da mesma forma, o resultado final é muito semelhante em termos de sabor, mas existem algumas diferenças em termos de textura. Em primeiro lugar devido ao menor ratio entre gema e clara do ovo de galinha e à menor presença da gordura. Todos os outros têm uma textura muito mais cremosa.

Aqui fica a minha experiência. Gostava imenso que me contassem a vossa.

 

 

IMG_4533.jpg

Os ovos de cima e da esq. para a dta: pata, gansa, perua (no cesto); galinha, fora do cesto. O ovo de perua tem umas características pintinhas. Veja-se a diferença de tamanho do ovo de gansa.

 

IMG_4545.JPG

Em cima, ao centro, ovo de gansa (veja-se o grande tamanho da gema); à dta., de pata; em baixo, de galinha; à esq. de perua. Atente-se também na grande quantidade de clara do ovo de galinha. os ovos ainda não estão completamente passados. Veja-se também o tamanho das gemas e a altura da gema do ovo de gansa.

NUMA GARRAFA DE MOUCHÃO

IMG_4511.jpg

 

 

Dentro de uma garrafa da Herdade do Mouchão encontramos mais de 130 anos de história e um vinho que ainda hoje é feito de forma muito semelhante à que era usada nos fins dos século XIX.

A saga da família Reynolds começa no Porto, no início do século XIX, e estende-se ao Alentejo em meados do mesmo século. As vinhas da casta Alicante Bouschet são trazidas de França por dois franceses e plantadas na Herdade do Mouchão, permanecendo até hoje a favorita. Durante anos, o vinho é vendido em grosso, e só em 1949 surgem as primeiras garrafas de Mouchão pela mão de Albert Hugh Reynolds, de alcunha «Bouncer», filho de Thomas, o primeiro da família a estabelecer negócio no Porto.

 

 

 

 

herdade mouchão.jpg

A Herdade do Mouchão no início do século XX (foto do site)

 

IMG_4509.jpg

 

No 25 de Abril de 1974, Bouncer assiste à expropriação da adega, que só volta a recuperar em 1985, completamente abandonada e muito destruída, mas que consegue reconstruir antes de falecer no ano seguinte. Curiosamente, é nesta fase que o vinho do Mouchão chega à capital e aos grandes hotéis, através das relações com as comissões de trabalhadores. Assim se esvaziam completamente as adegas. Até então, o vinho era vendido localmente, em barris (até 100 l) ou em cartolas (até 600 l). Recuperam-se os tonéis e replantam-se as vinhas, nomeadamente a dos Carapetos, junto à adega e actualmente a mais antiga. A herdade volta ao trabalho, sucedendo-se novas gerações de Reynolds.

 

 

IMG_4508.jpg

Um barril do tempo da «Cooprativa»

 

Hoje a adega é dirigida por Iain Reynolds Richardson, com vários diplomas, nomeadamente mestrados em enologia e viticultura. No seu português perfeito transmite o enorme orgulho nos vinhos que produz enquanto mostra os lagares da pisa a pé, onde as uvas são pisadas durante dias a fio com o engaço (a estrutura herbácea e lenhosa que enforma os cachos), os tonéis de madeiras velhas já muito saturadas, as prensas manuais ou o alambique em cobre de 1929 para a produção de aguardente, uma verdadeira obra de arte. A única novidade é o sistema de refrigeração por água, essencial nos dias abrasadores do Verão.

 

IMG_4505.jpg

Iain Reynolds Richardson na adega: Obrigada pela visita.

 

IMG_4510.jpg

Alguns dos lagares da pisa a pé

 

 

 

A adega produz uma gama de vinhos: Dom Rafael, branco e tinto, a entrada de gama, Ponte de Canas, Mouchão e Mouchão Tonel nº3-4, aguardente bagaceira e vinho licoroso e fortificado. O nome Tonel é crismado pelos enormes tonéis de topos em mogno e macacaúba, pouco porosas, e de laterais em carvalho português, em que estagia e que os transformam em vinhos de guarda muito especiais.

Curiosamente, O Mouchão nunca deixou de vender vinho no seu entorno, tendo hoje transformado as bag in box nuns dignos palhinhas de 2 l de capacidade. Com um delicioso vinho corrente abastece a vizinhança.

 

IMG_4539.JPG

IMG_4540.JPG

 

IMG_4506.jpg

IMG_4507.jpg

As prensas antigas são as que continuam em funcionamento.

 

 

IMG_4504.jpg

Do eucaliptal que rodeia a adega chegam os aromas mentolados que se imiscuem nos tonéis pela porosidade do carvalho e trabalham para o sabor final dos vinhos.

 

 

A Herdade tem ainda um rebanho de um milhar de borregos de raça Merino Branco do Alentejo, sendo a carne produzida em regime biológico, mel silvestre, azeite das variedades Galega e Cobrançosa, e cortiça.

O que encontramos em todos estes produtos, assim como no interior de uma garrafa de vinho do Mouchão, é a maior riqueza que podemos ter: o TEMPO a correr da forma mais adequada à excelência de cada um deles.

 

ALMOÇO DE PÁSCOA

E399775E-38C3-400A-A99D-3EBBC80F2381.JPG

 

 

 

Se ainda não tem destino para o almoço de Páscoa em família, este restaurante é uma boa hipótese. Situa-se no interior de uma lindíssima estuda em ferro forjado, no topo do precioso Jardim Botânico da Ajuda, mandado construir pelo marquês de Pombal em 1768. Trata-se do Estufa Real. Primeiro porque se come bem, depois porque se situa num local lindíssimo, ideal para um passeio digestivo (acredite que vai precisar) ou para a criançada andar a brincar

Fui conhecer o chamado brunch de Domingo. Eu não lhe chamo brunch, porque não tem as características de um e porque seria redutor, mas sim um buffet, por sinal bastante rico.

Na grande mesa disposta no centro do restaurante convivem em elegante disposição as entradas frias e quentes e os pratos principais, um de peixe, um de carne e um vegetariano. Há uma secção de frituras que fez as minhas delícias, com tiras de choco fritas, pastelada miniaturizada, camarões com massa kataffi e panados e mais. Experimentei o prato de peixe, espetadas de garoupa que estava muito fresca, assim como a vitela estufada. Na relação dos quentes, havia ainda camarões fritos com alho e amêijoas à Bulhão Pato.

Surpreendeu-me uma farta mesa de bons queijos, nomeadamente da Beira. Uma outra mesa exibia diversas sobremesas, pavlovas, farófias, pudins, etc.

De qualidade são também os atoalhados, a loiça e os talheres, o que hoje se vai tornando mais raro.

O serviço de reposição é muito rápido, assim como a recolha de pratos nas mesas. O horário é dilatado (das 12h30 às 16 h), por isso pode ir dezenas de vezes às mesas, sem necessidade de empilhar nos pratos grandes misturadas.

O responsável por este apetecível buffet é o chef Mário Moreira.

Um conselho: se reservar para a Páscoa, peça para ficar no restaurante não na tenda, usada nos casos de maior afluência. O restaurante tem parque para automóveis no interior do recinto do Jardim.

Preço habitual do buffet: 37 euros

Preço na Páscoa: 50 euros

Crianças com menos de 10 anos têm 50% de desconto.

Estufa Real

Calçada Galvão E, 1300-011 Lisboa

Tel: 21 361 9400

 

 

IMG_4320.JPG

 

 

IMG_4319.JPG

 

1a25f1e8-cad4-45cd-95e1-3e4054a1e084.JPG

 

 

15f3d175-062c-4130-a1ed-716bbcb8077e-1.JPG

 

 

2890c03e-e60c-44af-8dc6-8ca3511f60e1-1.JPG

 

 

C5927851-0E8C-48E6-9957-1E471367354F.JPG

 

 

728484d1-99a8-495b-9b57-15f0f95eb8bd.JPG

Com o chef Mário Moreira

 

 

Slider_home.jpg

Esta foto foi retirada do site do restaurante.

 

IMG_4310.JPG

 

 

 

À BEIRA DO TEJO

IMG_0170.JPG

 

Mesmo em dias chuvosos e pardacentos, com o céu cinzento de chumbo a reflectir-se na nossa disposição, é bom sentarmo-nos à beira do Tejo a seguir o movimento e os humores das águas do rio.

E se pudermos estar numa esplanada mesmo em cima do Tejo e a comer uma boa refeição, ainda melhor. Aqui ficam duas opções quase paredes-meias, na zona ribeirinha do Cais do Sodré. Situam-se na mesma fiada de armazéns onde se guardava o sal vindo da outra banda. São o Ibo e o Vestigius.

O Vestigius tem uma faceta de bar, mas também uma carta apetitosa e diversificada, onde saliento as caçarolas apresentadas em lindas tagines negras. Eu experimentei a caçarola Brodetto di Mare, um estufado de camarão e peixe acompanhado de pão de que vai precisar para não deixar nem um pingo do caldo no prato, mas também há um caril de peixe que suscitou a minha curiosidade. Para entradas, uma boa tábua de queijos e enchidos e o presunto com finíssimas fatias de broa de milho foram boas opções. De entrada, provei ainda umas amêijoas à Bulhão Pato, carnudas e de bom molho.

 

 

Czoh0aUM.jpeg

eMPZqsrg.jpeg                 eNlt4DN4.jpeg

 

                  JpcEwO5M.jpegMqkOLLwg.jpeg

                                                poVARRRU.jpeg

À sobremesa, gostei da torta de laranja e da tarte de maçã invertida com crumble.

O que torna o Vestigius verdadeiramente diferente é a presença da Esmeralda, uma hospedeira encantadora que é proprietária do restaurante. Albanesa de origem, artista plástica por vocação, decorou todo o espaço com objectos que encontrou no armazém de sal há muito abandonado que, juntamente com o marido, se propuseram transformar num bar e restaurante. Quando visitaram o espaço pela primeira vez, ainda este estava cheio de sal e até encontraram o barco que o transportava da outra banda para Lisboa. É essa história que Esmeralda vai sempre contando através do ambiente do Vestigius, sempre em mutação. A cave, local onde estava armazenado o sal, foi transformado numa casa de jantar com uma mesa comprida, mas mantém a emoção de todas as histórias marítimas e comerciais que por ali passaram ao longo dos tempos.

 

 

_MG_8525_m.jpg

 

Espaço Vestigius-114.jpg

 

 

_MG_8668.jpg

O armazém de sal com a mesa comprida para petiscos

 

Ali ao lado, mora o Ibo, uma casa segura há muitos anos, um porto-de-abrigo para quem gosta de da comida portuguesa tradicional ou com raízes luso-moçambicanas, com um pezinho na Índia. O tradicional caril de galinha com amendoim, o de camarão ou o caranguejo desfiado, o meu favorito, estão sempre presentes na carta, apesar das mudanças sazonais. O chacuti de cabrito e a galinha à zambeziana também são figuras de proa.

Mas a carta é variada e abriga pratos clássicos da cozinha do mundo, como as vieiras au beurre blanc com tártaro de maçã, que experimentei da última vez que lá estive. Ressalto a boa qualidade das vieiras. Magníficos o ceviche de peixe branco em limão e coentros com milhos fritos e crocantes de batata-doce (entrada), o arroz de garoupa com amêijoas e caldo das cabeças, os lombos de garoupa com molho de curcuma e coentros e o caril de Moçambique com chutneys diversos e pimenta de caxemira.

Também no Ibo há uma pessoa por trás da estabilidade do restaurante, o João Pedro Pedrosa, proprietário e chef que mantém a qualidade desta casa desde a sua abertura, conseguindo fidelizar clientes que, tal como eu, têm saudades da saborosíssima comida moçambicana (não podemos esquecer a presença na lista dos Camarões à Laurentina). Para sobremesa, uma fresquíssima papaia recheada com requeijão e com uma redução de vinho tinto ou o Canudo fino de abóbora em massa filo com gelado de coco.

O Ibo é um dos já raros valores seguros da restauração de Lisboa. Um local onde podemos ir com a confiança de que nunca seremos desiludidos.

Embora dois restaurantes diferentes, ambos são a prova irrefutável da importância do restaurador, porque os restaurantes não se fazem só de chefs.

 

 

IMG_0171.JPG

 

IMG_0173.JPG

IMG_0174.JPG

 

 

IMG_0177.JPG

 

IMG_0178.JPG

IMG_0179.JPG

 

 

 

Pág. 1/2