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Conversas à Mesa

GRAND BEACH CLUB NO SOTAVENTO DO ALGARVE

 

 

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Quem vai para Sotavento nestas férias de Verão, não deve perder este restaurante. Aqui encontra a informalidade do ambiente, uma boa cozinha, cuidada na apresentação e no detalhe e vistas deslumbrantes.  

 

O Grand Beach Club fica situado na estrada que vai de Vila Real de Santo António para a praia desta povoação, entre o mar e o estuário do rio Guadiana. Ali bem pertinho, do outro lado do rio que ali passa estreito, avistam-se terras espanholas de Ayamonte e das islas que se lhe seguem. Funciona como restaurante de praia do recém-reaberto hotel Grand House, um 5 estrelas situado no antigo Grand Hotel Guadiana, datado da década de 20 do século XX, possivelmente o mais antigo hotel do Algarve. Foi construído com dinheiro das conservas do atum pela família Ramirez. Porém, com o fim do negócio algarvio das conservas (como se pode ver pela fila interminável de barracões a caírem de podres, todos eles ex-fábricas de conservas de peixe, que desfeiam o fim da avenida principal de VRSA), o hotel fechou e ficou em decadência até ser comprado e recuperado por um português.

 

 

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No Beach Club fica situada a piscina do hotel, rodeada por pequenas praias de areia. O restaurante, decorado com cores marinhas e calmas, tem uma sala fechada, onde se pode ouvir música ao vivo mesmo ao almoço, e uma lindíssima varanda, para bebidas ou refeições. Foi aqui fora que eu me instalei e daqui só me «desinstalei» quatro horas depois, tão agradável era o ambiente.

Começo já por avisar que estava cheio em Junho, por isso nunca vá sem reservar. Quando cheguei, a chefe de sala tentou estranhamente convencer-me a ir embora, porque o serviço estava muito demorado, ou, pelo menos, a ir fazer qualquer coisa para não ficar à espera. Estive mesmo para virar costas e ir embora, mas o ambiente cativou-me e não dei pela hora que passou até conseguir ter o couvert na mesa...Ou não têm output suficiente da cozinha para o restaurante cheio ou ainda não estavam com o pessoal completo.

Mas fiquei e não me arrependi nada. Óptimo couvert, com um pão molhado em azeite e

Semitorrado, umas fatias de robalo curadas em beterraba e dois lombos de sardinha e azeitonas.

Escolhi o entrecosto de porco, baixinho e quase sem gordura, só a necessária para o sabor,  comum tempero entre o português e o americano. Os acompanhamentos são à escolha. Pedi batatas fritas, boa batata e bem frita, e uma fresquíssima salada algarvia, com cebola e pimentos. Doses mais que suficiente. Para sobremesa, não resisti à uma mousse de chocolate muito especial envolvida em chocolate e apresentada numa espécie de fatia. A dar-lhe o toque ácido contrastante, framboesas frescas e desidratadas. Todos os pratos tinham uma apresentação esmerada, o serviço era cuidadoso mas todo o ambiente é informal, a tal ponto que nos apetece andar descalços, eu andei.

O café vem com o indispensável, mas raro, copinho de água gelada, e uma bolachinha cortês.

Com água, paguei cerca de 30 euros e sai quase à força. Apetecia-me ficar para jantar.

O Beach Club tem uma carta de snacks (hambúrgueres, saladas, pizas), servido a qualquer hora, e a de refeições, com entradas e pratos principais. A lista é curta mas cobre os principais, desde o peixe grelhado, ao porco ibérico e ao polvo, passando pelas amêijoas, os camarões, a carne de vaca e de frango e a cataplana (pratos entre os 17 e os 26 euros, à excepção do camarão tigre – 45 euros para 3).

Se quiser usar a piscina infinita, terá de pagar e será função do número de hóspedes.

 

Este ano no Algarve, recomendo o Grand Beach Club. Tenho a certeza que também vai gostar desta união de boa comida, pés na areia e pratos bonitos.

 

 

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Ponta da Areia, 8900-227

Vila Real de Santo António

Tel: 281 543 025

Não tem dia de fecho: abre às 10h e fecha à meia noite

 

 

 

 

AS MEMÓRIAS DE ADRIÀ

 

 

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Ferran Adrià veio a Lisboa para o Estrella Damm Gastronomy Congress. Foi one man show apesar da participação final de 3 bullinianos: José Avillez (estagiário no El Bulli e considerado no site da El Bulli Foundation como um dos bullinianos  reconhecidos no mundo e muito acarinhado por Adrià), Vasco Coelho Santos, que esteve no fecho do El Bulli,  e MIguel Rocha Vieira, que trabalhou na Hacienda Benazusa, o hotel de Adriá onde se reproduziam os pratos do El Bulli de épocas anteriores, a que se juntou Henrique Sá Pessoa devido à sua ligação com a cerveja patrocinadora.

 

Adrià parece mais velho do que é; o modo como fala impõe respeito e, apesar de amistoso, mantém algum distância. A anunciada mesa redonda com estes bulinianos foi uma conversa de pé, porque Adrià não quis as cadeiras, convidam a falar demais e a perder o fio à meada.  O homem que esteve à frente do restaurante mais famoso e premiado do mundo, o El Bulli, falou sobre o passado, contou histórias do restaurante fechado em 2011 e um pouco sobre a fundação el Bulli por ele criada.  Segundo deu a entender, a Estrella Damm é das poucas (a única?) empresa com que trabalha actualmente. Começou honrando a sua obrigação para com o patrocinador, falando das cervejas e dos anúncios que faz para esta cervejeira.

Em seguida, procurou transmitir o seu trajecto, do restaurante à Fundação, sempre em torno da memória, da inovação e da criatividade. A sua história é a de um homem que teve um restaurante, onde podeexercera sua assombrosa paixão por inovar, por fazer aquilo que nunca foi feito, criar e não recriar, fechou esse restaurante e essa fase da sua vida, e criou uma fundação para que todas essas memórias nunca se percam e para ajudar outros (sobretudo PME) a criar inovação através da sua experiência.

Tão importante são para Adrià os registos que chegou a afirmar que, devido à Fundação, será ele a ficar na história e não Paul Bocuse, cujo magnífico trabalho nunca foi registado ao nível do que está a ser feito na Fundação, através da elBulligrafia («Um arquivo-museu a partir da auditoria criativa de elBullirestaurante»).  «Se não estiver catalogado, nada passa de blablabla». O chef mais famoso do mundo chamou ainda a atenção para a importância de os cozinheiros conhecerem a fundo a história da alimentação, «para não serem manipulados». «Muitos cozinheiros sabem a composição da equipa do Barça, mas não conseguem nomear os doze cozinheiros mais famosos do mundo». É com estas memórias que podem fazer aquilo que foi conseguido no elBulli «fazer pensar».

 

Falando de Portugal, considerou «incrível» a cozinha portuguesa e deu alguns conselhos, afirmando que nela «têm que dialogar a tradição e o criativo, e a qualidade tem de primar». Se seguirmos neste bom caminho «daqui a 5 anos vão chegar a um nível muito alto». Há que fazer um estudo de marketing sério, para sabermos o que queremos vender, porque o mundo não é muito grande e há muitos países a querem vender gastronomia.

Aconselhou ainda a que se seja sincero quando nos vendemos: «Não pode haver produtos do mar maravilhosos para todos os restaurantes portugueses, não existem, não é possível.» não podemos oferecer apenas turismo de qualidade, há que haver oferta para todos. Portugal tem produtos extraordinários a nível mundial, ao nível de Espanha, e muito parecidos com os espanhóis. Há que vender a história de Portugal em Portugal, mas de forma organizada. «Façam um museu da gastronomia em Lisboa», há muito para fazer neste campo e não se desculpem com a falta de dinheiro.

Na sessão de perguntas que rematou o congresso, não surgiram nenhumas.

No fim, Adrià esteve disponível para fotografias, ou melhor dizendo, para memórias.

 

ANTIGA CASA FAZ FRIO

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FAZ FRIO

 

A remodelação do espaço dá gosto. Bem feita, respeitando a história e até guardando alguns ícones do restaurante, como o marinheiro, dizem que do Mário Cesariny, a escrutinar quem entra (o Faz Frio já fora propriedade de oficiais da marinha, que ali o colocaram), o magnífico chão em lajes de pedra, os azulejos da entrada e os reservados e as respectivas gravuras. Toda a renovação seguiu os ditames do programa Lojas com História da CML. O restaurante já tinha mais de 120 anos, nem se sabe ao certo quantos.

O novo balcão em mármore substitui com vantagem o feíssimo de inox. Conservadas também as portas de vai-e-vem que lhe dão o sabor da casa de pasto.

 

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Preservado foi também o bacalhau, que mantém o estrelato que tinha na Antiga Casa Faz Frio, embora em recriações.  Provei os pastéis do mesmo estavam bem fritos, tinham bom e bastante bacalhau. espero lá voltar para experimentar os pratos bacalhoeiros que não cheguei a provar.

De entrada, bom pão feito no restaurante, manteiga dos Açores e azeitonas.

 

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Um dos pratos principais que pedi foram Pastéis de massa tenra com arroz de feijão. O arroz cumpriu a sua função com garbo e os pastéis estavam saborosos, mas não de massa tenra. A massa era dura, parecia de empanadas, e sem o «vento», isto é, nem fazia bolhas nem havia a característica almofada de ar no interior. Este era o principal pecado dos pastéis. O recheio era de carne desfiada, e não de carne moída, aquelas típicas bolinhas que pareciam carapinha, mas isso hoje já é quase inevitável e é uma memória só de alguns. Será um prato essencial, a aperfeiçoar e a manter. A geração anterior à dos novos cozinheiros, como o Chef Mateus Freire, e a anterior a essa, como a minha, ainda têm muito frescas as memórias de certos pratos, como estes pastéis, e ainda sabem exactamente o que esperam quando lhes falam neles.

 

 

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Obrigada ao Pedro Cruz Gomes por esta foto.

 

Muito gulosos, os peixinhos da horta versão tempura, com a cozedura do feijão-verde impecável. Recomendo o pica-pau com carne muito apetecível e óptimos temperos.

O outro prato principal valeu toda a refeição: cachaço de porco preto com xerém de amêijoas (foto incial). Acho que nunca lá vou voltar que não o peça. Carne com boa textura, ponto de cozedura certo e um xerém cremoso com o sabor das amêijoas e o bom gosto de não trazer as cascas. Mais uma vez gostava de chamar a atenção de que responsável para não usarem a terminologia «preto» para o porco, não quer dizer rigorosamente nada. Se é do Alentejo, chamem-lhe alentejano ou de raça alentejana; se é espanhol, chamem-lhe ibérico.

 

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Do lado das sobremesas, veio um leite-creme queimado na hora com grande qualidade, e uns formigos, com nenhuma qualidade. Os formigos são um doce pobre e pouco apelativo de si, á base de pão, que se come tradicionalmente nas Festas. Quando pedi esta sobremesa, pensei que fosse também um take actualizado, já que não vejo qualquer mais-valia em a apresentar como tradicionalmente é feita. Não era, além de que tinham tanto vinho (presumo que do porto) que se tornaram incomestíveis. Para rematar, os pastéis de nata tinham um recheio saboroso, mas a massa da parte de baixo estava tão mole que se rompia, e a dos lados não folhou capazmente. O pastel de nata é mesmo para um pasteleiro.

Concluindo: penso que o chef Mateus Freire tem todas as condições para, mantendo esta ementa, ter um Faz Frio onde queremos sempre voltar.

Terças, quartas, quintas e sextas há pratos de almoço, a preços razoáveis, sendo que um deles costuma ser de bacalhau. A ementa fixa

Serviço muito cortês e eficiente. Há ainda uma grande sala no primeiro andar, reservada, idela para jantares de grupo.

 

Faz Frio

  1. Dom Pedro V 96

1250-092 Lisboa

Fecha à Segunda-feira

Não aceitam reservas

 

 

 

 

COMER BEM E BARATO EM SETÚBAL: O BATAREO

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A alegria começa com umas fresquíssimas ovas de pescada primorosamente grelhadas, cortadas em bons pedaços, regadas com um azeite agradável e coloridas com estilhaços de coentros. Estavam na montra do peixe e tinham um ar tão convidativo que era impossível resistir-lhes, exibindo-se mesmo ao lado de uma travessa de bem alinhados salmonetes com o tamanho da minha preferência. Estes vieram a seguir às ovas e provaram estar fresquíssimos, na sua melhor época, e com o incrível sabor a mar que os caracteriza. Servidos como manda a lei, com os interiores intactos, e com uma batatinha muito saborosa. Não esqueça que a melhor época dos salmonetes é durante o inverno, sobretudo novembro e dezembro.

Setúbal tem boas casas de comida. A Ribeirinha do Sado, de irrepreensíveis carapaus manteiga (ver aqui no blog), ou a Antiga Casa de Pasto Orlando (e aqui), com o verdadeiro choco frito e peixe fresco, são restaurantes fiáveis, boa comida e bons preços. A estas duas casas, junto o Batareo, onde se reúnem duas características indispensáveis: peixe fresco (muito local) e boas mãos na grelha. O Batareo é propriedade de um casal que está sempre presente na sala e tem clientela local regular. Daquela que já tem preferência por certas mesas, onde se sentem quase em casa. Quando lá estava a almoçar, entrou um casal de Lisboa à procura de um restaurante de choco frito, uma pergunta que deve ser penosa para este tipo de restaurantes que vive do bom peixe e não do choco frito que vem da Índia em grandes placas congeladas. Acabaram por ficar a comer um peixinho grelhado...

 

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A experimentar também a barriga de atum, quando a houver, e os carapaus manteiga, lá para julho/ agosto, época em que estão mesmo manteiga. Se tiver a sorte de apanhar vieiras, mande vir uma meia dúzia, para dar início à refeição.

O que não aconselho é a sericaia: a que me calhou estava granulosa, com pedaços de gema coagulados, como se vê na foto, não tendo sido feita a preceito (com a massa arejada por ter sido espalhada em grandes colheradas).

 

 

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O Batareo tem uma esplanada sobrelevada, virada para o cais do ferry, ideal para o almoço dos dias temperados, mas o interior não é abafado.

 

Vale a pena ir de Lisboa ao Batareo, é menos de uma hora de caminho. Aproveite para ver o moinho de maré da Mourisca (tem um pequeno café) e visite a Casa da Baía, onde encontra lojas com produtos locais.

 

Rua das Fontaínhas, 64

Setúbal
Tel: 265 234 548
Fecha às segundas e só abre ao almoço

 

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