COMER EM TOMAR
Já escrevi sobre o que ver em Tomar no blog. Hoje venho falar-lhes sobre restaurantes. Mais exactamente dois: o Lúria e a Casa Matreno.
Comecemos pelo boa surpresa, a Casa Matreno. Já há anos que estava para lá ir, mas está sempre cheia e é preciso marcar, sobretudo agora que fechou uma outra casa do mesmo proprietário, a Casa das Ratas, um antigo armazém de vinhos e tasca que partilhava a cozinha da Casa Matreno e cujo aluguer não foi renovado. Esta casa tem grande tradição, já foi também taberna e armazém de vinhos (o que se vê pela porta larga) e, em seguida, casa de pasto, propriedade do senhor José Santos Matreno. O restaurante foi tomado pelo Pedro Oliveira, o novo proprietário,que teve a sorte de herdar a cozinheira da casa, mestra na confecção de vários pratos bem nossos.
A abrir a refeição um couvert simples mas saboroso, boa azeitona, um trio de queijos e sobretudo um belíssimo pão.
Tive a felicidade de provar o fígado, todo ele petisqueiro devido ao corte em tiritas, isentas de qualquer invasor fibroso, bem regadas pelo saboroso molho acerca do qual só lamento a falta do baço. Hoje, já é possível comprar baço, muto tempo ilegalizado aquando a época das vacas loucas, embora seja difícil conseguir que os matadouros o liberalizem. Está na altura de voltar a tê-lo para engrossar o molho das iscas e para lhe emprestar aquela textura granulosa tão apreciada. Aqui fica o pedido ao Pedro Oliveira para recuperar o baço a bem das iscas. Ainda assim, deliciei-me a molhar o saboroso pão no molho.
Em seguida, veio o arroz de pato, acompanhado de uma rica salada. Óptimo ratio arroz-carne de pato. A carne não deve ser demasiada nem escassa. Bem cobertinho por rodelinhas de chouriço estaladiças do forno e sem a irritante crosta de ovo batido. Muito bem confecionado.
Para emular o arroz de pato feito com o sangue do mesmo, uma receita muito em uso aqui há alguns anos, usa-se hoje uma série de truques para imitar a cor do sangue, desde os corantes alimentares ao molho de soja. Porém, penso que a inspiração para o arroz de pato servido na Casa Matreno será a receita beirã feita em Lafões, que não leva sangue (logo não precisa de ter senão a leve cor do refogado) mas é colorida pela cenoura e pelas folhas de couve (embora estas últimas não existissem no arroz da casa Matreno, compensadas por pedaços generosos de cebola). Vamos abraçar o arroz de pato colorido apenas pelo calor do forno.
Os dois pratos principais eram extremamente fartos. Um só não é suficiente para dois apenas porque são muito saborosos e queremos experimentar mais coisas.
Como sobremesa, um perfeito leite-creme com uma reconfortante e olorosa capa de açúcar queimado. O creme não tem demasiado açúcar para podermos misturar os pedacinhos queimados sem que se torne demasiado doce.
A rua da Casa Matreno
A Casa Matreno é o verdadeiro exemplo de como se pode comer belíssima comida tradicional pelo preço justo que nos permite lá voltar mais amiúde. A simpática presença do Pedro Oliveira transforma o restaurante numa casa e faz toda a diferença no atendimento.
Casa Matreno
R. Dr. Joaquim Jacinto 6
Tomar
Telefone: 249 315 237
Num registo diferente, está hoje, infelizmente, a Lúria. Sempre fui grande apreciadora deste restaurante situado no meio dos arredores campestres de Tomar, mas já lá não ia há algum tempo. Saí desiludida, como aliás da última vez que ali estive, há já algum tempo. Hoje em dia, o Lúria é apenas um restaurante médio. Estava quase vazio à hora a que cheguei, o que me causou alguma estranheza. Não vou demorar nos comentários, não vale a pena. Pedidos o cabrito e umas febras de porco preto (conforme anunciado na ementa). O cabrito estava sem vida, sensaborão, embora completamente comestível e até com boa batata assada e bons grelos cozidos. As febras, demasiado salgadas. Para sobremesa, fatias de Tomar. Aqui não posso falhar, pensei eu. Erro. As fatias em si estavam óptimas, mas a calda, parte importantíssima do conjunto que só leva ovos e açúcar, demasiado aguada.