VASCO LELLO NO SEA ME
O Sea Me vai fazer dez anos de existência e por ali já passaram diversos chefs. Hoje está muito bem entregue ao comando do Vasco Lello, saído de vários anos no Café Colonial do Memmo Príncipe Real.
O restaurante é grande e com boa capacidade de lugares. Ao fundo, a cozinha aberta. Ao lado desta uma enorme montra onde se exibem inúmeros peixes e mariscos, todos eles com frescura. Mas a carta desenhada por Vasco Lello é muito mais do que peixe grelhado. Para além de uma variedade de entradas, há ainda diversos pratos principais alternativos aos cozidos e grelhados, nos quais Vasco Lello mostra a sua habitual criatividade. Num momento em que estamos já um pouco fartos de comer peixe cru cozinhado pela acidez, ceviches, pokes e companhia à base do omnipresente salmão, o chef consegue trazer à mesa esse mesmo peixe cru mas em companhias originais e extremamente agradáveis e apetitosas.
O meu almoço começou com uma tábua de vários peixes secos ou fumados, nomeadamente ovas de bacalhau secas, temperados com misturas de especiarias e ervas de inspiração oriental, como o shichimi togarashi, uma mistura japonesa picante de sete especiarias que, tal como no caril, mudam de região para região ou de casa para casa.
De seguida, experimentei uma série de pratos de peixe com combinações originais, complexas e extremamente agradáveis, com bons peixes de base, como o robalo, o bonito e o atum, cujo sabor permanece presente. Gostei muito das três entradas de peixe cru, mas a minha combinação favorita foi a do robalo com ostras picadas, algas frescas e puré de aipo. Uma verdadeira orgia de mar a que o aipo veio colocar os pés em terra. Um prato que poderia comer todos os dias sem nunca me cansar.
O arroz de berbigão com chips de robalo estava perfeito. O arroz estava caldoso, mas não escorrediço, alimentado em tons marinhos pelo berbigão. Este bivalve está cada vez mais na moda, foi finalmente redescoberto nos restaurantes. Como consequência, o seu preço tem vindo a subir. Os chips de robalo com a espessura certa, de modo a ficarem estaladiços, mas sem obnubilarem o peixe, uma vez que a fritura intervém mais na textura do que no sabor, como é desejável. Um exemplo para quem acha que a tradição é imutável, o clássico peixe frito com arroz transfigura-se e afina-se. Ganha sem perder nada.
Bom casamento o do polvo a chapa com os sabores fumados da cenoura e da paprica, a demonstrar que um bicho tão presente nas nossas mesas pode ganhar novas dimensões permanecendo ele mesmo.
Serviço muito correcto e simpático a complementar uma óptima refeição. Vasco Lello faz sempre a diferença onde quer que esteja, com o seu condão de combinar de forma original temperos de todos os cantos do mundo. Sempre com lógica, sempre sem abafar a matéria-prima, sempre com muito sabor. Sempre com génio.
Tábua de charcutaria do mar: no sentido dos ponteiros do relógio: ovas de bacalhau secas, tamboril com shichimi togarashi, cavala fumada e barriga de espadarte
Acho que já vi o Vasco Lello fazer croquetes de tudo quanto passa na cozinha e são todos deliciosos. este é de sapateira e é complementado pela maionese de lima. os dois primeiros com Quinta dos Carvalhais Encruzado 2018.
Picadinho de atum e shiso com caldo de miso e bonito: o atum é enrolada nas folhas de shiso e bóia num caldinho de peixe. Não falhe esta entrada. Aliás, não falhe nenhuma destas entradas...Com Soalheiro Granit 2018.
Carpaccio de bonito com vinagreta de maracujá: gosto da acidez frutada e tropical que o maracujá empresta ao peixe. Com Soalheiro Granit 2018. Uau.
Arroz de berbigão com chips de robalo: fish and rice...outra categoria. As lascas de peixe têm o tamanho ideal para fazer face à fritura, são mais lascas que chips. Este é imperdível. Com Quinta do Pinto Sauvignon Blanc
Polvo na chapa, cenoura fumada e paprica fumada. Que bem combina o polvo com a suubtileza do fumo. Herdade do Peso Reserva 2015.
Tártaro de frutas com gelado yuzu, para refrescar. Porto LBV Ferreira.
Mousse de chocolate negro com praliné e ginjinha: boa combinação da ginjinha com o chocolate.