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Conversas à Mesa

A VIDA

 

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A vida continua para aqueles que têm a sorte de não estar doentes.  E devemos aproveitá-la ao máximo. Não sabemos quanto tempo ficaremos isolados, por isso não podemos permanecer debaixo de água sem respirar. Há que vir à tona e perceber que estes dias também são vida. Tal como o vírus está sempre em mutação para sobreviver, também nós devemos mudar para viver.

Cada um de nós deve ocupar-se da melhor maneira, permanecendo activo. Eu tenho trabalho para fazer em casa, como sempre tive. Sozinha em casa, como me habituei a estar há quase 3 anos. os que temos trabalho para fazer em casa somos sortudos. Mas depois do trabalho, há que dar atenção ao lazer. Confesso-me preguiçosa por natureza, embora tenha um grande culto pelo trabalho. Fui dar volta em casa ao que tinha por aqui, encontrei umas meadas de lã e estou a fazer uma manta para as crianças. Leio algumas coisas, para o trabalho e não só. Vejo Netflix e a abertura do telejornal das 8, só para ter a certeza de que o mundo não acabou. Depois desligo porque como hoje veio a lume a DGS até conta o número de doentes a dobrar. Ando todos os dias 45 minutos a pé no jardim do meu prédio.

E também cozinho.

É uma boa ocupação para muita gente, pelo que vemos nas redes sociais. O Pão é número 1. O pão é primordial, é a saciedade, é o contrário da fome, é a primeira abundância, é a nossa alma, o coração da nossa cozinha. Tanta gente a fazer pão. E as padarias abertas, a produzirem para nós. Tive o prazer de comer ontem um pão da Gleba, que bem me soube.

Há quem cozinhe coisas extraordinárias que nunca sonharam fazer, massa fresca a secar espalhada pela cozinha, pâtés extraordinários ou massa folhada feita de raiz. Porém a maioria das pessoas procura, como eu, o conforto da comida. O que cozinho eu? Umas viagens à infância, à cozinha de conforto que era da minha mãe. Hoje uma couve-flor cozida com fiambre, ovo cozido e molho branco, tudo no forno com queijo ralado. A couve-flor é um abraço, os pedaços de fiambre são beijos da minha mãe.

É preciso vir à tona e viver. Este é o nosso dia-a-dia, isto é a vida. Amanhã falo-vos de uma parte importante dela, a vídeo-chamada.

O LIXO

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Antes de chegar a casa, já toda a família me tinha prevenido que ia encontrar um país diferente. Vinha completamente preparada para a quarentena profiláctica que escolhi fazer (ninguém me falou nela no aeroporto de Lisboa quando cheguei). Aliás, depois de um mês de viagem com mais sete pessoas que não funcionaram bem em conjunto, até me estava a apetecer algum isolamento. Quando saí da Austrália já havia alguns sinais da mudança de vida. Para entrar, já era necessária a quarentena, os supermercados tinham vazias as prateleiras do papel higiénico, dos lenços de papel, do álcool. Os primeiros sinais. Mas ainda andava tudo na rua e, à excepção de alguns asiáticos, ninguém com máscaras. Os restaurantes estavam abertos, as excursões e os locais turísticos a funcionar. Dois dias antes de chegar, tinha comido uma magnífica truta arco-íris num restaurante de Cairns, no norte da Austrália, e mergulhado num recife de coral.

Com a quarentena, a mudança na minha vida foi instantânea e radical. A primeira dificuldade que tive foi com a bagagem. Duas malas, que tinham viajado nos porões de vários aviões pelo mundo, e que eu assumi puderem estar contaminadas. Optei por deixá-las na garagem. Ao outro dia começou a cegada. Munida de luvas e sacos de plástico fui buscar a roupa para lavar e alguns objectos de que tinha necessidade. Só me lembrava do vídeo da directora-geral de Saúde a deitar água da garrafa para o copo. Mexia com as luvas na mala, depois tirava a roupa para o saco de plástico e prontos, lá ficava este «contaminado». Tirava as luvas para fechar a garagem e abrir as outras portas, mas ao mesmo tempo segurava no saco «contaminado». Ao mesmo tempo, enchia as mãos de álcool de um frasco que tinha trazido para a garagem, mas para por o álcool lá contaminava eu o frasco. Esta dificuldade acompanha-me todos os dias e, às vezes, dou comigo a rir de mim mesma. Como estou em quarentena profilática, recebo a comida trazida pelos benfeitores da minha família, que a deixam à porta, só me lembro dos leprosos do Quo Vadis. Depois é a lida da desinfecção. Coloco os sacos na varanda e vou retirando as coisas dos sacos. A maioria delas enfio no lava-loiça com água e lixívia, mas há coisas que não podem ter esse tratamento. Pacotes de papel, ovos, por exemplo. Tiro os ovos dos pacotes de cartão para os colocar numa tigela, mas mexo sempre ao mesmo tempo nos ovos e no cartão. Ponho as luvas, tiro as luvas, lavo as mãos, mas entretanto já fiz uma asneira qualquer. Ir ao lixo é outra comédia. Acabo sempre a segurar em alguma coisa com as pontinhas dos dedos, como a senhora directora-geral. Se alguém tem um bom método para tratar desta situação que me diga...

REGRESSO A CASA

 

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Este é o meu sexto dia de quarentena profiláctica auto-imposta e só hoje resolvi escrever-vos. Porque havia trabalho atrasado e porque me estava a adaptar à nova vida.

Cheguei Domingo as onze da noite a casa depois de quase 3 dias sem mudar de cuecas, só de máscara. O fecho das fronteiras europeias apanhou-me a dois dias de regressar a casa, em Cairns, a mergulhar nos recifes de coral com uma falsa sensação de que a vida era mesmo ver peixes multicoloridos e amêijoas do tamanho alguidares.

O meu regresso foi difícil, longo e cansativo, mas eu só queria mesmo era voltar para casa, mesmo que sabendo que iria à mesma para longe da minha família. Eu só

queria era deixar os peixes multicoloridos e as paisagens paradisíacas e fechar-me na minha casa, na minha amêijoa que não é gigante. pelo Dubai foi cancelado porque implicava uma mudança de terminal, obrigando logo a fazer quarentena por minha conta e risco. Tive de comprar novas passagens Sydney/Dubai/Londres na Emirates e Lisboa/Londres na TAP. E esperar dois dias num hotel do aeroporto de Sydney.

Fui para o aeroporto com cinco horas de antecedência para ter a certeza de não perder nada. Estive em pé duas horas na bicha do check-in e fui uma das primeiras a ser atendidas. Comer no aeroporto foi a primeira dose de realidade: os restaurantes estavam todos fechados, só havia um aberto em regime de takeaway. Finalmente no avião para o Dubai, preparei-me para as 15 horas de voo, encaixada entre uma avó inglesa que viajava com a filha, a mulher da filha e duas netinhas e um simpático e altíssimo rapaz americano que tinha de se desenrolar todo cada vez que eu queria passar para a casa de banho. E não foram poucas as vezes ao longo das 15 horas porque nos aviões passo o tempo todo a beber água. Segunda dose de realidade: quando estávamos a descer para o Dubai, o comandante anunciou que estava mau tempo, não tínhamos pitrole e éramos obrigados a alternar para um aeroporto próximo, em El Ain. Vi a vida toda a andar para trás, a quarentena a acenar-me com um riso maligno. Mas correu tudo bem, abastecemos sem sairmos do avião e aterrámos finalmente no Dubai, a tempo de perder o voo para Londres.

Cada passo em frente pareciam dois para trás. Após umas horas em várias bichas, consegui que me dessem um novo voo para Londres umas horas depois, também a tempo de perder a ligação para de Londres para Lisboa.

Não fazia ideia quanto tempo Londres ia permanecer aberto, nem quanto tempo a TAP aguentaria os voos para lá. A minha agente de viagens, a Maria Viana Machado da Best Travel, conseguiu-me novo voo e enviou o bilhete por mail. Oito horas depois a Emirates chegava a Londres num 380 comigo a bordo. Em, Londres tinha sete horas para mudar de aeroporto de Gatwick para Heathrow. Aqui, o ambiente já era de guerra biológica com montes de asiáticos vestidos a rigor de EPI (Equipamento de Protecção Individual), óculos de mergulho, máscaras futuristas. Eu sempre com a minha máscara bico de pato, dentro da qual me sentia sufocar. Depois de mais peripécias na segurança por causa da posse de dois isqueiros e de um baton gloss, lá embarquei no TAP a caminho de casa. O avião quase vazio, sem nenhum serviço a bordo, uma temperatura de gelar, mas senti-me em casa. Foi um saltinho até chegar a Lisboa. E não é que durante todos estes percursos nunca se perdeu nenhuma mala...

Chegada a casa começaram outras peripécias, mas essas ficam para amanhã.

POSTAIS DA OCEANIA 2: MELBOURNE

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Melbourne é a cidade que mais está a crescer na Austrália. Por todo o lado vi jovens, muitos deles em bandos com a farda das diferentes escolas. Toda a população é de uma simpatia extrema, começando pelos voluntários espalhados por toda a cidade para ajudar os turistas. Eu conheci uma simpaticíssima, a June, que me ajudou a orientar na cidade. 
Andar de eléctrico é gratuito no centro da cidade. E é tão fácil numa cidade toda quadriculada. O eléctrico 35 é o equivalente ao nosso 28, fazendo o perímetro do centro da cidade. Ideal para entrar e sair, embora só passe de meia em hora. 
Melbourne é uma mistura de arquitectura dos anos 30 (art Deco), dos fins do século XIX  e contemporânea.
O meu conselho é que não perca a Collins e a Russell streets, onde se concentram as lojas de grandes marcas. São largas e rodearas de árvores. Na Russell 161 loja 26 fica situada a LUNE. Muitos metros antes de a encontrar já me chegava ao nariz o aroma da manteiga misturado com o chocolate e a amêndoa torrada, que me fez enfrentar sem pestanejar uma fila de gente, sobretudo jovens japoneses. No balcão, alongam-se os três itens que constituem o repertório sólido do Lune: croissant simples, croissant de amêndoa e pain au chocolat. Pedi o simples e o de amêndoa e acompanhei com um chocolate quente. Tudo maravilhoso. Os croissants bem folhados com o desejado sabor a manteiga, o chocolate quente levíssimo. Come-se em pé ou leva-se para fora. Junto às mesas altas uma fonte com água simples e com gás. Simplicidade total. Atenção que não aceitam dinheiro, só cartões. 
Ao almoço,  entrei numa grande cervejaria para comer um schnitzel. Revelou-se péssimo, a saber a óleos mais que usados. O meu conselho é que se mantenha longe do European Beer Café, a menos que queira só uma cerveja de pressão. Ali encontra uma boa dezena delas. 
A qualquer hora do dia, tome o seu café no Decoy. Ali encontra uma variedade de origens e um ambiente agradável e irónico. (Exhibition Street 303). 
Depois dirija-se ao rio e visite as galerias modernissimas com exposições de várias artes, nomeadamente  fotografia. Desça a Flinders e visite o Immigration Museum e o Melbourne Museum, mas guarde um tempo para flanar no Quenn Victoria Market, onde além de frescos encontra toda a sorte de bugigangas, nomeadamente botas da UGG muito baratas. 
E até amanhã, onde vos irei falar de um local de contos de horror que mais parece um local de contos de fadas. 

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June, a voluntária infatigável no terminal de navios de Melbourne

 

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As linhas do eléctrico que envolvem o centro da cidade

 

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Batata-doce assada no Queen Victoria Market

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O Queen Victoria Market com a moderna cidade por trás

 

 

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Art Déco

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Decoy

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Croissants no LUNE

 

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Polvilhando os croissants com

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Linhas modernas no museu

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Catedral de S. Paulo fora e dentro 

 

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