REGRESSO A CASA
Este é o meu sexto dia de quarentena profiláctica auto-imposta e só hoje resolvi escrever-vos. Porque havia trabalho atrasado e porque me estava a adaptar à nova vida.
Cheguei Domingo as onze da noite a casa depois de quase 3 dias sem mudar de cuecas, só de máscara. O fecho das fronteiras europeias apanhou-me a dois dias de regressar a casa, em Cairns, a mergulhar nos recifes de coral com uma falsa sensação de que a vida era mesmo ver peixes multicoloridos e amêijoas do tamanho alguidares.
O meu regresso foi difícil, longo e cansativo, mas eu só queria mesmo era voltar para casa, mesmo que sabendo que iria à mesma para longe da minha família. Eu só
queria era deixar os peixes multicoloridos e as paisagens paradisíacas e fechar-me na minha casa, na minha amêijoa que não é gigante. pelo Dubai foi cancelado porque implicava uma mudança de terminal, obrigando logo a fazer quarentena por minha conta e risco. Tive de comprar novas passagens Sydney/Dubai/Londres na Emirates e Lisboa/Londres na TAP. E esperar dois dias num hotel do aeroporto de Sydney.
Fui para o aeroporto com cinco horas de antecedência para ter a certeza de não perder nada. Estive em pé duas horas na bicha do check-in e fui uma das primeiras a ser atendidas. Comer no aeroporto foi a primeira dose de realidade: os restaurantes estavam todos fechados, só havia um aberto em regime de takeaway. Finalmente no avião para o Dubai, preparei-me para as 15 horas de voo, encaixada entre uma avó inglesa que viajava com a filha, a mulher da filha e duas netinhas e um simpático e altíssimo rapaz americano que tinha de se desenrolar todo cada vez que eu queria passar para a casa de banho. E não foram poucas as vezes ao longo das 15 horas porque nos aviões passo o tempo todo a beber água. Segunda dose de realidade: quando estávamos a descer para o Dubai, o comandante anunciou que estava mau tempo, não tínhamos pitrole e éramos obrigados a alternar para um aeroporto próximo, em El Ain. Vi a vida toda a andar para trás, a quarentena a acenar-me com um riso maligno. Mas correu tudo bem, abastecemos sem sairmos do avião e aterrámos finalmente no Dubai, a tempo de perder o voo para Londres.
Cada passo em frente pareciam dois para trás. Após umas horas em várias bichas, consegui que me dessem um novo voo para Londres umas horas depois, também a tempo de perder a ligação para de Londres para Lisboa.
Não fazia ideia quanto tempo Londres ia permanecer aberto, nem quanto tempo a TAP aguentaria os voos para lá. A minha agente de viagens, a Maria Viana Machado da Best Travel, conseguiu-me novo voo e enviou o bilhete por mail. Oito horas depois a Emirates chegava a Londres num 380 comigo a bordo. Em, Londres tinha sete horas para mudar de aeroporto de Gatwick para Heathrow. Aqui, o ambiente já era de guerra biológica com montes de asiáticos vestidos a rigor de EPI (Equipamento de Protecção Individual), óculos de mergulho, máscaras futuristas. Eu sempre com a minha máscara bico de pato, dentro da qual me sentia sufocar. Depois de mais peripécias na segurança por causa da posse de dois isqueiros e de um baton gloss, lá embarquei no TAP a caminho de casa. O avião quase vazio, sem nenhum serviço a bordo, uma temperatura de gelar, mas senti-me em casa. Foi um saltinho até chegar a Lisboa. E não é que durante todos estes percursos nunca se perdeu nenhuma mala...
Chegada a casa começaram outras peripécias, mas essas ficam para amanhã.