A VIDEOCHAMADA
Hoje de manhã, a minha neta Diana queria que eu tocasse na saia de gaze em relevo de uma bailarina da sua sweatshirt. «Toca aqui avó, toca aqui». Respondi-lhe que não conseguia, que só estávamos a falar através do telemóvel, ao que ela de pronto me ordenou: «Faz um buraco no telemóvel e passa a mão».
É o momento alto do meu dia, aquele em que consigo falar com a família por videochamada. É óptimo poder ver a minha filha, o meu genro, as minhas netas ou os meus amigos. Mas a videochamada tem isso, isso de não podermos passar a mão e tocar aqueles que tanto amamos precisamos desesperadamente de tocar. Por um lado satisfaz os olhos, por outro amplia as nossas carências de toque.
Mas obrigada ao universo pela videochamada. Ela tem imensas vantagens. A primeira é obrigar-nos a ter boa aparência. Ninguém quer ser apanhado tronco nu ou de pijama e pantufas ao meio dia. Logo, obrigamo-nos a vestir, ainda que seja com roupa confortável. É completamente proibido estar de camisola de ir à rua e de calças de pijama e pantufas, na ideia de que só nos vêm para cima. Ao fim de um ou dois meses de estarmos fechados em casa, é muito importante que mantenhamos certas regras e vestirmo-nos é uma delas. Quando estamos sentados no sofá é o que distingue um cidadão exemplar que cumpre o isolamento de um cidadão preguiçoso que não se levanta do mesmo.
Se há regras restritas para as videochamadas de trabalho (não vou hoje entrar por aí) também as há para as privadas. Essas regras são essenciais e devem ser observadas mesmo entre família chegada. Porquê? Porque, por exemplo, há quem sem se aperceber da existência da imagem as possa atender sentado na retrete ou a fazer outras coisas igualmente pouco atraentes. Primeiro liga-se por voz ou envia-se mensagem e obtém-se a autorização do outro para a videochamada. É básico. E tal como as chamadas de voz, não se fazem antes das 11 horas, altura em que toda a gente civilizada está vestida.
Dito isto, use e abuse das imagens. É o melhor consolo que temos.