NA ESPLANADA DO ALBATROZ
Boa comida e Albatroz nunca fizeram parte da mesma frase numa conversa. Sempre adorei ir ao fim da tarde tomar uma bebida ao Albatroz porque a vista é do outro mundo (andam-se milhares de quilómetros de avião, quando temos disto aqui mesmo em casa) e o terraço é polifacetado: tanto se vai para um momento zen de imersão na azulíssima paisagem como para ver gente e conviver. Mas confesso que a melhor coisa que me lembro de lá comer eram as amêndoas torradas que sempre foram óptimo pica-pica para o whisky ou o gin.
Hoje tudo mudou graças ao trabalho de Fréderic Breitenbucher. O novo chef do Albatroz é daqueles que cozinha para o cliente e não para o Instagram. Criou uma ementa abrangente para o terraço, com a preocupação de usar o que Portugal tem de melhor. Ostras ao natural ou com dois molhos levíssimos, bem-apresentadas em bandeja com gelo, limão e salicórnia (pessoalmente prefiro-as sempre como vieram ao mundo, sem qualquer adição, nem sequer cítrica) e amêijoas à Bulhão Pato (o toque final da manteiga dá-lhes graça, embora eu seja adepta do azeite, coentros e alho) para começar. Depois, uma salada César de frango ou de camarão, cheias de sabor com acidez. Não deixe de experimentar a versão sapateira recheada (parece que este ano a santola não anda grande coisa) do chef, com uma telha de açafrão e uma gelatina de fruta Ou para os mais gulosos, um Royal Cheese com um hambúrguer gigante encimado por um escalope de foie gras, cebola caramelizada trufada e queijo cheddar a escorrer. Uma experiência de verdadeira gula depois de os olhos se terem regalado com um festim de sabores, onde Fredéric incluiu os luxos do foie e da trufa, que elevam este pedaço de pornfood a outro nível. Para começar por achatar com as mãos e comer à mão sem fazer cerimónia com o foie. Por 26 euros, tem almoço e jantar...Com uma vantagem de poder partilhá-lo com quem se queixar das calorias: coma o hambúrguer todo e deixe o tronco de pepino com a alface enrolada para o queixoso. Boa ideia a do Fredéric de deixar o pepino de a alface de fora do hambúrguer, só a marcar a sua presença.
Para quem tem juízo e não cede aos prazeres da carne, há um prato do peixe do dia. Ontem era cherne com legumes da Quinta do Poial. O peixe imaculado, de frescura e confecção, a falar só de si próprio, como gosto. E como gosto mesmo é de comer primeiro os legumes e no fim o peixe, para o gozar totalmente sem misturas.
Não esteja já a pensar que eu comi isto tudo a uma só refeição. Estava com mais dois amigos e partilhámos. Por isso ainda podemos terminar a refeição com o meu babá preferido de sempre: uma textura mais densa do que o clássico, a aguentar melhor a calda de rum, e um creme untuoso, mas fresco, no topo. E uma frutinha, por causa das vitaminas.
O vinho branco a copo foi o da «casa», um Chardonnay 2018 da Casa Santos Lima. E um tinto Do Douro lavradores de Feitoria.
Aos cascalenses que sempre gostaram do Albatroz, mas que já lá não iam ao tempo, aconselho-os a voltar. Tudo está perdoado. Comecem pelo terraço e depois tentem a sala de jantar, ao jantar (veja o post anterior a este sobre o jantar). Albatroz e boa comida já convivem bem na mesma frase.
Amêijoas à Bulhão Pato
Ostras de Aveiro
Sapateira
Cherne com minilegumes da Quinta do Poial
Salada César de camarão
Royal Cheese com foie gras
Babá au rhum com alperce
Fruta laminada