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Conversas à Mesa

DOCES CONVENTUAIS DO LORVÃO

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Quando se tem a sorte de encontrar uma casa como a Pastelaria do Mosteiro faz-se novamente luz sobre o tesouro que temos em Portugal com os doces conventuais. Nesta casa situada mesmo em frente do Mosteiro de Santa Maria do Lorvão, Nuno Esperança, o proprietário, apresenta uma montra recheada de doces conventuais levados à perfeição por muitos anos de trabalho.

Lorvão fica no concelho de Penacova. Aproveite e vá até lá. as vistas sobre o Mondego são inesquecíveis e há também a temporada da lampreia e a chanfana.

Hoje não vou falar sobre as dificuldades que há em transformar receitas vagas passadas oralmente em doces perfeitos como estes da pastelaria Mosteiro.

Vou começar por eles. Os que mais atraem a vista são as nevadas, cuja capa alva de espessura ideal (não é fácil encontrar essa espessura, tem de ter açúcar e claras suficientes para se sentir e cobrir, mas sem resistir ao dente nem obnubilar o recheio), qual véu das freiras da ordem de Cister que habitaram o Mosteiro. Por baixo do véu esconde-se um pão-de-ló fino e macio recheado com doce de ovos. Os queijinhos de ovos são outras obras-primas: a camada exterior de massa de amêndoa não se sobrepõe ao recheio de doce de ovos, não por ser demasiado fina, mas por ter sabor suave. Depois, as broinhas de ovos, talvez as minhas favoritas, os pastéis de Lorvão (com amêndoa e canela) e os palitos (de amêndoa) e muitos mais.

Quem tenha dúvidas em relação à doçaria conventual entre neste Mosteiro, prove estes doces e vai ficar convertido, tenho a certeza. Numa altura em que a doçaria conventual está tão falsificada, aqui pode ter a certeza de que é tudo genuíno e perfeito.

Numa longa conversa que tive com Nuno Esperança falámos dos vários problemas que se colocam à nossa doçaria conventual. A questão da bad press dos ovos parece estar resolvida. O lobby respectivo parece ter conseguido que comer ovos deixasse de ser uma ameaça para a saúde. Por aí estamos melhores. Mas este tipo de pastelaria parece ter saído das boas graças dos portugueses e nunca foi muito do agrado de turistas.

Por um lado porque as pessoas acham que um queijinho de ovos é pior para a saúde que um cupcake ou um donut. Um erro. Comparem-se em matéria de quantidades de açúcar e de gorduras. Por outro, o actual paladar está mais virado para as sobremesas com alguma acidez, ou para o chocolate.

Era vital tornar a nossa doçaria conventual desejável. É o que temos de melhor. Se conseguimos por o pastel de nata nas bocas do mundo, tenho a certeza que também o conseguíamos fazer com os doces conventuais.

 

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Nuno Esperança, o proprietário da pastelaria O Mosteiro. foi na esplanada mesmo no passeio do Mosteiro que estivemos à conversa. 

 

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A montra doceira da pastelaria O MOSTEIRO, frente ao Mosteiro do Lorvão. 

 

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À esquerda, a nevada, à direita, a broinha de ovos, à frente, os pastéis do Lorvão. 

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Queijinhos de ovos e broinhas de ovos

 

 

 

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A nevada, a broinha, o palito e o pastel de Lorvão cortados revelam o seu interior

 

 


Foto de capa - Atrás: broinha de ovos, pastel de Lorvão, broinha de ovos; à frente: queijinho de ovos, nevada e palito

 

Pastelaria O Mosteiro

R. Evaristo Lopes Guimarães, 3360-106 Lorvão

 

CENAS COM ATALHOS: SALADA DE CAMARÃO

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Há muitos anos que não faço a rubrica Cenas no blog. Hoje vou voltar as Cenas mas com uma particularidade, um twist: os atalhos. Quero deixar-vos aqui receitas muito fáceis e rápidas, feitas a partir de produtos de compra. Para maior facilidade, digo-vos onde comprei os produtos, mas não tenho qualquer acordo com nenhum supermercado nem recebo dinheiro para os apresentar. Simplesmente são os que eu compro, por os achar uma boa relação qualidade-preço, ou por comodidade. 

Hoje começamos com uma salada de camarão cuja graça está sobretudo no molho, de caril e manga, com alguma doçura e sabores asiáticos. Mas também o crocante salgado dos nachos grosseiramente esfarelado. 

Para 2 ou 3 pessoas 

1 saco de salada pronta  (eu usei uma mistura destes dois. O essencial é que tenha variedade de folhas. 

Molho de caril e manga da Heinz 

500 g de Camarão cozido (qualquer camarão serve, menos os já descascados que não têm sabor. Pode comprar os já cozidos e descascá-los)

Um punhado de nachos originais 

Misturar tudo e acrescentar os nachos só na altura de servir. É tudo. Espero que gostem. 

 

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As saladas de compra que costumo usar

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O molho de caril e manga que usei para temperar e que empresta um toque asiático e a frescura da fruta.

 

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Os nachos que esfarelo sobre a salada

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A salada antes de ser mexida. só se juntam os nachos depois de mexida.

 


 

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A salada no prato fundo em que a costumo servir, mas também pode ser uma tigela grande.

DO MAR OS MAIS FEIOS, NO BARRIGA DE FREIRA

6a5ba3b8-d801-4770-bd4e-eb5fc4bded03.JPGDO MAR OS MAIS FEIOS (os peixes, não estes senhores), este evento reuniu estes três parceiros: chef Luís Barradas, Filipa Tomaz da Costa enóloga da Bacalhoa, e António Assembleia, proprietário do Barriga de Freira.  

É verdade, no que diz respeito àquilo que comemos, o feio, bonito não nos parece. Temos, em geral, um preconceito contra os peixes mais feios, os que têm grandes bocarras, olhos salientes, formatos menos convencionais. Esta semana estive em Setúbal num jantar baptizado “Do Mar os Mais Feios”, em que o restaurante Barriga de Freira e o chef Luís Barradas fizeram uma parceria com os vinhos do mega grupo Bacalhôa.

O jantar teve lugar num restaurante lindíssimo, quer pela decoração, quer pelo local: o Barriga de Freira, situado no interior do Convento de Jesus, das freiras da Ordem das Clarissas. De recorte manuelino, o convento foi fundado em 1489. Hoje, uma parte dele  funciona como museu.

Neste enquadramento magnífico, Luís Barradas provou sem qualquer dúvida que os peixes feios podem ser amados por nós, se realmente conseguirmos ver o seu interior...

Numa época em que os peixes que consumimos se contam pelos dedos das mãos (e ainda sobram), quando há centenas de espécies nos nossos mares, a lição de Luís Barradas devia ser repetida à exaustão para não nos arriscarmos a tornar extintas algumas delas.

O peixe tem sido uma das bandeiras da nossa gastronomia, vamos tentar conservá-los aprendendo a gostar de peixes muito abundantes, mas mal-amados por nós, seja porque têm muitas espinhas, seja porque são feios.

Ao longo de várias confecções diferentes, provou-se que os peixes feios, menos procurados, podem estar na base de pratos muito desejáveis e saborosos. Neste tipo de cozinha, os peixes surgem habitualmente arranjados, sem espinhas, ainda que possam ter sido cozinhados com elas.

 

O jantar foi exemplar, quer na parte da utilização dos peixes feios em pratos com sabores diferentes, quer dos vinhos, todos eles (à excepção do Quinta do Carmo) com origem na Península de Setúbal.

 

 

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De entrada, Agulha Curada, picles da horta – com uma acidez pronunciada nos acompanhamentos, harmonizada com Bacalhôa Verdelho 2020.

 

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Caldo de charroco com Bacalhôa Chardonnay 2020

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Raia, alhos e bugalho de manteiga noisette com Quinta do Carmo Reserva Branco 2019

 

 

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Pata roxa e o faralhão ensopado, com Quinta da Bacalhôa Tinto 2017, o ícone da marca

 

 

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Para sobremesa, A Babá não é velha é Antiquíssima, em que a aguardente Antiquíssima (da Aliança, também parte do grupo) substitui o habitual rum.

 

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A panóplia de vinhos e aguardente servidos

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Com a minha amiga Teresa Santos à porta do restaurante Barriga de Freira

 

Fotos dos pratos e da panóplia de vinhos por Mário Cerdeira, a quem agradeço

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