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Conversas à Mesa

YO MAMA’S BBQ

 

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Não é possível, nem sequer legal?, ir ao Texas sem comer Barbecue, o prato mais típico neste estado. E o que é o barbecue no Texas? Uma santíssima trindade de três carnes de vaca: ribs (entrecosto), brisket (peito) e sausage (salsicha) e, em geral, 3 tipos de acompanhamentos: uma salada de batata, feijão estufado (feijão pinto) e coleslaw.

Em casa de amigos, o Steven e a Amy, já é hábito o Steven fazer um BBQ perfeito de brisket (às vezes de veado, na época da caça), porco (servido desfiado, o pulled pork, ou me costela) e salsichas ou peru. A carne é injetada com uma marinada à escolha e deixada repousar. O BBQ smoker é alimentado a lenha, geralmente de árvores de fruta, mas mais em função do sabor que se pretende alcançar com ela. Aí ficam as várias peças de carne durante horas e horas, geralmente 12 h, mas também podem estar bem mais tempo. O Steven levanta-se algumas vezes durante a noite para cuidar das carninhas, virá-las, mudá-las de posição, enfim mostrar-lhes algum carinho. À mesa, perguntei onde podia experimentar um BBQ Very Texan e a resposta foi em Montgomery, uma linda região que cresce em redor de um lago, no Yo’ Mama’s sem sombra de dúvida. Passados os 3 dias necessários para digerir o bbq em casa do Steven (ele faz sempre quantidades enormes de carne que depois oferece aos amigos em dog baggies), lá marchei para Montgomery, uma hora de caminho. Já tinha visto uma foto do local e estava mais ou menos preparada, mas não completamente preparada. O interior parecia um verdadeiro conjunto de clichés texanos, mas não, era mesmo a coisa original. Na parede do fundo, a cabeça empalhada de um veado (barbecue de carne de veado acontece), com uma etiqueta pendente da armação onde se lê um nome, Oscar Arnsworth. O nome do veado ou do caçador? A porta do pessoal tapada com uma enorme bandeira nacional, que podia perfeitamente ser uma do Texas. O tecto semicoberto com matrículas de carros. A ementa não tem nenhum escrito original, preços e nomes de pratos reescritos sobre fita adesiva. Num canto, debaixo de duas t-shirts para venda, um sofá reclinável muito pindérico com o respetivo comando. Na parede oposta, amostras de quilts da loja ao lado. Um pequeno armário verde, antiga mercearia, com bebidas alcóolicas a lembrar a era do moonshine. Objectos velhos espalhados, a anteciparem a decoração que já esteve na moda com as velharias da avó, num arranjo desarranjado. Um crucifixo que ostenta uma pérola de sabedoria religiosa: Be still and know I am God. Ainda na vertente religiosa, por baixo da caixa onde se paga, uma bíblia aberto em Isaías 37:35, sobre a libertação de Jerusalém. Duas mesas diferentes, em plástico e madeira. E o moto do restaurante: Need no teeth to eat my beef («Não são precisos dentes para comer a nossa carne»). O moto é mais que verdadeiro, mas acerca da comida vou falar-lhes no próximo post, hoje é só a «experiência», ou melhor dizendo, a mini-imersão na cultura local.

 

 

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O Chris exerce uma simpatia natural  

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O smoker nas traseiras

 

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E, dito isto, tudo funciona junto. Entramos, e somos saudados pelo Chris, um homem alto e magro, de bigode, rabo-de-cavalo, boné e aquela irresistível pronúncia sulista que eu adoro desde E Tudo o Vento Levou. A maneira como ele nos chama MAM é do mais encantador que pode haver. E o que dizer da despedida: Have a blessed day Mam (tenha um dia abençoado).

Tudo apresenta um asseio irrepreensível. Não há um grama de pó nas garrafas vazias que estão por ali há vários anos. O acesso à casa de banho é do lado de fora, lá dentro está tudo imaculado.

Os clientes começam a chegar e a instalar-se juntos nas mesas. Estabelece-se conversa, querem saber o que faço ali, de onde venho. O ambiente torna-se hospitaleiro, caseiro e o almoço decorre num ambiente de prazer e de segurança. Adorei o Yo’ Mama’s. devia ter uma estrela Michelin, daquelas que dizem, vale o desvio. Porque vale mesmo, e só vos estou ainda a falar do ambiente. Da próxima vez, falamos de comida. Até lá.

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