Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Conversas à Mesa

VIVA O DONA AMÉLIA

IMG_0076.jpg

 

Tenho comigo uma grande sensibilidade à pronúncia nortenha. Num restaurante, se oiço uma mulher falar à Norte invade-se-me de imediato uma noção de segurança e de conforto. Invariavelmente, tudo me vai saber melhor. no caso do D. Amélia tudo iria saber lindamente sem a presença das mulheres do Norte, mas assim tem muito mais graça.

O Dona Amélia é um restaurante situado perto de castelo de Paiva em que tudo me grita segurança e conforto. Começa pela paisagem verde de montes e vales onde se aninha a casa de pedra granítica cujas traseiras são ocupadas por vários fornos a lenha. O que pode ser mais reassegurador do que um forno a lenha? Muitos fornos a lenha. Não bastasse, quando estou quase a entrar a porta do restaurante, oiço aquela pronúncia que me derrete o coração na voz da Dona Conceição, a mestra do fogo e dos fornos. Estava o baile armado, o camarão vendido, já sabia que ia gostar de tudo que me servissem.

O Dona Amélia é um daqueles restaurantes cuja fama passa de boca em boca. Situado nos quintalinhos, ninguém lá passa, vai-se lá por uma estrada ziguezagueante. Às vezes está aberto, às vezes está fechado, embora as folgas sejam domingo à noite e segunda-feira. Não se pode aparecer lá e dizer que se quer comer, não senhor. Antes é preciso combinar a coisa. Ligar para lá, escolher o que se quer comer. Às vezes dizem a ementa toda, outras não. Por exemplo, o cabrito (que dada a exiguidade das minhas tropas não pude provar) só se serve inteiro, já o anho servem-no em quartos. Atenção que tudo o que vou nomear é feito no forno a lenha. Bacalhau, posta de arouquesa e polvo são os carros de combate. Mas também há frango, vitela e arroz louro de frango ou de cabidela. E Basta.

Não pense que tudo vem naquelas doses generosas do Norte. Não senhor, são doses sustentáveis para pessoas que comem normalmente e não ficam com fome.

Aqui não há adornos. Bem, o único adorno é a vista da varanda onde aconselho a que reservem a mesa. O verde do Douro onde a vista alcança. Pão e azeitonas, de trigo alvo, tipo espanhol, e de centeio. Gosto destes mínimos adornativos.

Quando liguei, ainda verde no funcionamento donameliano, propuseram-me apenas posta, bacalhau e polvo e fui para os dois últimos. O polvo super tenro e com as batatinhas assadas, bom azeite. O bacalhau de bom ponto de assadura com cebola e alho na sua crueza, batata assada e ovo cozido (vá-se lá saber).

Depois, as sobremesas:  musse de chocolate, maçã assada, pudim flã, pão de ló húmido de Castelo de Paiva e leite creme. A mousse de chocolate revelou-se bem boa, o leite-creme, superior, com as espirais da queimadura a ferro a transportarem-nos para um reino de simbolismo. Uma verdadeira maravilha, que resistiu a todas as tentações de lhe serem colocados elementos espúrios.

Para acabar, peça o vinho verde branco da região e vai amar. O Dona Amélia é a prova viva de que a simplicidade regional só necessita de qualidade e dispensa rodriguinhos. Assim é que é.

O meu Viva também à Dona Conceição que há quase 30 anos acende e comanda os fornos do restaurante, sem vacilações. Vivam as mulheres do Norte. Vivam os fornos a lenha que deveriam estar mais presentes mesmo nos nossos restaurantes de cidade. Vivam os bons produtos que dispensam joalharia. Viva a cozinha regional portuguesa.

 

(Até estive à conversa com o dono do restuarante, muito simpático, mas não perguntei nem faço ideia de quem é a Dona Amélia)

 

Restaurante Dona Amélia

Urabnização da Quinta do Casal 4550, Barros, Castelo de Paiva

Tel: 255 698 773

 

 

 

IMG_0078.jpg

IMG_0079.jpg

IMG_0081.jpg

IMG_0082-1.jpg

 

IMG_0083.jpg

IMG_0084.jpg

IMG_0086.jpg

IMG_0087.jpg