Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Conversas à Mesa

UM MOSTEIRO DA MINHA DEVOÇÂO

IMG_0229.jpg

Não se trata de um só Frade, mas de um verdadeiro mosteiro deles. O restaurante com este nome é um assunto da família Frade, entre pais, irmãos e primos. Gosto muito de ver restaurantes de família, como os tantos ainda no Norte e em cidades como Paris, já tão poucos aqui para o Sul.

Pois a família Frade tem grande tradição restaurativa. O avô, António Teles Frade, teve uma casa em Beja, também de nome O Frade. A família também produz vinhos da talha em exclusivo, sendo o pai, Alexandre, quem dirige a ACV DOC, em Vila de Frades, em pleno território deste tipo de vinho que nos foi deixado pelos Romanos. A adega é abastecida por antigas castas da região da Vidigueira.  Estes vinhos estão em destaque no restaurante e é um enorme prazer bebê-los harmonizados com os pratos.

O esapço do restaurante sito na Calçada da Ajuda era destinado à venda de vinhos casados com petiscos. estes últimos estariam a cargo do chef Carlos Afonso, primo dos atuais proprietários, os irmãos Sérgio e Pedro, que tive o enorme prazer de conhecer num almoço para que fui convidada. Carlos Afonso saiu para outro projecto, o Oitto, e foi substituído por um ex subchefe da casa, o Diogo Carvalho, sob cuja batuta a ementa passou de prioritariamente alentejana para um misto de cozinhas regionais de todo o país. 

280453715_520023859605488_7809220268282318474_n.jp

O chef Diogo Carvalho (foto do restaurante)

frade.jpeg

 

IMG_0227.jpg

Fotos das talhas da família Frade

 

frade 1.jpeg

O Balcão

O espaço do restaurante divide-se entre a esplanada, bem protegida, onde se encontram todas as mesas, e um grande balcão em mármore liós de 16 lugares, muito comfortáveis. A espolanada está aberta o dia todo, o balcão só para as refeições principais. A carta apresenta muita e reconfortante comida de tacho, em doses generosas que dão para partilhar. O ex-libris é o arroz de pato, de tacho e não de forno, húmido e saboroso. A feijoada de polvo já ganhou pontos na carta, pelo seu sabor intenso proveniente da pasta de cominhos e do chouriços de sangue, sendo rematado por um azeite de espinafres. A minha sugestão é que partilhem estes pratos, mas que não deixem de experimentar as entradas. O rissol de lingueirão, por exemplo, mas sobretudo a empada de bochecha de porco, de massa irrepreensível e recheio intenso. Sobretudo, não saiam de lá sem provar o coelho de coentrada (foto de capa), picle de cebola roxa e sementes de mostarda, o meu favorito em todas as categorias, com várias voltas à arena. a carne, impecável, o tempero do escabeche, celestial. É pena que a carne de coelho, apesar da recente campanha feita pelos produtores, não tenha o consumo que merece, por ser saudável, saborosa e muito versátil. talvez por os coelhos serem apresentados inteiros nos talho, com cabeça e olhos acusadores. Experimentem vender o coelho como o frango, em pedaços não identificáveis, e talvez tenha mais êxito. talvez a culpa tenha sido do Walt Disney, que se podia apelidar o pai do vegetarianismo, ao tornar todos estes animais domésticos (coelhinhos, porquinhos, patinhos) em coisas fofas. Quem é que consegue deglutir o Bugs Bunny?

 

IMG_0222.jpg

Rissol de lingueirão

IMG_0224.jpg

IMG_0225.jpg

Empada de bochecha de porco, obrigatória

 

IMG_0230.jpg

Feijoada de polvo

IMG_0238.jpg

Arroz de pato

 

Em matéria de sobremesas, também excelente comportamento de O Frade, não fosse o chef Diogo Carvalho pasteleiro de origem. Gostei particularmente do D. Rodrigo em dose muito abastada e sem papel de prata, acompnhado de uma espécie de Alasca: o gelado de limão é braseado a maçarico à vista do cliente e fica lindíssimo. Espalhadas no prato, as amêndoas crocantes que ecoam também o caramelo do D. Rodrigo. esta sobremesa e o escabeche de coelho ficaram na minha memória e irão levar-me a O Frade sempre que puder. Memoráveis. experimentei ainda outra sobremesa: a granita de morangos macerados com gelado de iogurte, ideal para quem for menos dado a choques de doçura. 

IMG_0241.jpg

Para o fim, deixei uma parte essencial da experiência: a harmonização com os vinhos de talha. Vale a pena ir provando os vinhos. O ACV branco de 2016 (antão vaz e arinto), já so existente no restaurante, e o tinto 1X1 (trincadeira e aragonês). 

IMG_0226.jpg

 

Resta dizer que O Frade tem um irmão no mercado Time Out. 

 

Restaurante O Frade

Calçada da Ajuda 14, 1300-598 Lisboa

Tel: 939 482 939

Não tem dia de fecho