O BURACO DO VELHO
Vinda da margem sul do Douro, a caminho de Aveiro, meti-me por caminhos um bocado tortuosos, em direcção à aldeia de Pedricosa, na vizinhança de Vagos. Um amigo entendido em restaurantes de todo o país (instagram @ja.comi.pior.e.a.pagar) tinha-me falado num restaurante chamado O Buraco do Velho. Com aquele nome e aquela estrada teria voltado para trás não fosse ter confiança nele. Esperava encontrar um verdadeiro buraco, um tasco velho, e do Velho em si não esperava muito. Só cheguei à aldeia da Pedricosa graças ao GPS, abençoado seja porque já contribuiu mais para a minha emancipação do que a queima feminista dos soutiãs (que parece ter sido afinal um mito: não houve nenhum soutiã queimado no célebre protesto frente ao concurso de Miss América em 1968, mas foi aí que nasceu o mito). Ao longo do caminho, dei comigo não a temer o pior, mas já a “tremer o pior”, uma vez que levava comigo uma amiga de infância estado-unidense a quem nem o buraco nem o velho iriam certamente maravilhar (desculpe lá Fernando). A fachada do restaurante era em pedra, com um ar novo, bonito e demasiado sóbrio para buraco, mas só respirei quando, aberta a porta, me deparei com um restaurante muito amplo e decorado com o melhor bom gosto. A cereja no topo do bolo era o maravilhoso terraço no fundo do restaurante. Ainda bem que tinha feito uma reserva, porque o restaurante estava ao barrote.
Escolhemos Pato e Arroz de Forno (24 euros para 2 pax), sobretudo porque o dito forno é a lenha e também porque fiquei curiosa com o nome: no meu entender não seria o corriqueiro arroz de pato desfiado (a que juntam tanto truque para dar cor, desde caramelo a molho de soja), mas sim o arroz que leva o pato em pedaços grandes sobreposto. Bingo, era mesmo isso. E o aspecto era divinal. Antes de continuar devo dizer que demorou mais de uma hora a chegar à mesa, o que já me estava a enervar. Tal como toda a gente, começo a comer pão com manteiga, irrito-me por ter comido tanto pão com manteiga e quando a comida finalmente chega já estou sem fome. Mas quando o tabuleiro em barro chegou, acompanhado por um irresistível aroma a pato e a lenha, varreu-se-me tudo. A cor do barro proveniente de muitas enfornadelas, o dourado do arroz e os cambiantes castanhos do pato, o verde dos pés de salsa e o laranja das laranjas em gomos era uma visão esteticamente perfeita. Dificilmente um prato de um chef Michelin pode ser visualmente mais poderoso. O sabor não lhe ficava atrás. Foi acompanhado com uma boa salada verde. Nunca vos falei aqui no blog de um restaurante em que só comi um prato, não é boa prática, mas desta vez abro excepção pelas razões acima aduzidas. Confesso que nem sobremesa comi, mas hei-de lá voltar, haja GPS. Obrigada Fernando do @ja.comi.pior.e.a.pagar.
E já agora, se querem servir aquelas mantiigas moderninhas cheias de cores e temperos, e se não usaram toda a manteiga manteiga, aquela sem nada, façam o obséquio de a trazer também, agradecidos.
Rua da Comunidade, 30
3840-345 Pedricosa, Vagos
Tel: 928 125 950
E-mail: info@buracodovelho.pt