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Conversas à Mesa

NOÉLIA TEMPORADA 23

 

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Ir à Noélia é hoje mais in que ir ao clube T da Quinta do Lago no início dos anos 90. É difícil marcar mesa, os habitués reservam-na no Verão anterior. Dois conselhos para quem quiser mesmo comer na Noélia: almoçar ou chegar por volta das 18h30 e aguardar a abertura.

A comida da «nossa Noélia», como é carinhosamente chamada pelos habitués, merece todas essas ânsias. Porque a Noélia faz tudo aquilo que os grandes chefs fazem, desde showcookings a júri do Masterchef, mas ainda assim está todos os dias, mas mesmo todos os dias, de volta dos fogões e das panelas: a Noélia cozinha e conseguimos vê-la a trabalhar porque o espaço é aberto. Essa é a sua grande mais-valia. A sua cozinha não é só técnica. Não pode ser replicada através de fichas, está repleta daquilo a que ela chama Amor, e a que eu chamo uma combinação de bons produtos com confecções primorosas e as preciosas Mãozinhas.

Os pratos tradicionais, ninguém os sabe fazer melhor e com mais frescura. Uma posta de pescada frita com arroz de tomate é brilhante, porque tudo sabe ao que devia saber. O que pode distinguir um bom xerém de um xerém excepcional? A espessura da farinha de milho? O tempero? Não faço ideia, só sei que o xerém da Noélia corresponde à Ideia platónica do xerém. O prato de xerém com gambas rosas é a perfeição, com estas acabadas de sair do mar algarvio. E as lulinhas fritas à algarvia? Apetitosas, com a batatinha cortada à mão e frita. E as pataniscas de polvo? Parece que estamos a comer o polvo em estado cremoso, têm a espessura certa e a fritura impecável, a fazer pandã com a açorda de tomate. 

Porém, a cozinha da Noélia evoluiu muito, atingiu uma criatividade visível em alguns pratos que vai introduzindo na carta. A temporada 2023 mostrou-me que evoluiu no bom sentido: é imperdível e seguem-se alguns spoilers. Técnicas diferentes, confecções diferentes, mas o prato é sempre um universo com ordem e combinações perfeitas. Veja-se o robalo braseado com xerém e berbigão: o peixe é apresentado com textura praticamente de cru, a revelar todo o sabor do mar que o criou, o xerém assume uma nova forma mais sólida em quadradinhos com o molho da água do berbigão e com a presença farta deste bivalve. Criatividade e sabor, muito sabor: apenas mudando as texturas, muda-se o prato, surpreende-se.

Eu podia escolher qualquer um dos pratos que comi este ano na Noélia para a minha Última Ceia. Mesmo qualquer um. Até uma simples entrada, como a anchova, queijo e figo, com 3 ingredientes do mais simples que há e com pouca transformação, mas cuja combinação do doce e do salgado e das texturas resulta perfeita. Já agora, que a minha última ceia tivesse também de sobremesa o bolo de alfarroba de textura cremosa com gelado de baunilha e crocante de amêndoa.

 

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Duas entradas em cima: cavala e salmorejo e figo, queijo e anchova

 

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Robalo braseado com xerem e berbigão

 

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Lulas fritas à algarvia

 

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Patanisca de polvo: com a espessura ideal, nem demasiado alta para parecer um sonho, nem espalmada, mas com aqueles nichos contorcidos que sabem tão bem.

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A textura ideal para servir o bolo de alfarroba, tipo fondant, já que a farinha de alfarroba tende a secar e a agarrar-se à boca.

 

 

Restaurante Noélia

Rua da Fortaleza, Edifício Cabanas-Mar, Loja 6, Cabanas

Fecha à quarta-feira