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Conversas à Mesa

A SUÍÇA, COSTUMES, LIMPEZA E ENERGIA NUCLEAR

 

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Para nós portugueses, os suíços continuam a ser de outro planeta. A política de neutralidade, o voto para as mulheres em todos os cantões apenas ter sido em 1990 (faltava o cantão Alppenzell, o do queijo que entra na fondue), o modo como é feito o serviço militar, tudo isso serve para nos confundir as cabeça. Mas quando estamos na Suíça, não podemos deixar de admirar a calma, a segurança, a preocupação cívica, a limpeza, e, no meu caso, a parcimónia.

 

Aqui ficam umas impressões soltas das duas semanas que passei recentemente numa aldeia do cantão de Argau (Argóvia em português), na Suíça alemã, entre Basileia e Zurique, a cujas cidades serve de dormitório. Os prédios baixos (máximo de segundo andar) alinham-se bonita e ordeiramente e dividem o espaço com moradias antigas, deliciosas por fora, mas geralmente velhas e não renovadas por dentro.

A parcimónia do comércio é notável. As poucas lojas são as básicas, supermercados, uma padaria familiar a fazer negócio há mais de 100 anos, dois ou três restaurantes que fazem take away. Ao domingo, não há comércio de qualidade alguma, à exceção das bombas de gasolina que vendem os precisos. O maior supermercado local, o Coop mantém, apesar de fechado, a mercadoria relacionada com jardins e vasos de flores cá fora. Ainda não vi um único polícia ou segurança, mas na segunda-feira de manhã não falta lá nada.

Vêm-se muitos casais jovens com crianças no fim-de-semana, a passear por entre os campos cultivados que rodeiam a aldeia. Durante a semana, predomina a população sénior, com um ar bastante ativo, de bicicleta, com os indispensáveis colchões de ioga. As pessoas são amigáveis e não se cruzam connosco sem o simpático Grüzi, a saudação clássica em suíço-alemão.

Tudo muito limpo e pacífico, mas, lá ao fundo, a quebrar o idílico da paisagem, é todos os dias visível uma enorme coluna de fumo branco proveniente da central nuclear de Gösgen, uma de várias neste país, a cerca de 18 km da aldeia. Confesso que me deu arrepios.

 

As ruas continuam imaculadamente limpas, sendo o sistema de recolha de lixo doméstico muito eficiente e fascinante. Cada pessoa coloca o seu lixo doméstico cá fora em determinada data, quer seja na rua ou em contentores. Na aldeia onde estive o procedimento passa por contentores. Cada bairro tem também os contentores específicos para vidro, plástico, metal, papel, pilhas. As pessoas podem pôr o que quiserem no seu saco do lixo (vidros, plásticos, etc.), mas há uma motivação forte para não colocarem o lixo reciclável nos seus sacos e tem a ver com dinheiro, claro. Cada saco é padronizado e tem obrigatoriamente de ter colado um selo que se compra nas papelarias e supermercados e que custa à volta de 3 ou 4 euros. Se encherem os sacos com material que pode ser reciclado gratuitamente, terão de comprar muitos mais sacos e selos, e a preguiça de reciclar fica-lhes caríssima. É o dinheiro que os faz reciclar. E perguntei eu, muito tuga, se eu puser um saco sem selo no contentor como é que “eles” sabem que o saco é meu? Respondem eles: abrem-no e procuram pistas, por exemplo cartas, falam com vizinhos. Pois. Esta tuga levou várias vezes sacos ao lixo nunca sem se certificar de que o selo estava lá e bem colado. Eu sou aquela pessoa que ainda hoje lhe bate o coração a mil quando passo a fronteira inexistente entre Portugal e Espanha na ponte que une Vila Real de Santo António a Ayamonte, repercutindo o pavor de que as Guarda Fiscal me apanhasse o saquito dos caramellos com piñones quando era miúda. Se eu vivesse na Suíça, imagino que estivesse sempre com medo de ser apanhada em falta, porque tinha atravessado fora da passadeira ou deixado cair um papel do bolso sem querer, ou feito qualquer coisa que eu própria não sabia ser ilegal.

 

Coisas maravilhosas para quem vive em apartamentos e que em Portugal não se respeitam minimamente: barulhos de vizinhos são inexistentes. Os cães não ladram, vá-se lá saber porquê. Outras coisas igualmente louváveis: não se sofre agressividade nos locais públicos, ninguém grita connosco ou passa à nossa frente na bicha. Os carros nunca apitam. Os autocarros e eléctricos passam à hora, perdão, ao minuto, conforme horários afixados em placas digitais.

Hoje termino, dando voz ao senhor de la Palisse: “É como tudo, há coisas boas e coisas más”. É descansativo, mas que nos dá uma saudade da nossa confusão, dá.

No próximo post falo-vos de comidas, supermercados, takeaways e respectivos preços.

 

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SAL, ALHO & ETC.

 

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Quando se trata de boa carne de porco de raça alentejana, o alho pode ser dispensável e o Etc só interessa como acompanhamento. O Sal, Alho & Etc. é um restaurante de Portalegre que partilha esta idea.

A sala é pequena, abrigando cerca de pouco mais de uma vintena de pessoas. A cozinha é visível quando se passa no corredor, todo ele guarnecido de garrafas de vinho que formam uma bela garrafeira. Como ia a um Capítulo da Confraria da Cerveja, o 21º, bebemos cerveja.

 A escolha recaiu sobre carne de porco grelhada. Um prato com lombinho e migas de espargos, e um outro tipo grelhada mista, com secretos, plumas e lagartinhos, acompanhada com batata frita e molho de coentros. Os acompanhamentos dos pratos não são intercambiáveis. As carnes eram todas de excelente qualidade e sabor, servidas de forma visualmente apelativa (vide uma  marmita onde é servida a açorda). Muitas vezes menos é mais e esta simplicidade é louvável.

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Todo o espaço do restaurante está cuidado, como é visível nas toalhinhas de mãos da casa de banho, que estão na foto. A sala tinha apenas um empregado de mesa, mas que conseguia dar conta do recado, embora sem tempo para grandes simpatias.

 

 

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Após estes elogios à comida, gostava de falar sobre o eterno problema da nomenclatura do porco. A tentação de chamar porco preto ao porco de raça alentejana é constante, e pode não ser tão inocente como parece. Porco preto não significa rigorosamente nada, o que favorece a confusão. Além disso, nem todos os porcos ibéricos são pretos, podem ser castanhos ou até de outras cores.  Um talho, um produtor de enchidos ou um restaurante podem estar a vender o que quer que seja com sob o nome porco preto. Já a designação Pata Negra é aplicada aos presuntos,e não aos porcos, estando regulamentado que um presunto pata negra tem de provir de um porco 100% de raça ibérica, alimentado ao ar livre com bolota até atingir determinado peso. Esta designação é tão cobiçada no reino da presuntaria que houve casos de produtores a pintarem a pata dos seus porcos não ibéricos…

O porco de raça alentejana faz parte de um dos grande troncos suínos, o porco ibérico, sendo parecido com os seus irmãos espanhóis. Em Espanha, chamam-lhe apenas porco ibérico, mas quando nós queremos valorizar o porco português, devemos designá-lo por porco de raça alentejana.

A ementa do Sal & Alho é bastante confusa nos termos usados para designar o porco: porco pata negra (designação aplicável apenas ao presunto), porco preto alentejano ou simplesmente porco preto (designações sem qualquer significado, sendo a única correta “porco de raça alentejana”). No final, o cliente não sabe o que está a comer, nunca tem a certeza de estar a comer o tal porco de raça alentejana, puro a 100% e alimentado ao ar livre a bolota. Como disse acima, esta falta de rigor pode interessar porque engana um cliente que não sabe bem qual a designação correcta e ao qual pode estar a ser dado um porco branco.

Penso que seria de todo o interesse que os produtores, restauradores e consumidores chamassem os porcos pelos nomes. Preto é cor, não é raça. Valorizem o que é nosso.

Para terminar, e depois da disssertação sobre a nomenclatura porcina, volto a afirmar que no Sal, Alho & Etc. o porco é bem tratado, sem floreados de forma a deixar bruilhar o produto, o que é extremamente louvável.

Essencial, é reservar mesa, dada a exiguidade de lugares.

 

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Sal, Alho & Etc.

Av. Pio XII 7, 7300-073 Portalegre

Telefone: 245 031 364 

Fecha ao domingo à noite e à segunda feira todo o dia.