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Conversas à Mesa

HONEST GREENS

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A moradia antiga onde este restaurante está instalado ficou linda. Varandas e terraços com plantas são abundantes no rés-do-chão e no primeiro andar, a decoração baseia-se em peças e materiais orgânicos, a cozinha é à vista.  Está sempre cheio, na maioria população turista, também devido à localização no largo da estação de Cascais.  Foi o último a abrir, após mais de meia dúzia de Honest Greens em lugares chave de Lisboa. 

Quando lá entrei pela primeira vez com amigos pensava que era um restaurante vegetariano. Afinal não. 

 

O conceito veio de 3 amigos,um americano, um dinamarquês e um francês que, não entraram num bar, mas que resolveram empreender na área da restauração. Conheceram-se em Barcelona, local onde abriram o primeiro restaurante. Em Portugal, a marca pertence ao grupo Plateform. Prometem comida saudável, de produtores locais, sem aditivos nem açúcares refinados, biológica sempre que possível. Num restaurante que se chama Honest Greens, os legumes deveriam ser honestos, de confiança. Esperava que fossem de produtores locais identificados..

O manifesto da marca cumpre os requisitos mais politicamente corretos, nomeadamente a presença de cães no interior do restaurante. A teoria está lá toda, mas a comida foi para mim uma desilusão. Nada tem o factor frescura. 

 

O tataki de atum, cuja espécie não está identificada na lista, difere bastante da fotografia encontrada nas redes sociais do restaurante. Como todos os 3 pratos que comemos, acompanha só com salada ou com uma fatia de pão e salada, toda igual, e tal como toda a restante comida, apenas sabe ao molho doce que a cobre. As fatias de atum também estão cobertas por um molho doce tipo ponzu e são pedaços moles de uma substância indiscriminada que apenas sabe ao molho. Basicamente, o que eu diria da comida do Honest Greens é que é a proteína e os legumes sabem a doce enquanto a sobremesa (pedi um chocolate chip cookie) só sabe ao sal que tem espalhado por cima. O cookie parece feito com os restos de varrer o chão que ficaram na pá do lixo, enfeitada com sal. Não tem açúcar refinado conforme está escrito no manifesto do restaurante, mas que tipo de açúcar leva não faço ideia, mas era a coisa menos doce de toda a ementa. A batata doce com natas vegetais e um molho doce faria melhor figura nas sobremesas. Salgado e doce são os sabores básicos omnipresentes, talvez mais comida para camones e outros turistas, que aliás constituem a maioria da clientela. Para terminar numa nota positiva, gostei muito do espaço, da decoração e do conforto. Os terraços e as varandas são muito agradáveis. Não há serviço de mesa completo: faz-se o pedido na saída, fornecem-nos um daqueles aparelhos localizadores e trazem-nos a comida à mesa. A sobremesa e o café são pedidos noutro balcão. 

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FRANGO

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TATAKI DE ATUM

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BATATA - DOCE

Desculpem as fotos, mas a comida não pedia mais. 

 

PRIMAVERA NO INTEMPORAL

 

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Chama-se Intemporal porque não segue modas, apenas nos transmite a forma de pensar a cozinha do Miguel Laffan. É Intemporal porque tem uma decoração original, mas que não cansa, em tons beiges como se o restaurante fosse uma faixa de areia adjacente ao mar que entra pelo janelão com mais de 5 metros. Estamos junto aos barcos de pescadores, se esticarmos a mão tocamos no Bugio e o cabo Espichel  quase nos entra pela janela. Não admira que esta paisagem influencie a predominância do mar na ementa do Intemporal. 

 

Ver curta entrevista com Miguel Laffan no meu canal de You Tube

https://youtu.be/qcLM4NUAGE0?si=mXm3s7lClvvMHiaq

 

 

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https://youtu.be/qcLM4NUAGE0 - ver videocom entrevista no meu canal de You Tube

São apenas 14 a 16 pessoas que podem almoçar ou jantar neste espaço e usufruir do menu de degustação de doze momentos, todos denominados com terminologia ligada ao tempo. 

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A abrir, as clássicas amêndoas do L'And

 

PRELÚDIO  

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Ovos Rotos,  Barriga de Atum, Batata Crocante e Gema 

Laffan começa a refeição com uma nota tranquilizadora: a familiar batata com o sabor e a cremosidade vindas da barriga de atum, num terra e mar em que a batata nos conforta com os seus tons de terra e o atum nos desafia e nos remete para o mar. Vai ser assim na maioria dos pratos: o que nos é familiar e o que nos desafia lado a lado. 

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A Sopa da Praia Velha (a  praia de Paço de Arcos, onde se concentravam os pescadores), é uma janela que deixa entrar o mar de jorro com peixe, marisco e alga kombu, coroada pela espuma marinha. 

 

 

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O terceiro prelúdio traz-nos a influência do Extremo Oriente que caracteriza a cozinha de Laffan. É a Gyoza de Lagostim, Caril Tailandês e Torresmo de Galinha, sempre na dualidade de que falamos acima, terra e mar.  

VINHO Branco reserva de 2021 - LV LOBO DE VASCONCELOS (uvas do Alentejo, da Perescuma e de Zambujal do Conde) 

 

A PASSAGEM

Dois momentos, o Bolinho a Vapor com o sabor familiar do bacalhau que é mais terra que mar, o Aioli de pimento  de la Vera e a enguia fumada. 

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É um dos meus favoritos, o Malandrinho, com arroz de Alcácer do Sal, Carabineiro e Alga Codium. Um sabor de intensidade memorável no formato de uma panqueca, tendo o arroz uma cremosidade extraordinária. Era com esta textura que eu queria todos os meus malandrinhos…É preciso ter muita mão e muita técnica para conseguir um prato destes. 

 

E depois vem o momento da PERMANÊNCIA

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E o que permanece mais no nosso coração do que este pão de massa mãe fumado em alecrim? Com uma manteiga de butarga feita com ovas de tainha salgadas e secas e com azeite de Trás-os-Montes. O pão é intenso mas leve, cheio de sabor, a casar na perfeição com a manteiga cheia de umami. 

 

E chega a altura de nós demorarmos mais nos quatro pratos seguintes, A DEMORA. Não sei como o Miguel consegue fazer isto, mas a lula, o goraz e o cordeiro sabem a si próprios mesmo quando rodeados de sabores que os complementam, como as especiarias indianas ou mediterrâneas. É isto que torna a sua cozinha intemporal e única.  

 

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A Lula com sabores do tandoori no molho, mas a manter a sua integridade cefalopódica e um travo a hortelã. 

 

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Segue-se o Goraz, peixe extraordinaire, caldeirada, gamba da costa e berbigão. Cada vez gosto mais de berbigão, e este era de grande tamanho. 

Lula e Goraz - Vinho branco Alto do JOA, vinhas velhas de Trás-os-Montes. 

https://casadojoa.com/vinhos/alto-do-joa/

 

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Em seguida vem o prato exemplo do que eu sempre apreciei na cozinha de Laffan (ainda me lembro do encanto que tive com a primeira refeição que fiz no L’And), a saber a forma extraordinária com que o chef trata o reino vegetal: Espargos, de seu nome, incluir os ditos verdes vindos do norte, presunto, cogumelos mobiles e béarnaise de estragão. Os legumes estão em quase todos os pratos do intemporal, sobretudo nesta ementa de Primavera, com sabores e texturas extraodinários. 

 

Vinho  SEM VERGONHA Susana Esteban 2021 Alentejo, 100% Castelão estagiado em inox. O meu favorito da refeição. Um tinto diferente e muito versátil. 

 

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Para rematar, um prato de carne, o Cordeiro de Leite com Legumes Primavera, Ervilhas-lágrima e Especiarias. Textura magnifica, de cortar à colher, sabor perfeito.

 

Vinho Quinta do Vallado Touriga Nacional 2021

https://www.quintadovallado.com/pt/vinhos/vinhos/Touriga-Nacional/71/

 

 

A fechar, a ETERNIDADE, os sabores que levamos para casa: as duas sobremesas: MORANGOS (gengibre fermentado, limão e rosas - que não sabem á gaveta da minha avó) e ANANÁS DOS AÇORES, Lima e Vinho de Carcavelos, e as MIGNARDISES.

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Vinho Villa Oeiras Carcavelos

https://www.villaoeiras.com/PT/vinho-generoso-de-carcavelos-branco

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Uma experiência deliciosa a valer bem mais do que o preço do menu, 120 euros. A 21 de junho começará o menu de Verão, na sua alternância com as estações do ano.  Estou curiosa por seguir a trajetória do Intemporal nas mãos do Miguel Laffan.  

 

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Com o sommelier, Luís Feiteirinha, responsável por uma bela harmonização de vinhos e refeição.

 

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INTEMPORAL de MIGUEL LAFFAN

Telefone: 968 432 288

Fecha aos domingos e segundas-feiras