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Conversas à Mesa

A IDENTIDADE PELA BOCA

Há uma nova geração de jovens Tugas a trabalhar pelo mundo inteiro. Ele há-os sobretudo na Europa e nos nossos antigos territórios, os PALOPS, mas também não lhes escapa a Ásia, a Austrália ou as Américas. É diferente da vaga dos anos 50 e 60 a nível de formação escolar, mas igualita no que diz respeito à Tugalidade.

Tenho a minha filha emigrada na Holanda e conheço uma série de amigos dela que também andam por aí espalhados a trabalhar. Todos eles partilham as mesmas ânsias das várias gerações migrantes anteriores: a saudade da mãe pátria, que continuam a abandonar a muito custo. E sublimam essa saudade do mesmo modo de sempre, pela boca.

O comportamento do português turista é de alheamento da mãe pátria. Quando encontra outro português tenta ignorá-lo completamente, cala-se para que o outro não o identifique, esforço completamente vão, já que nos tiramos sempre uns aos outros pela pinta. Agora quando se emigra, tudo muda de figura.

Jovens que cá frequentavam sushimen e pizzarias, ainda nem uma semana passaram fora do país, já andam pelas mercearias e pelos restaurantes portugueses a comer bacalhau e a beber Sagres e já imploraram à família o envio urgentíssimo de chouriças e alheiras.



Bacalhau e Sagres na Holanda





Não é por acaso que Eça de Queiroz refere sempre a comida quando se fala da pátria ou que Fialho de Almeida não duvida de que a nossa comida “quando se deixa a pátria lá longe, antes de pai e mãe, é a primeira coisa que lembra”. Não são as artes, a língua e nem sequer o futebol que sustentam na estranja a nossa identidade nacional de portugueses, mas sim a comidinha. Falo da comida tradicional, que infelizmente corre o risco de se perder aniquilada pelas refeições e produtos processados que a indústria coloca à nossa disposição por preços baratos e ingredientes muitas vezes duvidosos. Falo de comida geralmente simples, frequentemente com produtos considerados inferiores, mas cuja riqueza reside precisamente nessa simplicidade, seja ela urbana ou rural. Aos nossos emigrantes, é dessa que bate a saudade, talvez porque a distância os faz perceber onde reside o verdadeiro valor. Que, pelo menos, nunca lhes falte esse consolo.

 

PS: Aninhas, as alheiras de Mirandela já seguiram por correio azul.

 

 

 

 

 

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