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Conversas à Mesa

Pitões de Júnias

Os avassaladores afloramentos graníticos do Peneda-Gerês.

 

O topónimo Pitões das Júnias sempre me atraiu, mas foi só nesta viagem que tive a felicidade de visitar a isoladíssima aldeia granítica alcandorada a 1100 m de alitude e com pouco mais de 100 habitantes, que se dedicam ao pastoreio do gado bovino, caprino e ovino. Valeu a pena a viagem de Montalegre, no Barroso, até lá. 

 

Uma manada de vacas com pastor e cães em PItões das Júnias.

 

Originalmente um eremitério, o mosteiro de Santa Maria das Júnias, datado de 1147, ficou na mão dos monges de Cister a partir do século XIII, acabando por dar origem à aldeia. Actualmente é monumento nacional, mas está em ruínas, podendo ser alcançado após uma caminhada de cerca de 2 km. Da aldeia avistam-se os afloramentos graníticos do parque natural Peneda-Gerês, que impõe a sua avassaladora força telúrica a quem os mira do lado da aldeia.

 

Casas graníticas em Pitões das Júnias.

 

Muito mais se podia dizer acerca de Pitões, do modo como os aldeãos se organizaram comunitariamente ou como fizeram frente várias vezes aos espanhóis, mas vamos mas é ao que interessa. Há dois restaurantes em Pitões, mas nós escolhemos o Dom Pedro Pitões, que vai buscar o nome a um conterrâneo que foi bispo do Porto e ajudou D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos Mouros. Aqui comemos um magnífico cozido barrosão que tem a peculiariedade de apresentar algumas carnes de porco fumadas. Como legumes, as maravilhosas batatas da região e couves. Convém telefonar a encomendar. Para começar, ele foi o chouriço e o presunto do fumeiro próprio, ele foi o pão de centeio, ele foi os pastelinhos de bacalhau.

 

O cozido barrosão: carne de porco e de vaca, presunto e enchidos.

 

Claro que com estas condições de altitude e frio, teria de haver fumeiro em Pitões das Júnias. E, claro, onde há fumeiro lá estamos sempre os dois, eu e o Mário. ao fim de alguns dias, confesso-vos que já não aguento o cheiro do fumo e já me custa muito provar os enchidos. Como podem ver na foto que se segue, havia demasiado fumo lá dentro e quase não se conseguiu fotografar. 

Em algumas regiões abusa-se do fumo nos enchidos, que ganham um sabor desagradável. Noutras, o problema reside no tipo de madeira usada: em vez do castanho, usa-se até madeira verde de pinheiro, altamente tóxica. Qurr queiramos quer não, os enchidos espanhóis e alentejanos, curados ao ar sem fumo, educaram o nosso gosto. actualmente, a maioria dos consumidores prefere enchidos pouco fumados. Assisti no Minho e mesmo em Trás-os-Montes a um esforço nesse sentido. 

 

 

o Mário no fumeiro.

 

Nos últimos meses de vida, o porco é cevado, isto é, a sua alimentação destina-se à engorda. A comida cozinhada acelera este processo, pelo que, nesta fase, é hábito cozinhar os legumes, as batatas e as castanhas no chamado lato. Aqui vai uma foto do lato cheio de comida a cozinhar no fumeiro. ATT: nós somos parecidos com o porco, portanto, quem queira emagrecer, nada de comida cozinhada, só RAW.

 

O lato onde cozinha a ceva do porco.