...
O velhinho Costa do Sol teve, em tempos, um luxuoso salão de baile.
O Manjar dos Deuses, muito bem composto de decoração.
Moçambique sempre foi a minha segunda África, uma vez que, desde muito pequena, passava no hotel Polana muitas das minhas férias escolares. É justamente pelo Polana que vou começar, para arrumar já este assunto que me é um pouco penoso. A remodelação feita o ano passado lembrou-me, para pior porque mais abundante, a que teve lugar no Fortaleza do Guincho. Em ambos os casos, a decoração substituída era estilo inglês. No Fortaleza, o resultado final é chinesices, com uma carpete gigante de passarões roxos na casa de jantar e indescritíveis mobílias brilhantemente envernizadas. No Polana, a palavra de ordem é malaio-paquistanês com detalhes Almirante Reis, a saber os lustres em forma de ananás que alternam com os tipo mesa de bilhar e descem do tecto em número avassalador. A emblemática casa de chá desapareceu, assim como a preciosa vista da varanda para os jardins e piscina, obnubilada por fontes continuamente jorrantes. O icónico elevador foi encaixotado numa gaiola malaia, um verdadeiro crime de lesa-majestade. Nem mostro fotografias.
Manjar dos Deuses: que pena a apresentação do risotto, que estava óptimo de sabor e ponto.
Manjar dos Deuses: o tornedó, de boa carnadura, foi cortado ao meio e fez dois...bifes. Bela batata.
Depois da independência, fui sempre voltando e seguindo de perto a transformação que o Maputo sofreu ao longo dos anos. Hoje é uma agradável cidade cheia de movimento, comércio e restaurantes. Porém, foi só a partir de 2007 ou 2008 que se alargou o leque de restaurantes. Para trás ficaram os anos 80, em que se levavam de casa os talheres para o restaurante do Polana, que esteve sempre aberto, e o pequeno-almoço do hotel Turismo consistia em ovos cozidos com Fanta.
Alguns dos clássicos desses tempos ainda sobrevivem, a saber:
O Piripiri, a velhinha churrasqueira, que ainda existe e serve só mesmo para matar saudade do frango de churrasco.
O Escorpião, na antiga Feira Popular: a última vez que lá fui num grupo de 12 amigos, 10 ficaram com toxi-infecção grave com caranguejo. Os outros dois não tinham comido. A evitar, não por isso, porque acontece em muito lado, mas porque está decadente.
Sagres - muito escuro e feio, comida portuguesa disfarçada de sul-africana
O Costa do Sol - aqui o camarão grelhado sabe sempre bem. Prefira o camarão médio. Há um prato de lulas e chocos à grega que aconselho vivamente para dividir como entrada. Peça as batatas fritas bem fritas à parte, para não se contaminarem no molho de manteiga do camarão, ou opte por arroz branco, uma escolha ainda melhor.
Manjar dos Deuses: fondant de abóbora, infelizmente servido sobre gelado derretido.
A sala de gosto retro do Costa do Sol. Bom karma.
Alguns dos novos e menos novos
Já é impossível enumerá-los, de tantos que são. Cito alguns que conheço, começando pelos mais antigos.
Jardim dos Mariscos no Jardim dos Namorados: um complexo de restauração que inclui gelataria, pizaria e cervejaria. Muito agradável para jantar ao ar livre.
Girassol e Forno do Indy - pertencem ao grupo VisaBeira, e servem boa comida portuguesa.
O Cristal - já lá comi bom caranguejo e péssimo caranguejo. A simpatia do casal de proprietários portugueses vai superando as eventuais falhas. Tem muitos pratos portugueses, bifes, bacalhaus, um bom arroz de camarão com garoupa.
O BelPiatto, um italiano numa esquina da avenida do Polana, a Julius Nyerere.
Boa Maré - óptima relação qualidade-preço em menus de almoço (em redor dos 500 meticais). Pequeno e sempre cheio. Na 24 de Julho.
Interthai - muito frequentado por gente nova. Na R. da Argélia.
O Manjar dos Deuses
A Bé, de origem mocambicana, era proprietária do restaurante IMortal no Murtal, perto de São João do Estoril, onde muitos africanos como eu iam matar a saudade dos pratos da terra, como por exemplo, o caril. O ambiente foi sempre refinado, mesmo na época em que, nesta zona, a decoração dos restaurantes ainda consistia em duas lâmpadas de néon e três cachos de alho. Pois a Bé regressou ao Maputo e abriu um restaurante, o Manjar dos Deuses. Como costuma estar sempre cheio, é melhor reservar, sobretudo ao fim-de-semana. Depois dos dias de peixe na praia, apetecia-me carne. Escolhemos tornedós com três tipos de molho (mostarda, caju e queijo da serra), de boa carne, mas estupidamente cortados em dois bifes da grossura de um dedo, acompanhados com legumes grelhados e uma batata frita chips toda rendada. Comeu-se também um óptimo risoto, que recomendo, embora a apresentação seja pouco convidativa, e o estafado peito de pato com frutos vermelhos. Aqui o caril é sempre boa opção. Não deixe de experimentar o peixe papagaio, sempre que o houver. Passámos as entradas, poucas e não muito sedutoras. Sobremesa, dois fondants com a originalidade de um deles ser de abóbora, e uns bons crepes Suzette, feitos na cozinha. Há ainda uma série de pratos grelhados na mesa, que a ementa tem o bom senso de especificar que só são servidos na varanda. Um bom conselho para os nossos restaurantes que servem fondues e bifes na pedra no interior, uma prática deplorável que me leva a nunca lá regressar.
Os pratos têm bons produtos e bom sabor, a merecerem mais cuidado na apresentação. Preço por pessoa sem vinho e sem entradas em redor de 1000 meticais.