A versatilidade da alheira em Mirandela
Os animadores da festa. À direita o bombo, ao meio a caixa e depois a gaita de foles.
O capítulo de Inverno da Confraria dos Enólogos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro foi uma homenagem à alheira, neste momento de longe o nosso enchido mais popular.
O rio Tua visto do Flor de Sal.
O local não poderia ser outro senão Mirandela, que o grão-mestre da CEGTAD reclama como a pátria da alheira, já que, segundo António Monteiro, no resto da região apenas exisitiram enchidos similares, como as tabafeias, os azedos, os vilões, as larotas ou as laronas.
A admissão de um novo confrade durante o almoço.
Porém, se nas grandes cidades retivemos no ouvido o nome de Mirandela para as alheiras, ou o de Chaves, para os presuntos, talvez fosse por estes serem os entrepostos ferroviários onde se concentravam os produtos das regiões circundantes para serem enviadas para os outros pontos do país, devidamente etiquetados com estes topónimos.
O Flor de Sal tem uma localização privilegiada e bons produtos. Volto a falar nele a propósito dos cuscos.
O almoço teve lugar no lindíssimo Flor de Sal, agarrado à margem do Tua. O menu começou com 3 entradinhas: rebuçado de alheira, massa tenra, recheio de alheira (a massa deveria ser mais fina para se notar mais a alheira e a maçã), pudim de alheira e salsa, agradável, sem grande história, e uma deliciosa sandinha com recheio de azedo.
As entradas, a sandinha em primeiro plano. Gostei do nome.
As sopas de alheiras estavam irresistíveis. Prato típico da matança, consistem nos ingredientes das alheiras, antes de serem amassados, e devidamente regados com o caldo da cozedura das carnes. Alho e colorau inteligentemente à parte, uma verdadeira delícia que teve ainda o mimo de ser servida em terrina. No intervalo, como limpa-palatos, uma xurunfada de laranja, cujo nome é suficientemente elucidativo para carecer de explicação.
As sopas em terrina, como sabem bem.
As sopas polvilhadas com o colorau doce.
E o caldinho.
A seguir, como prato principal, a própria em todo o seu esplendor: grelos e batatas cozidas. Ai os grelos transmontanos, cozidos a preceito e de verde correctíssimo, ai as batatas transmontanas, regadas com azeite, sempre com muito azeite, tanto quanto dê para sugar com pão até à última gota e ainda dar mais uma voltinha no prato quando só já quase sobra um brilho.
Não podendo ser assada nas brasas, a alheira pode ser grelhada numa frigideira sem gordura em lume brando.
A sobremesa, muito bem concebida: chouriça de sarrabulho doce com mel e com chocolate e morango e torrão de amêndoa. O morango desagonia, o torrão fala com a amêndoa que está sempre presente nesta chouriça de sangue. O bombom de sarrabulho com cobertura de chocolate e recheio de morango estava genial.
Parabéns ao João Paulo, à Sónia Carvalho, que também forneceu as alheiras (Angelina) e ao António Monteiro.
A sobremesa estava primorosa e muito bem concebida.
Estas são as chouriças de sarrabulho doces.