A COMIDA NA ARTE
A arte está muito virada para a visão. Mas se tivermos em conta que a cozinha provoca emoções e gera ideias e que pretende comunicá-las acima de tudo, pode a cozinha ser arte? A cozinha comunica não só através dos olhos, a apresentação dos pratos, mas também nos toca através dos outros quatro sentidos, sobretudo do olfacto e do palato.
Esta questão de a cozinha ser uma forma de arte, deixemo-la para outra ocasião. Hoje queria falar-vos do uso que a arte faz de alimentos e da cozinha. Em esculturas, em pinturas, em instalações, em filmes ou peças de teatro. Produtos alimentares frescos ou já processados têm sempre grande impacto sobre nós, primeiro pela sua relação com a fome e a sobrevivência, depois pelo seu significado simbólico, finalmente pela beleza das formas e das cores.
Arcimboldo, da série Elementos, TERRA
Notável, é a semelhança com os persnagens representados.
A imagem de cima (taça com legumes) é a invertida da de baixo.
Desde sempre, a comida representada na pintura e na escultura. Dos mais conhecidos, destaco os homens feitos de fruta e legumes de Arcimboldo. Dos nossos, lembro os magníficos quadros/naturezas mortas de Josefa de Óbidos, fontes documentais preciosas para o estudo da história da alimentação. Estão espalhados pelo país, alguns encontram-se na Biblioteca Municipal Braamcamp Freire, Santarém, outros no Museu de Évora, por exemplo.
Josefa de Óbidos
Depois há os modernos, que causam perplexidade em vez de salivação, como o prato de Mexilhões de Marcel Broodthaers ou o hamburguer gigante de Claes Oldenburg.
No caso dos mexilhões, num piscar de olho à sua nacionalidade belga, o artista quis mostrar que no seu quadro a abertura dos bivalves não corresponde às leis da cozinha, mas às da arte. Os mexilhões fechados deixam de ser comida e passam a ser um artifício estético. Que melhor parábola poderia haver para a cozinha contemporânea, que melhor conselho, do que este: quando a cozinha passa a ser apenas arte ou artifício acaba por perder toda a sua capacidade de nos nutrir e de nos fazer salivar.
Num outro registo, o sueco Claes Oldenburg constrói fast food em tamanhos avassaladores que nos fazem perceber melhor a sua nulidade em termos de valor, em termos de qualidade, ficando apenas aquele peso absurdo da quantidade. Oldenburg chama a nossa atenção para a importância da imagem publicitária, para o visual da comida. Um tique hoje tão vulgar nos nossos instagram, nas nossas redes sociais.
Claes Oldenburg e fast food
No próximo post, deixarei outras pistas para percebermos esta relação entre comida e arte, mais food for thought.