AS MEMÓRIAS DE ADRIÀ
Ferran Adrià veio a Lisboa para o Estrella Damm Gastronomy Congress. Foi one man show apesar da participação final de 3 bullinianos: José Avillez (estagiário no El Bulli e considerado no site da El Bulli Foundation como um dos bullinianos reconhecidos no mundo e muito acarinhado por Adrià), Vasco Coelho Santos, que esteve no fecho do El Bulli, e MIguel Rocha Vieira, que trabalhou na Hacienda Benazusa, o hotel de Adriá onde se reproduziam os pratos do El Bulli de épocas anteriores, a que se juntou Henrique Sá Pessoa devido à sua ligação com a cerveja patrocinadora.
Adrià parece mais velho do que é; o modo como fala impõe respeito e, apesar de amistoso, mantém algum distância. A anunciada mesa redonda com estes bulinianos foi uma conversa de pé, porque Adrià não quis as cadeiras, convidam a falar demais e a perder o fio à meada. O homem que esteve à frente do restaurante mais famoso e premiado do mundo, o El Bulli, falou sobre o passado, contou histórias do restaurante fechado em 2011 e um pouco sobre a fundação el Bulli por ele criada. Segundo deu a entender, a Estrella Damm é das poucas (a única?) empresa com que trabalha actualmente. Começou honrando a sua obrigação para com o patrocinador, falando das cervejas e dos anúncios que faz para esta cervejeira.
Em seguida, procurou transmitir o seu trajecto, do restaurante à Fundação, sempre em torno da memória, da inovação e da criatividade. A sua história é a de um homem que teve um restaurante, onde podeexercera sua assombrosa paixão por inovar, por fazer aquilo que nunca foi feito, criar e não recriar, fechou esse restaurante e essa fase da sua vida, e criou uma fundação para que todas essas memórias nunca se percam e para ajudar outros (sobretudo PME) a criar inovação através da sua experiência.
Tão importante são para Adrià os registos que chegou a afirmar que, devido à Fundação, será ele a ficar na história e não Paul Bocuse, cujo magnífico trabalho nunca foi registado ao nível do que está a ser feito na Fundação, através da elBulligrafia («Um arquivo-museu a partir da auditoria criativa de elBullirestaurante»). «Se não estiver catalogado, nada passa de blablabla». O chef mais famoso do mundo chamou ainda a atenção para a importância de os cozinheiros conhecerem a fundo a história da alimentação, «para não serem manipulados». «Muitos cozinheiros sabem a composição da equipa do Barça, mas não conseguem nomear os doze cozinheiros mais famosos do mundo». É com estas memórias que podem fazer aquilo que foi conseguido no elBulli «fazer pensar».
Falando de Portugal, considerou «incrível» a cozinha portuguesa e deu alguns conselhos, afirmando que nela «têm que dialogar a tradição e o criativo, e a qualidade tem de primar». Se seguirmos neste bom caminho «daqui a 5 anos vão chegar a um nível muito alto». Há que fazer um estudo de marketing sério, para sabermos o que queremos vender, porque o mundo não é muito grande e há muitos países a querem vender gastronomia.
Aconselhou ainda a que se seja sincero quando nos vendemos: «Não pode haver produtos do mar maravilhosos para todos os restaurantes portugueses, não existem, não é possível.» não podemos oferecer apenas turismo de qualidade, há que haver oferta para todos. Portugal tem produtos extraordinários a nível mundial, ao nível de Espanha, e muito parecidos com os espanhóis. Há que vender a história de Portugal em Portugal, mas de forma organizada. «Façam um museu da gastronomia em Lisboa», há muito para fazer neste campo e não se desculpem com a falta de dinheiro.
Na sessão de perguntas que rematou o congresso, não surgiram nenhumas.
No fim, Adrià esteve disponível para fotografias, ou melhor dizendo, para memórias.