Bem Comer & Curiosidades, de José Quitério
Hoje, dia de Camões e dia de Portugal, não podia ter escolhido melhor assunto para vos falar: o novo livro de José Quitério. Bem Comer & Curiosidades, que começa justamente com uma citação do maior poeta:
«Pois sabei que a Poesia
vos dá aqui tinta por vinho
e papéis por iguaria.»
Nos seus livros, todos eles, Quitério conseguiu superiormente transformar a escrita gastronómica em poesia, a tinta em vinho e os papéis em iguaria. António Mega Ferreira chamou-lhe «gastrónomo doublé de escritor». Pegando nestas palavras eu diria que Quitério é um escritor doublé de gastrónomo, tal é o prazer que nos proporciona a sua leitura. A sua escrita transforma as iguarias e o vinho numa prosa aditiva e de estilo imediatamente reconhecível, que temos dificuldade em abandonar.
Porém, para mim, essa não é a razão que me leva quase diariamente a consultar os seus livros. O verdadeiro motivo prende-se com a seriedade e a quantidade de informação que Quitério fornece. A mais nenhuns (tirando o caso, em geral noutra vertente, de Maria de Lourdes Modesto), a mais nenhum me entrego com a confiança total, cegamente, com a certeza de que tudo quanto sai da sua pena é de palavra de honra. Só ali aparece o que foi exaustivamente investigado, cuidadosamente peneirado. As suas fontes são sempre fiáveis e correctamente citadas. Éa erudição prazenteira, coisa tão difícil de achar.
O Bem Comer & Curiosidades é o híbrido de dois livros já publicados pelo autor há uns bons anitos, mas que se mantêm completamente actuais, porém esgotados. Foram-lhe enxertadas novas informações em certos capítulos, como no caso do Bacalhau à Gomes de Sá, e até novos capítulo, vide o da galinhola. É um magnífico pretexto para voltar a ler tudo. Tem um bom tamanho e é maneável. Deveria ser manual das escolas hoteleiras e de cozinha, sendo livro obrigatório para todos os que não costumam «obtemperar com os paladares depravados pelas iguarias à francesa.» (citação de Camilo Castelo Branco que também abre este livro) e também para os que costumam obtemperar.
Viva o 10 de Junho, viva Camões, viva Portugal e viva o José Quitério