CARTA À NOÉLIA
Querida Noélia
Ir ao Algarve sem ir ao seu restaurante, não tem graça nenhuma. É pior do que não ir à praia. Nos quatro jantares que fiz em Junho no Algarve, um tinha forçosamente de ser na sua casa. Se só pudesse jantar uma vez, também seria lá.
É aquela esplanada com a brisa da ria Formosa. É a sua beleza calma ao fogão e a da sua filha Beatriz na caixa. Mas é sobretudo o prazer de boca que se antecipa.
Já aqui escrevi sobre este restaurante, mas volto hoje a ele para falar das novidades deste ano.
A Noélia sempre foi criativa em relação às tradições, introduzindo fruta e produtos orientais em pratos regionais ou à base dos melhores produtos da ria Formosa e do Algarve. Hoje está mais segura e aventura-se em criações mais ousadas e mais afastadas do tradicional. Os sabores espevitam-se com o fresco picante do gengibre ou do wasabi.
Os tradicionais arrozes ganham novas dimensões como por exemplo o verdíssimo de ostra com a adição de plâncton, de aromas supermarinhos. Os ceviches enchem-se da frescura da fruta. Gostei especialmente da introdução da acidez das framboesas.
Tomate e muxama casam a doçura dos figos maduros, que surgem também em sobremesas de conúbio com a lima.
Todos os seus pratos têm este constante diálogo entre doçura e acidez, tornando-se ideais para os calores da estiagem. É esta combinação que hoje caracteriza a paleta de sabores da nova carta do seu restaurante.
Para nossa felicidade, não tirou da carta os grandes clássicos, como um favorito meu (e de muitos), o arroz de limão e de garoupa.
Muitas coisas esperamos de si, Noélia. Mas sobretudo uma cozinha do Sul e do mar não traidora, cheia de bons produtos locais e de sabor, que nos satisfaz e enche de prazer porque corresponde plenamente àquilo que ansiosamente aguardamos ainda estamos na A2.
Obrigada Noélia, fique bem, tão bem como nos deixa a sua comida.
Até já
Fátima
Salmorejo com muxama e figos
Ostra com gengibre e salicórnia
Ceviche com mangas e framboesa
Tarte de lima e figo