CAVACAS DAS CALDAS: TOMA LÁ PARA O LIMÃO
É muita antiga a tradição da manufactura de loiça nas Caldas da Rainha. Em meados do século XIX, vários artesãos, entre eles a célebre Maria dos Cacos, tornaram a louça das Caldas conhecida em todo o país, sobretudo graças a uma particular técnica de vidrado que ainda hoje a caracteriza. Nos finais do mesmo século, ali abriu uma das primeiras escolas industriais do país dedicada ao ensino da cerâmica. Teve professores célebres, entre eles Rafael Bordalo Pinheiro, que genialmente revolucionou a imagética da loiça.
Esta semana fui até à fábrica Bordalo Pinheiro que chegou a estar à beira da falência, mas foi felizmente comprada. Todo o edifício, onde também funcionava a fábrica, está em mau estado, mas ainda recuperável. O salão de exposição está muito pobre, quer em termos de exposição como de peças, mas há sempre coisas bonitas e baratas, sobretudo no outlet.
A zona da feira da fruta está em obras, o mercado está localizado mais acima. Tudo está em obras, mas há edifícios lindíssimos muito mal tratados. Lá fui eu na senda da doçaria, à procura das célebres cavacas, os beijinhos e as trouxas de ovos, indispensáveis às gentes aqui do oeste que se deslocavam para as termas, em geral finda a apanha da pêra rocha.
A pastelaria Machado tem mais de um século de existência e uma lindíssima frontaria em azulejos vidrados à maneira das Caldas, abastardada pela estrutura que penduraram sobre ela. O interior precisava de algum brilho do vidrado da loiça, tudo parece muito baço, não se valoriza o que é antigo. As montras, bonitas, estavam desleixadas.
Provei o que havia. As trouxas eram frescas e boas, com as placas de ovo bastante inteiras, como compete, e uma boa calda. Os beijinhos, feitos em massa de choux, também muito frescos e bons. As cavacas, essas, é que não gostei. Estavam secas e muito perfumadas com limão, que não faz parte da receita original. Não sei por que razão gostam de introduzir ingredientes vindos do nada e que só descaracterizam as receitas tradicionais, sem nada lhes acrescentar de bom. Não sou contra a mudança, pelo contrário, mas para pior não.
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Numa outra pastelaria vi esta versão foleira, sem qualquer mais-valia de sabor, do símbolo caldense. nada comparável ao que fazem em Amarante com os São Gonçalos.