COISAS DO MICHELIN
Não conheço nenhum português que use o Guia Michelin para se orientar na escolha de um restaurante no nosso país, embora muitos sejam os que andam com o Boa Cama Boa Mesa na bolsa do assento do carro. Contudo, atribuímos uma importância nacionalista ao número de estrelas que nos atribuem cada ano, ressentimo-nos de partilhar o livrinho vermelho numa subalternidade aos espanhóis e José Quitério, em tempos em que éramos menos bafejados pelas estrelinhas, desprezou-o e apelidou-o de Miquelino. Hoje, depois de termos ganho o festival da Eurovisão no ano passado, podemos concentrar-nos nesta nova missão nacionalista, a das estrelas para Portugal.
Em 2018, entre os 23 restaurates premiados com 28 estrelas, o Michelin não atribui qualquer uma a um restaurante de cozinha regional portuguesa. Estes só figuram no BIB gourmand, cujo critério é a relação preço/qualidade, e a selecção prima pela ausência de inúmeros bons restaurantes e pela presença de outros que, no meu entender, não deviam lá estar e que, na sua maioria, são desconhecidos do grande público, sendo o seu numero muito reduzido.
Não vislumbrava qualquer critério na escolha até que deparei com estas duas placas em plena rua do Alvito, frente ao restaurante A Varanda que é o seu autor. Infelizmente, não tive tempo de entrar e almoçar, mas confesso que fiquei cheia de curiosidade. Quem sabe algum de vós leitores conhece A Varanda…Esta casa terá constado do Bib em determinado ano que desconhecemos, e os seus proprietários sentem-se injustiçados por nunca nenhum jornalista ter reparado neles. É todo um enredo naqueles cartazes, com recados para a comunicação social. E sobretudo, com uma pérola: «O guia O Michelin» afinal «é na hotelaria o equivalente ao Guinness Book». Agora sim podemos imaginar que recordes terão batido A Varanda e os outros restaurantes que os inspectors do Michelin acharam dignos de constar do Bib Gourmand. Não admira que nenhum português ligue peva a este guia. Esperemos que os estrangeiros também não.