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Conversas à Mesa

COMER BEM E BARATO NO BAIXO ALENTEJO

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O Baixo Alentejo está vestido de primavera. Os campos estão cobertos de giestas e de flores silvestres amarelas, brancas, lilases e cor de rosa. Este fim-de-semana tive o prazer de percorrer para cá e para lá o «triângulo» Cuba – Alvito – Vidigueira, e fiquei apaixonada pela paisagem, pelas aldeias e vilas, pelo ar que se respira e pelas pessoas.

Usei como base a Pousada de Alvito (grupo Pestana), situada no castelo. Está um pouco envelhecida, mas a cama era super-confortável com a raridade de boas almofadas. As abóbadas de tijolo burro da pousada são lindíssimas, sobretudo as da casa de jantar, onde tomei o café da manhã.

De manhã, saí a pé para conhecer a aldeia e a lindíssima igreja matriz que mistura a azulejaria com a talha. Resolvi experimentar dois restaurantes de comida local, e procurei os que me pareceram mais genuínos, de entre os que ainda não conhecia. Tinha uma missão difícil, já que estava sozinha e teria que pedir, no mínimo, dois pratos

 

O PAÍS DAS UVAS 

 

 

IMG_7906.jpgAs gigantescas talhas.

 

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Mesa de linda madeira, cadeira de pintura alentejana: simplicidade e calor.

 

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Feijão branco com cardos, comida de muita riqueza.

 

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Carne de alguidar, tenra e bem temperada.

 

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Torta de laranja e a melhor sopa dourada que já comi.

 

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A conversa com a proprietária/cozinheira mais uma vez me confirmou que o tempo é um importante ingrediente no prazer da mesa alentejana.

 

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O Sr. António Honrado recebe os clientes com muita simpatia. 

 

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Uma das talhas que está enterrada na recém-descoberta adega.No Alentejo, o uso das talhas de barro foi herança dos romanos.

 

 

O primeiro situa-se a poucos quilómetros do Alvito, em Vila de Frades, chama-se País das Uvas. Retira o seu nome de uma das obras de Fialho de Almeida, que ali nasceu também em Maio, mas de 1857. O que, de imediato, nos chama a atenção, são as enormes talhas de barro, usadas para o vinho da talha, muito popular na zona da Vidigueira.

Não foi fácil escolher, mas acabei por me decidir por uma sopa/prato de feijão branco com cardos e uma carne de alguidar. Do primeiro, diz-se na região que fazia parte da comida da fome. Não tem proteína, apenas uma planta silvestre com espinhos que dificilmente imaginamos que possa ser tão saborosa. Dela utilizam-se os talos, que são ripados e cortados em pedacinhos. A carne de alguidar é a que servirá para fazer os enchidos, aqui desviada para a frigideira e a resultar nuns macios e sazonadíssimos cubos de carne de porco, onde ressalta a massa de pimentão. Acompanhavam-na umas batatas fritas meias moles, que acabaram por se revelar ideais para empurrar molho adentro (as fotos são todas de meias doses, que a ementa as tem). Sobremesas foram duas: uma celestial Sopa Dourada e uma torta de laranja feita a preceito. Ainda houve tempo para que uma boa conversa com a simpática proprietária/cozinheira e para o marido, o Sr. António Honrado, me mostrar a adega que acabou de comprar para dedicar ao vinho da talha. Fiquei de boca aberta ao ver os arcos perfeitos em tijolo burro com mais de 7 metros de altura, o poço com mais de 10 m de profundidade e ainda com água onde se refrescavam os garrafões e diversas talhas de vinho enterradas no solo. Todas estas maravilhas estavam tapadas com cimento, ignorando-se ainda de que época datam, talvez dos romanos, que por aqui andaram ( as célebres ruínas de Cucufate são ali mesmo ao lado, aproveite para as visitar). O preço com dois pratos principais (meias doses, mais que suficientes), sobremesa, um copo de vinho da talha e café rondou os vinte euros, mas dava para duas pessoas.

 

 

 

 

 

A TABERNA DO ARRUFA

 

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A taberna por fora.

 

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Decoração vintage. Gostei imenso da renda de papel. 

 

 

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Talhas, balcão e mesas.

 

 

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O terraço ajardinado.

 

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Peixinhos da horta perfeitos. 

 

 

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Picapau 

 

 

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O inesquecível cozido de grão.

 

 

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Sericaia

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 Encharcada

 

 

No dia seguinte, fui até Cuba, conhecer a Taberna do Arrufa. Abriu há poucos anos pela mão de um jovem casal, a quem a mãe dele ajuda na cozinha. Decorada com objectos vintage, ocupa grande espaço que ainda se estende para um enorme terraço meio ajardinado.

Também aqui comi muito bem. O pão, servido em saco de pano, é delicioso. A abrir uns peixinhos da horta muito bem feitos, com o feijão firme a o polme em quantidade suficiente a tapar, mas sem maçarucos. Depois, um reconfortante cozido de grão que me soube pela vida, depois de a que eu acrescentaria mais hortelã. Optei em seguida por um picapau de carne de vaca em tirinhas com picles, muito bem temperado. A regar, um jarrinho de um vinho branco da região da Vidigueira, cheio de frescura. O mais fraco foram as sobremesas, uma encharcada desenxabida e uma sericaia de textura algo enqueijada (via-se que não fora feita a preceito, com as colheradas), mas parece que estão em vias de mudar. O proprietário está na sala e é de uma grande simpatia. O preço é muito semelhante ao anterior.

 

Qualquer destes dois estabelecimentos vale um bom desvio, quer pela comida, quer pelo espaço, quer pela simpatia. E até pelo vinho.

 

 

 

País das Uvas

Rua General Humberto Delgado, 19

Vila De Frades

Tel: 284 441 023

Fecha às quartas

 

 

Taberna da Arrufa

Travessa das Francas, 3 

Cuba

Tel: 967229487
Fecha às quartas