Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Conversas à Mesa

NUMA GARRAFA DE MOUCHÃO

IMG_4511.jpg

 

 

Dentro de uma garrafa da Herdade do Mouchão encontramos mais de 130 anos de história e um vinho que ainda hoje é feito de forma muito semelhante à que era usada nos fins dos século XIX.

A saga da família Reynolds começa no Porto, no início do século XIX, e estende-se ao Alentejo em meados do mesmo século. As vinhas da casta Alicante Bouschet são trazidas de França por dois franceses e plantadas na Herdade do Mouchão, permanecendo até hoje a favorita. Durante anos, o vinho é vendido em grosso, e só em 1949 surgem as primeiras garrafas de Mouchão pela mão de Albert Hugh Reynolds, de alcunha «Bouncer», filho de Thomas, o primeiro da família a estabelecer negócio no Porto.

 

 

 

 

herdade mouchão.jpg

A Herdade do Mouchão no início do século XX (foto do site)

 

IMG_4509.jpg

 

No 25 de Abril de 1974, Bouncer assiste à expropriação da adega, que só volta a recuperar em 1985, completamente abandonada e muito destruída, mas que consegue reconstruir antes de falecer no ano seguinte. Curiosamente, é nesta fase que o vinho do Mouchão chega à capital e aos grandes hotéis, através das relações com as comissões de trabalhadores. Assim se esvaziam completamente as adegas. Até então, o vinho era vendido localmente, em barris (até 100 l) ou em cartolas (até 600 l). Recuperam-se os tonéis e replantam-se as vinhas, nomeadamente a dos Carapetos, junto à adega e actualmente a mais antiga. A herdade volta ao trabalho, sucedendo-se novas gerações de Reynolds.

 

 

IMG_4508.jpg

Um barril do tempo da «Cooprativa»

 

Hoje a adega é dirigida por Iain Reynolds Richardson, com vários diplomas, nomeadamente mestrados em enologia e viticultura. No seu português perfeito transmite o enorme orgulho nos vinhos que produz enquanto mostra os lagares da pisa a pé, onde as uvas são pisadas durante dias a fio com o engaço (a estrutura herbácea e lenhosa que enforma os cachos), os tonéis de madeiras velhas já muito saturadas, as prensas manuais ou o alambique em cobre de 1929 para a produção de aguardente, uma verdadeira obra de arte. A única novidade é o sistema de refrigeração por água, essencial nos dias abrasadores do Verão.

 

IMG_4505.jpg

Iain Reynolds Richardson na adega: Obrigada pela visita.

 

IMG_4510.jpg

Alguns dos lagares da pisa a pé

 

 

 

A adega produz uma gama de vinhos: Dom Rafael, branco e tinto, a entrada de gama, Ponte de Canas, Mouchão e Mouchão Tonel nº3-4, aguardente bagaceira e vinho licoroso e fortificado. O nome Tonel é crismado pelos enormes tonéis de topos em mogno e macacaúba, pouco porosas, e de laterais em carvalho português, em que estagia e que os transformam em vinhos de guarda muito especiais.

Curiosamente, O Mouchão nunca deixou de vender vinho no seu entorno, tendo hoje transformado as bag in box nuns dignos palhinhas de 2 l de capacidade. Com um delicioso vinho corrente abastece a vizinhança.

 

IMG_4539.JPG

IMG_4540.JPG

 

IMG_4506.jpg

IMG_4507.jpg

As prensas antigas são as que continuam em funcionamento.

 

 

IMG_4504.jpg

Do eucaliptal que rodeia a adega chegam os aromas mentolados que se imiscuem nos tonéis pela porosidade do carvalho e trabalham para o sabor final dos vinhos.

 

 

A Herdade tem ainda um rebanho de um milhar de borregos de raça Merino Branco do Alentejo, sendo a carne produzida em regime biológico, mel silvestre, azeite das variedades Galega e Cobrançosa, e cortiça.

O que encontramos em todos estes produtos, assim como no interior de uma garrafa de vinho do Mouchão, é a maior riqueza que podemos ter: o TEMPO a correr da forma mais adequada à excelência de cada um deles.