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Conversas à Mesa

O BARROCAS

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Por ocasião de uma passagem por Alcácer do Sal, resolvi experimentar um restaurante que me havia sido recomendado por pessoa amiga. Tratava-se da Tasca do Barrocas, estabelecimento que fazia juz ao seu nome.

O jantar teve tudo para correr mal. Não havia lugar fora, na esplanada virada para o rio Sado. Foi uma complicação para escolherem uma das 4 mesas vagas para nos sentarem, queriam que esperássemos pelo patrão, o tal Barrocas. Patrão esse que estava sentado num banco da rua ao telemóvel. Depois de esperarmos em pé, resolvemos sentar-nos numa qualquer, à revelia da entidade patronal. Estava um calor das arábias, mas havia um aparelho de ar condicionado que pedi para ligarem. O patrão, entretanto regressado às lides laborais, ligou-o, enquanto refilava qualquer coisa que não entendi, mas que vim a perceber dez minutos mais tarde, quando algum fresco inicial esmoreceu e o aparelho começou a bufar calor. Inquirido o patrão, respondeu que «ele anda assim, passado um bocado cansa-se». Animismo aliado ao fatalismo, tudo bem português. Ao que apurei, o patrão faz o género «irreverente figura», opiniões desfiguradas.

A seguir, veio a fatal praga de melgas da região arrozeira. Tal como as espinhas dos pastéis de bacalhau, a mosquitada vem sempre para mim e faz-me num cristo.

Vieram perguntar o que queríamos comer. A carta é curta, consta de uns arrozes, uma canja de garoupa e umas carnes grelhadas. Veio o patrão logo avisando que seria melhor não escolhermos os arrozes «que a casa estava cheia e ia demorar muito tempo». Obedientes e humildes, escolhemos uma entrada de cogumelos e duas carnes, uma posta de vitela de origens não identificadas e um entrecosto de porco. Tudo acompanhado com batata chip, sequinha, mas não fresquíssima. A posta era agradável, e o entrecosto também. No fim veio um pudim, anunciado como de ovos, que não era desses mas também não era flan. Penso que seria com leite condensado.

Pratos principais entre os onze e os quinze euros, com doses não muito generosas, sobretudo no caso do entrecosto.

Apesar de tudo isto, acabei por sair de lá bem disposta, acho eu, porque lá entrei bem disposta. Achei graça à casa, ao ambiente familiar, à decoração, e, vejam lá, até ao patrão. Às vezes o que nos leva a gostar de um local tem mais a ver com o que levamos para lá do que com o que de lá trazemos...

 

 

 

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O balcão onde o patrão gosta de servir copinhos de branco.

 

 

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A posta de vitela

 

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O entrecosto

 

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A salada com um pormenor interessante: o tomate é servido sem a pele.

 

 

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O pudim

 

 

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 A irreverência do patrão no décor da casa, para desfigurar.