O PRIMEIRO BUCHO RAIANO
Cada vez me apercebo mais que a região das Beiras tem vindo a ser desvalorizada em termos gastronómicos. Uma dessas razões é a existência do bucho raiano, que consider superior ao butelo transmontano, também pela falta de cuidado com que este é atualmente comercializado.
O bucho raiano faz-se na raia sabugalense, em redor do rio Côa. É primo do butelo transmontano e de outros butielos do lado de lá da fronteira, todos eles exemplos do aproveitamento total do porquinho.
Estamos já no Outono e Outubro já é boa altura para o comer. Eu tive a sorte de ser convidada por amigos com origem no Soito para inaugurar a época buchenta.
Pela parte de fora, o bucho raiano é um estômago, palaio (intestino grosso) ou bexiga, que se recheia com as sobras dos enchidos nobres, sobretudo da cabeça, sendo bem visível a orelha, previamente temperadas com a habitual vinha de alhos. Os que eu comi estavam particularmente bem temperados, sem excessos de alho nem de colorau. O tamanho era o ideal, ao contrário dos butelos transmontanos, cuja generalidade hoje permanece demasiado grande e mal temperada, devido a uma grande recusa da mudança.
Levaram fumagem ligeira, nada de sobrecarga do fumo no sabor.
Enfim, estavam muito bem cozidos, levaram três horas de fervura lenta, bem envolvidos em saquinhos de pano atados. Ao lado, os habituais batatas cozidas e grelos.
Para beber, estivemos muito bem, graças a outro amigo que trouxe o vinho: Barão de Nelas Reserva de 2008. Um Dão que fez um casamento de amor com o bucho. Obrigada à Luísa, que me mimoseou com os dois.
O bucho e o queijo foram comprados nas Delícias da Quinta – Soito/Sabugal
Um grande companheiro do Dão.
Os buchos ensacadinhos a cozerem, a retirar-se o saco e depois de desensacados.
O belíssimo queijo de cabra também é das Delícias da Quinta