Ó QUE VALE A VIAGEM, VALE, A TABERNA Ó BALCÃO
A Taberna Ó Balcão vale a viagem de Lisboa a Santarém, e até a valia de bem mais longe. Rodrigo Castelo, o responsável pelo restaurante, consegue transformar a cozinha ribatejana numa refeição repleta de sabor, leve e memorável.
O nome do restaurante, apoiar-se-á provavelmente nas preferências petisqueiras dos ribatejanos, traduzidas no ror de tabernas que sempre existiu no Ribatejo. Por outro lado, a experiência de Rodrigo, um autodidacta, está também relacionada com a sua passagem como cozinheiro amador pelas tertúlias taurinas.
A cozinha ribatejana, ainda pouca divulgada, recebe a sul as influências alentejanas (o pão e o porco), enquanto mais a norte se identifica com as Beiras (o cabrito, o queijo), por vias da vizinhança e da presença sazonal dos gaibéus que a miséria obrigava ao trabalho rural nos campos ribatejanos e alentejanos. Vive muito do peixe do rio, barbos, sável e fataça. De original, tem a confecção dos peixes entre duas telhas canudo presas com arames. Para obviar à secura dos peixes, mas sobretudo para lhes emprestar o sabor salgado, é costume cobri-los com fatias de toucinho.
A cozinha de Rodrigo Castelo baseia-se sobretudo em produtos da região, mais do que em pratos, o que parece ser a abordagem mais correcta quando queremos manter viva a cozinha local, como é o caso do prato de fataça, apresentada sob a forma de filetes do lombo panados, acompanhados por um admirável tour de force: um arroz de berbigão de rio, habitualmente pouco saboroso, mas que Rodrigo transforma num saborido acompanhamento.
Coelho de escabeche
Sopa de peixes do rio
Torricado de cachaço de bacalhau
Filetes de fataça com arroz de berbigão do rio
Sopa de ossos
As entradas revelaram mão de mestre. As codornizes bem temperadas, mas sem a imposição de travos como alho ou o vinho. Os croquetes de touro com mostarda valem por si só a viagem. Estou a pensar lá ir comer uns tantos e mais nada, talvez só com um arrozinho.
Depois há a Sopa de Peixe de Rio com Ovas, o Torricado de Cachaço de Bacalhau, mas sobretudo uma inolvidável Sopa de Ossos. Esta é de não falhar.
A acompanhar, claro, vinhos do Cartaxo, que percorreram um longo caminho. Gostei especialmente do Bridão Reserva Tinto, que acompanhou um ensopado de borrego.
A casa já vai com mais de um ano e meio, que Deus a conserve. Parabéns ao Rodrigo Castelo pelo modo como sabe intervir sobre as raízes ribatejanas, respeitando-as, um equilíbrio sempre difícil.
Taberna Ó Balcão
Rua Pedro Santarém nº 23
2000-223 Santarém
tel. 243055883
Fecha ao Domingo
Nota 1: Obrigada ao Rui Barradas Pereira pelas fotos.
Nota 2: Para quem queira saber mais sobre a cozinha ribatejana, aconselho o livro Coruche à Mesa e Outros Manjares, de José Labaredas (Assírio & Alvim).