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Conversas à Mesa

POSTAIS DE UM CRUZEIRO NA OCEANIA 1

 

 

 

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Um cruzeiro é uma espécie de menu de degustação viageiro. Navega-se durante a noite e acorda-se de manhã num novo local que apenas temos a oportunidade de provar, já que apenas lá nos quedamos durante um dia. Ou seja, saboreia-se o local sem verdadeiramente o comer. 
Sempre quis conhecer a Austrália. Já que ia viajar para tão longe decidi ficar um mês pelos antíppdas, no Downunder, e conhecer também a Nova Zelândia e a Tasmânia através de um cruzeiro. E foi assim que embarquei num navio da Holland. 
Fazer Checkin num navio é bem mais moroso que num avião. Ao longo do processo fui-me apercebendo que a média de idades dos meus companheiros de viagem rondava os 80 anos, tudo gente destemida que encarava de frente o coronovirus...Muitos deles viajam com ajudas técnicas que vão da bengala à cadeira de rodas, passando pelo andarilho.  Consequentemente as atividades no navio estão planeadas para a provecta idade: das aulas de tricô, esticar a coluna sem estalar nenhum outro osso, colocar uma foto no FB ou jogar bingo com cartões em que os números são de tamanho gigante são extremamente populares. Os meus colegas são tão antigos que os quiz sobre filmes só contemplam perguntas até à década de 70. A complementar está lista de esgotantes actividades destacam-se duas, em torno das quais se organiza o tempo: comer e beber. 
O refeitório do navio está sempre aberto e tem sempre gente, tudo pronto para satisfazer eventuais laricas entre as refeições secundárias tomadas entre as principais. O síndroma do bufete ataca em grande, visível nos pratos de cocoruto em que convivem desarmoniosamente alimentos dificilmente identificáveis. Perde-se o género e a hierarquia dos alimentos e miscigenizam-se peixes e carnes, doces e salgados e o omnipresente pão sob diversas formas, numa moderna e desconchavada fusão.  Mas nem tudo é comida, claro que há também a bebida. De manhã cedo, o exercício começa com os baldes de cerveja para passar ao princípio da tarde para os coquetéis coloridos, com predominância do turquesa e rosa. Logo a seguir chega o serious business dos spirits e a happy hour em que se paga uma e se bebem duas. 
E eu com que me entretenho? A esquecer o tempo. De manhã calço os ténis e palmilho o barco andando à roda e à roda no deck mais junto ao mar, lindamente chamado Promenade, a apanhar o vento marinho nas belfinhas. Está a começar a arrefecer à medida que navegamos mais para sul. Apanho sol nas espreguiçadeiras do deck e espero pelas refeições. Penso em vós e escrevo posts como este. Bebo copos de Pinot Noir e visto-me a rigor para o jantar do comamdante, um holandês bem nutrido e bem disposto. 
Amanhã desembarco em Melbourne e volto aqui para vos contar. Fiquem bem que eu vou comer qualquer coisa que já la vão dez minutos que degluti o gelado. 

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